“Viajar é descobrir que todo mundo está errado sobre os outros países”
Aldous Huxley, escritor inglês
O preço é convidativo. O pretexto, excelente. A companhia, sempre entusiasmada. O período do ano, favorabilíssimo. O destino, excitante. Por todas essas razões, e por muitos outras, tive o privilégio de pelo segundo ano consecutivo visitar os Estados Unidos em companhia de pessoas queridas aqui do GCN Comunicação. Oficialmente, fomos participar de mais uma edição do NAB Show, o congresso que reúne em Las Vegas, sempre em abril, o que de mais avançado existe em tecnologia para emissoras de rádio e TV de todo o mundo.
Viajamos no último dia 9 de abril. Fui acompanhado por Dulce Xavier, diretora administrativa do GCN Comunicação; Joelma Ospedal, chefe de redação do Comércio; Beatriz Ávila, supervisora comercial. E Everton Lima, diretor artístico da Difusora e um homem de sorte. Muita sorte. Éverton não deveria fazer parte do grupo. Não por mérito, já que é um grande profissional, um amigo especial e ótima companhia. Mas havia outros que também mereciam ir. No caso específico, a diretora jurídica do GCN, Milena Toledo, minha mulher. Durante meses Milena participou das reuniões preparatórias, ajudou a escolher passeios, opiniou sobre os espetáculos. Mas, em novembro, descobrimos sua gravidez. Seremos pais de um menino, João, que nasce em julho. Milena ficou. Vai no ano que vem. Éverton era o único no GCN com disponibilidade e visto válido para os Estados Unidos. Ganhou assento na viagem. E brindou muito, entre uma beer e outra, à saúde de meu filho. “Viva o João”, repetia à exaustão. E tome cerveja.
Na prática, nossas viagens têm transcendido, e muito, o que nasceu apenas como desejo de participar de mais um congresso com direito a uma esticada de alguns dias pelos Estados Unidos. Converteram-se, felizmente, em bem-sucedidas experiências que incluem a visita a lugares históricos fundamentais para jornalistas, radialistas e quaisquer profissionais de comunicação - Nova Iorque e a Times Square, Wall Street, 5ª Avenida, Central Park, Broadway, o Metropolitan; Soho, Village, Brooklyn Bridge, o Ground Zero, onde ficavam as torres gêmeas do World Trade Center; Washington e a Casa Branca, o Congresso, o Memorial de Lincoln, o cemitério de Arlington, Georgetown; no Arizona, o Grand Canyon e a Route 66.
E, claro, Las Vegas, um lugar onde tudo é superlativo. A começar, pelo número de hotéis. No total, são quase 170 mil quartos distribuídos em mais de 100 hotéis-cassinos. Dos 20 maiores do mundo, 15 estão localizados ali. O maior de todos, o MGM Grand, oferece 5034 quartos num único prédio. Como cada quarto comporta quatro pessoas, é possível hospedar a população inteira de Restinga, Cristais e Rifaina só neste hotel. E ainda sobra quarto disponível. O Paris, onde ficamos hospedados, tem precisas 2946 habitações, localizadas ao lado de uma réplica da Torre Eiffel. No imenso lobby, construído como se fosse um trecho do charmoso bairro de S. Germain-de-Prés, na capital francesa, há cassino, bares, restaurantes, conveniências, lanchonetes e muitas, muitas lojas. É tudo over, mas nada cafona.
Vegas é uma Disney para adultos, no melhor sentido da analogia. São milhares de restaurantes, centenas de casas de shows, boates e uma infinidade de bares. Não importa o dia da semana, sempre há algo de muito interessante a fazer. Na semana em que nos encontrávamos ali havia shows de Cher, Garth Brooks, Barry Manilow, sete espetáculos diferentes do Cirque de Soleil, corrida da Nascar, rodeio, vale-tudo, o magistral Le Rêve - espetáculo ao estilo Soleil só que num palco montado sobre piscinas, incrível indicação de Helinho Rubens - e centenas de opções menos conhecidas. Tudo ao mesmo tempo e, ainda, com uma vantagem adicional: as coisas por lá são proporcionalmente muito mais baratas do que em qualquer outra parte do mundo. Não há mágica. Com tanta oferta, é preciso encher os lugares para justificar a operação e atrair gente para os cassinos. Assim, as coisas ficam mais acessíveis.
Um bom exemplo é o restaurante Picasso, soberbo, instalado no hotel Bellaggio, aquele do balé das águas que aparece no filme Onze Homens e um Segredo. O lugar é lindo, decorado com telas originais de Pablo Picasso. A comida, francesa, tem five diamonds (a classificação máxima nos Estados Unidos, equivalente às três estrelas do guia Michelin) e é fantástica. Uma noite memorável como esta custa bem menos do que um similar restaurante paulistano. É um sonho. Mas no meio do sonho, quase sempre há o que nos puxe de volta à realidade.
A primeira vez que Everton demonstrou sua habilidade de nos trazer de volta a Franca em instantes foi no meio do tal jantar, no nosso segundo dia em Vegas. Éverton se deleitava com seu prato, um filé ao molho de mostarda executado com maestria. A esta altura, a entrada, composta por caesar salad (alface picada com croutons e maionese) e escargot (a lesma convertida em iguaria pelos franceses) já era etapa vencida e nos concentrávamos nos pratos principais. Joelma estava emocionada. Dulce e Bia regojizavam-se com a experiência. E Everton, do nada, nos trouxe direto de volta a Franca, sem escalas, vencendo 11 mil quilômetros e 17 horas de vôo em dois segundos. “Gente, como é que eu vou fazer para explicar para o Clarindo como é feito este grugumilo?”.
Ninguém entendeu nada. Éverton ria. E continuava. “Gente, este grugumilo não tem no Clarindo... Como é que a gente faz quando voltar?”. Caímos na risada. E Everton passou o resto da noite, entre uma garfada numa cheesecake (torta de queijo servida como sobremesa) e um gole de expresso, contando sua afetiva relação com Clarindo, o dono do boteco que frequenta todas as semanas aqui no Redentor, em Franca. E a partir daí, sem que estivesse conosco de corpo presente, Clarindo se incorporou ao grupo, acompanhando-nos pelos Estados Unidos. Se a gente entrava numa lanchonete e pedia um sanduíche qualquer, lá vinha o Éverton querendo saber detalhes do prato para contar para o Clarindo. E de todos, o preferido por ele foi o lanche de Pastrami (uma carne defumada e cozida no vapor que é fatiada e servida num pão com mostarda), comida judáica típica de NY. Everton queria porque queria dar um jeito de trazer o lanche para o Clarindo.
Não deu. Mas marcamos para a próxima semana uma reunião da rádio lá no Redentor. Não sei direito o que esperar dos grugumilos (sempre queijo mineiro e bissextamente, umas polpetas de tempero peculiar) do Clarindo, mas o Éverton garante que a beer, por ali, é gelada. E, com bons companheiros e as lembranças que trouxemos conosco, o grugumilo a gente improvisa. A diversão - e a emoção - são certas.
CORRÊA NEVES JÚNIOR
é diretor-responsável do Comércio da Franca jrneves@comerciodafranca.com.br