Com a graça de Deus estamos vivendo mais um ‘domingo’, o dia do Senhor. Os cristãos se reúnem para ouvir a Palavra de Deus que é vida e verdade e os cristãos-católicos celebram a Eucaristia, na qual se alimentam da Palavra e do Corpo de Cristo
A Palavra proclamada neste domingo traz, o tema da Vinha. É uma parábola comum ao Antigo e ao Novo Testamento, onde os profetas e Jesus se serviram para falar do amor de Deus e da ingratidão do ser humano. Vejamos o que Deus quer nos ensinar: Primeira Leitura: Is 5
A leitura apresenta a história de uma vinha. Isaías faz de conta que é amigo de um agricultor que tem uma vinha à qual o dono aprecia muito; em todos os lugares e com todas as pessoas que encontra, não fala de outra coisa senão da sua vinha. Parece alguém “apaixonado” pela sua namorada. Isso tudo se dá assim porque foi plantada com videiras escolhidas, de cepas nobres, vigorosas, que ele importou do exterior e que lhe custavam muito dinheiro.
Ela foi plantada também num lugar especial, na encosta de uma colina, onde o sol brilha intensamente. Os cachos, quando amadurecerem terão a típica cor roxa, sinal de uma uva de primeira qualidade, que dará um vinho de bom paladar e forte. O terreno foi muito bem preparado.
Passam-se dois anos, chega o tempo da primeira vindima e eis que há decepção muito grande; o tão apreciado vinhedo produziu somente uva ácida, amarga e intragável. Seus vizinhos riem e zombam dele. Sente-se traído e o seu grande amor transforma-se em ódio.
Perigo
Essa parábola tem um sentido simbólico: o senhor é Deus; as videiras selecionadas são os israelitas que o Senhor buscou no Egito; a terra fértil é a Palestina; as pedras removidas eram os povos que ocupavam a Palestina; os frutos eram as obras que Deus esperava encontrar em seu povo.
Os frutos colhidos (azedos) foram os pecados, as infidelidades, o ódio, o derramamento de sangue, as mentiras, etc. Fica bem claro que Deus sempre executa gestos de amor e o povo respondeu com maldade.
A leitura nos alerta para um perigo que corremos: ter uma religião superficial sem gestos concretos de amor. Deus não se satisfaz com sacrifícios, cânticos e orações devotas. Ele busca colher os frutos da sinceridade no nosso coração.
Segunda Leitura: Filipenses 4
O texto da segunda leitura traça um itinerário para que o cristão possa ter uma vida prática, concreta como fruto de seu relacionamento com Deus. Primeiramente diz: “Não vos preocupeis com coisa alguma”. Isso não significa ser irresponsáveis nas tarefas, nas atribuições, nas profissões, nos relacionamentos familiares, etc., e sim que as preocupações com o cotidiano não devem tomar demasiado espaço em nossa vida. Quanto mais se confia em Deus, tanto mais os pensamentos ficam livres de aflições e ansiedades.
Em seguida, após depositarmos nossas dificuldades nas mãos de Deus, então já não estaremos tão estressados como antes e poderemos saborear “a paz que supera todo entendimento”. Sentimos paz não porque a situação foi revolvida, mas porque ela já não nos sufoca – afinal, somos a vinha bem cuidada de Deus.
E como nossa mente já não está sobrecarregada com preocupações e ansiedades, então podemos nos ocupar com o que é essencial: levar uma vida exemplar no mundo (dar testemunho), sendo verdadeiros, sabendo respeitar a dignidade do outro, sendo amáveis, sendo puros, enfim, praticando as virtudes.
Evangelho: São Mateus 21
No trecho de hoje Jesus se serve de uma comparação semelhante àquela que é comparada por Isaías na primeira leitura: fala de uma vinha embora de modo muito diferente. O evangelho quer ressaltar a importância dos líderes religiosos no exercício de sua missão na comunidade: cuidar da vinha. O cultivo da vinha exige muita dedicação, porque ela representa freqüentemente os escolhidos de Deus, que são muito valiosos para ele. O dono da vinha esteve distante até o tempo em que ela deveria dar frutos e a confiou a ‘empregados’. Jesus está dizendo a seus interlocutores que eles são apenas servos de Deus, que a função deles é entregar os frutos para o verdadeiro dono, mas eles quiseram fazer as coisas do jeito deles.
Os servos quiseram a parte que pertencia a Deus. Mas somente o Senhor tem a última palavra na condução do povo. E somente a Deus pertence o louvor, não aos líderes religiosos. Essa realidade criticada pelo evangelho está presente na Igreja em todos os tempos, porque o ser humano é sempre tentado a usurpar o lugar de Deus.
Somos apenas servos na vinha do Senhor e o único herdeiro é Jesus. Ele é o caminho a ser seguido não somente pelos líderes religiosos, mas por todos os cristãos que queiram realizar na sua vida a vocação humana e cristã: ser para Deus.
José Geraldo Segantin
Pároco da Catedral de Franca - segantin@comerciodafranca.com.br