Personagem marcante do carnaval de Batatais e figura folclórica da cidade, o intérprete de samba Valdir Pereira, 42, conhecido como Jamelão, morreu na tarde da última segunda-feira na Santa Casa daquela cidade, após dois dias de internação em função de crise alcoólica aguda.
Jamelão era muito querido. Ganhou notoriedade quando em 1989, aos 21 anos, substituiu às pressas o intérprete oficial da escola Acadêmicos do Samba, que havia sofrido um enfarte. As duas notas 10 obtidas ajudaram a escola a conquistar o tricampeonato com o enredo “Clara Nunes”, último título alcançado pela agremiação.
Nos últimos carnavais ele se destacava no grupo de intérpretes da Império do Samba como “caco” – espécie de animador do público –, começando as apresentações com seu típico grito de guerra: “canta, canta, canta, Império”. Em 2010 levou seu grito para a Unidos da Fiel, agremiação formada por dissidentes da Império.
Era comum pessoas frequentarem os ensaios e eventos pré-carnavalescos para conferir de perto o desempenho do sambista. Jamelão era dependente alcoólico, no entanto, quando o Carnaval se aproximava, entrava em um período de abstinência para ficar pronto para a festa, sua grande e talvez única paixão.
Passado o período do Carnaval, ele voltava a passear pelas ruas, cumprimentando a todos (frequentemente pelo nome), abraçando e cantarolando sua músicas preferidas, incluindo as de difícil entonação como “Kizomba - A festa da raça”, samba antológico da carioca Unidos de Vila Isabel, em 1988.
Jamelão impressionava por saber de cor uma extensa lista de sambas de enredo, seus intérpretes originais e época em que fizeram sucesso, mas tinha afeição especial pela Estação Primeira de Mangueira (do Rio de Janeiro), agremiação do Jamelão “original”, ídolo que lhe emprestava o apelido.
Tanto carisma e vontade contínua de alegrar o ambiente onde estivesse fez com que ganhasse até uma comunidade em um site de relacionamento (Orkut) com mais de 1,5 mil participantes.
Criado na antiga Febem (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor) de Batatais, não tinha família e vivia em praças, centros comunitários e ruas da cidade. Também sem mulher ou filhos, recebia ajuda dos mais variados segmentos sociais – chegou a ganhar um apartamento mobiliado da diretoria do Acadêmicos do Samba em 1989 –, mas o alcoolismo o impossibilitou de usufruir. Para sobreviver, tinha o hábito de buscar café-da-manhã, almoço e jantar em diferentes residências de pessoas solidárias.
Seu enterro reuniu sambistas dos últimos e dos antigos carnavais, políticos, empresários e toda a imprensa local. Os pavilhões das escolas de samba Império do Samba e Unidos da Fiel cobriram o caixão durante todo o velório.
Sob muitos aplausos o corpo de Jamelão foi enterrado às 10 horas de terça-feira (18), no Cemitério Paroquial Bom Jesus.