“Chora, chora, chora, Carolina. Esse choro é bom de chorar. Canta, canta, canta, Carolina. Quando tem vontade de cantar”. A música sertaneja no último volume. Garçons com as bandejas cheias de cervejas trincando correndo de um lado para o outro a todo momento. Mesas e cadeiras de plástico espalhadas no terreno de pedra brita. Mais de mil pessoas reunidas. No Espetinho do Jacaré, na saída para Restinga, às quintas-feiras, o espetinho propriamente dito é o que menos interessa. A atração principal na noite é mesmo a “azaração”.
A ideia de combinar música ao vivo com espetinho surgiu há dois anos como forma de atrair mais clientes, conta o dono do estabelecimento, o ex-mototaxista Ronaldo Marques de Oliveira, o Jacaré. “Em Franca, existe um espetinho a cada esquina. Precisava oferecer algo diferente para trazer os clientes para cá. Apostei na música ao vivo.”
A iniciativa deu certo. O negócio que começou tímido num terreno de pouco mais de 10 metros quadrados hoje praticamente triplicou de tamanho e reúne o maior público dos espetinhos da cidade. “Somos um point. Toda quinta-feira mais de mil pessoas passam por aqui”.
A casa cobra ingresso: R$ 5 para homens e R$ 3 para mulheres. Oferece em média dois shows por noite. Às quintas, é proibida a entrada de menores, mesmo acompanhados pelos pais ou responsáveis.
Como o Jacaré, muitas casas de espetinho em Franca buscam algum diferencial para fugir da concorrência, que é cada vez maior e está em cada açougue, supermercado, esquina e até garagem do Centro ou da periferia. A cidade “importou” a paixão pelos espetinhos há cerca de 15 anos e, desde então, esse mercado só cresceu (leia texto na página seguinte).
No mercado há quatro anos, a Venda du Santi resolveu oferecer brinquedos para as crianças. “Colocamos escorregador e pula-pula para distrair as crianças enquanto seus pais ficam aqui. É uma forma de agradar nossos clientes e oferecer mais conforto”, conta a gerente da casa, Sabrina Leão Garcia.
Recentemente, a Santi lançou duas novidades: instalou um supertelão para a transmissão de jogos de futebol às quartas-feiras e criou um prato pronto conhecido como jantinha. “É uma espécie de prato feito que vem com arroz, mandioca cozida, vinagrete, feijão tropeiro e um espetinho. É uma janta para as pessoas que querem comer comida de verdade fora de hora, de madrugada.” O prato custa R$ 7 e tem sido muito bem aceito.
Os dias de maior movimento na Santi são as quartas, sextas e sábados. “Quando a casa está cheia, chegamos a reunir mais de 300 pessoas”, conta Sabrina. A Venda du Santi fica na avenida Antônio Barbosa Filho.
TORRE DE CHOPE
Um dos espetinhos mais tradicionais de Franca, o Espetinho do Marquinho, no bairro Santa Rita, é hoje conhecido por sua torre de chope gelado no happy hour. Logo depois das 17 horas, a calçada em frente ao espetinho fica lotada.
“Começamos servindo cerveja. Mas decidi substituir por chope e foi o maior sucesso. Hoje estamos vendendo 200 litros por semana. A ideia é ampliar ainda mais este montante neste novo ano, a ponto de não termos mais que trabalhar com cervejas”, disse o dono do estabelecimento, Marcos Roberto Souza.
Ele montou o espetinho há dois anos, depois de trabalhar como açougueiro por dez anos. “Esse não é um ramo fácil. Temos sempre que oferecer alguma novidade. Algum diferencial para nos manter na frente.” Além da torre de chope, Marquinho, como é conhecido, ainda oferece aos clientes serviço de internet gratuito e acaba de lançar um novo prato, a costela na telha. Assada com papel alumínio em telha, a costela depois é picada e misturada à mandioca e a quatro tipos de queijos (mussarela, requeijão, cheddar, provolone). O prato para quatro pessoas custa R$ 26,90.
GALINHADA
Há sete anos, Marcelo Matos montou seu espetinho no Jardim Petráglia, próximo da Apae. Com o aumento da concorrência, seu movimento começou a cair, principalmente às quartas-feiras. Para reverter esse quadro, neste ano, ele resolveu criar uma noite diferente: construiu um fogão à lenha ao lado da churrasqueira e agora serve galinhada toda quarta-feira. A casa oferece arroz, tutu de feijão, polenta, galinha caipira e quiabo à vontade por R$ 14 por pessoa, sempre a partir das 20 horas.
“Meu movimento cresceu 40%. Tem família que vem aqui e leva até para casa. Deu supercerto.”
Diferente dos demais, o Cio da Terra tem um clima mais sofisticado. Não há nada de madeira, plástico ou que lembre música sertaneja. Comandada por Angelo Giuseppe Faleiros, a casa, que fica na avenida Major Nicácio, se destaca pela decoração mais elaborada.
“Tudo aqui é diferente. Nossos espetinhos são de inox. Nossa carne é embalada a vácuo. Pesamos e temperamos só na hora que o cliente pede. Tudo aqui é feito na hora.”
Colaborou Dirceu Garcia