Setenta crianças, de zero a quatro anos incompletos, estão sem atendimento no CCI (Centro de Convivência Infantil) Acalanto, no Jardim Aeroporto II, desde segunda-feira. Um comunicado no portão avisou que as atividades ficarão suspensas de 14 a 18 de maio. O fechamento, segundo a Secretaria de Educação e familiares das crianças, ocorreu porque os funcionários estavam sendo ameaçados de morte pelo pai de uma criança que era atendida na instituição e morreu há um mês e meio. O pai, revoltado com a morte da filha, estaria culpando a creche.
A avó de uma menina de dois anos e nove meses, que pediu para não ser identificada, disse que o autor das ameaças estaria com problemas psicológicos. “Ele tinha perdido a mãe e logo a filha morreu. Ele teve um surto, ameaçando as educadoras da creche. Isso não justifica agredir as crianças ou educadoras, mas ele precisa mesmo de tratamento.”
A secretária de Educação, Leila Haddad, disse que foi comunicada sobre a suspensão do atendimento na Creche Acalanto na segunda-feira. Leila confirmou a versão dada pelos pais e disse que o pai da menina realmente culpa a creche da morte da filha. “A creche não tem culpa. Pelo que as funcionárias disseram, a mãe levou a criança com febre para a creche e elas alertaram para voltar para casa, mas a mãe alegou que precisava trabalhar. Às onze horas, a febre aumentou e as funcionárias pediram para a mãe buscar a criança, que acabou falecendo no fim da tarde, no hospital.” A secretária não sabe a causa da morte. O caso está sendo investigado pela DDM (Delegacia de Defesa da Mulher). “A apuração está avançada e a creche não tem ligação com a morte da menina”, disse a delegada Graciela Ambrósio.
A secretária de Educação e os pais disseram que no fim da semana passada o pai da criança morta esteve na porta da creche armado com revólver e ameaçou as funcionárias. Doze pessoas trabalham na instituição. A Polícia Militar foi acionada e teria feito a escolta delas para que pudessem deixar a unidade.
Segundo o delegado Dalmo Polo, do 4º Distrito Policial, que abrange o Jardim Aeroporto II, foi registrado um boletim de ocorrência de ameaça contra o pai no dia 10 de maio e como as vítimas eram mulheres, o caso foi remetido para a DDM.
A delegada Graciela disse que a ocorrência foi repassada para a DIG (Delegacia de Investigações Gerais), mas o delegado titular Márcio Murari disse ontem que não recebeu o caso ainda. O delegado seccional Marcelo Caleiro não foi encontrado ontem para comentar o assunto.
O autor das ameaças responde a processo na Justiça acusado de ter assassinado um jovem em 2008.
PROVIDÊNCIAS
Ontem de manhã, as portas e janelas da creche estavam fechadas e não havia qualquer movimentação no local. Procurados por telefone, os diretores se recusaram a fornecer informações e pediram para que a Secretaria de Educação fosse ouvida. A unidade é uma das 42 conveniadas da Prefeitura e administrada pela Associação Acalanto, que tem autonomia para tomar decisões, como a do fechamento por uma semana.
A secretária de Educação, Leila Haddad, disse que acionou a Polícia Civil e Secretaria Municipal de Segurança e Cidadania em busca de soluções. “Vamos ajudá-los a resolver tudo, porque estamos muito preocupados com as crianças e funcionários. São 70 famílias tendo prejuízos com o fechamento da creche, até faltando do emprego.”
Uma reunião com as autoridades deve acontecer entre hoje e amanhã para estudar se é possível reabrir a unidade na semana que vem. “Já estávamos fazendo escolta na porta da creche, mas vou entrar em contato com a Polícia Civil para definirmos novas ações”, disse o secretário de Segurança, Sérgio Buranelli.
A conselheira tutelar Gláucia Limonti informou que o Conselho ainda não foi comunicado sobre o fechamento da Creche Acalanto nesta semana, mas se receber reclamações dos pais poderá acionar a Secretaria de Educação para encaminhar as crianças para outra unidade.