20 de dezembro de 2025

Crack vira praga entre crianças e jovens de Franca


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INFÂNCIA PERDIDA - João (nome fictício) mostra as mãos marcadas pelo uso frequente de crack. Garoto começou a consumir maconha com apenas 7 anos de idade, viciou em cocaína e hoje não consegue passar um dia sem o crack

Três casos registrados em Franca neste ano chocam e servem de alerta. Um menino de 8 anos, do Jardim Dermínio, precisou ser atendido pelo Conselho Tutelar por ser viciado em crack. No bairro vizinho, na Vila São Sebastião, um adolescente de 13 anos foi flagrado vendendo maconha, crack e cocaína. Dois jovens de 14 e 16 anos foram surpreendidos no Jardim Seminário comercializando mais de 30 pedras de crack. Esses tipos de ocorrências têm se tornado rotina. Não existem estatísticas oficiais, mas nove instituições que lidam com menores em Franca confirmaram que o consumo de crack entre eles está se alastrando. O alto poder de dependência, o fácil acesso e preço baixo em relação aos outros tipos de entorpecentes são os maiores atrativos.


Segundo o psiquiatra Pablo Roig, especialista no tratamento de dependentes, o número de usuários de crack hoje no Brasil gira em torno de 1,2 milhão e a idade para início do uso da droga é 13 anos. Em Franca, o caso do menino de 8 anos viciado em crack não foi isolado. Lucas Verzola é conselheiro tutelar há oito anos e estima que, dos cinco casos que atende por semana de menores viciados, dois têm ligação com crack. No Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), o álcool e crack são os tipos mais consumidos. “A dependência predomina entre meninos de 15 e 16 anos. Se o filho não é usuário, tem algum dependente na família”, disse a coordenadora do Creas Maria Inês Coimbra.


Eliana Justino, presidente do Proreavi (Programa de Restauração de Vida), trabalha desde 1996 com recuperação de dependentes químicos e afirma que o consumo de crack cresceu. Antes era comum atender jovens entre 18 e 20 anos e hoje ela se depara até com crianças dependentes. “É uma droga barata, de fácil acesso. Em qualquer esquina, você compra”.


Com experiência no atendimento a mulheres viciadas, Maurício Maniglia, coordenador da Amafem (Associação Mão Amiga de Amparo Feminino), também percebe mudanças no perfil dos usuários. “O crack vem se alastrando de maneira incontrolável. Antes os traficantes não vendiam essa droga porque perdiam logo o cliente, que morria ou sofria alguma intervenção de alguém para impedir que continuasse usando. Hoje eles não pensam assim porque tem tanta gente usando que perder um ou outro não tem importância”.


Quase a totalidade das pessoas que tem procurado o Narev (Núcleo de Apoio e Recuperação da Vida) para se tratar contra as drogas tem envolvimento com crack. “De sete a oito pessoas procuram a entidade para tratamento por semana e é raro uma que não esteja envolvida com crack”, disse Luís Carlos de Carvalho.


PERIGO
O secretário de Saúde, Alexandre Ferreira, disse que os usuários buscam por drogas com efeito rápido, potente e que sejam baratas e encontram essa combinação no crack. “É mais barato que a cocaína pura. O crack causa uma vontade intensa pela droga e a pessoa não consegue por limite”. No Caps (Centro de Atenção Psicossocial), 190 usuários estão em tratamento; o mais novo tem 14 anos.


Em Franca, outra preocupação com o consumo de drogas por crianças e adolescentes é no momento em que resolvem se tratar. As fazendas de recuperação não costumam aceitar menores, exceto por determinação judicial.

Para tentar resolver o problema, as autoridades buscam parcerias para montar uma instituição exclusiva para menores. “O tratamento tem de ser formatado de maneira diferente. Temos o plano de trabalho pronto e buscamos parcerias”, disse Maurício Maniglia, da Amafem. Nesta semana, o governo federal lançou um programa para combater o crack e outras drogas. O investimento será de R$ 410 milhões em campanhas de combate ao tráfico, tratamento dos dependentes e prevenção.