ECONOMIA

Bolsa tem pior primeiro trimestre desde 2020

O começo deste ano também foi o quarto pior primeiro trimestre desde 1995, primeiro ano após o Plano Real.

Por Renato Carvalho | 31/03/2023 | Tempo de leitura: 5 min
da Folhapress

Reprodução/Sigmund/Unsplash

Os últimos meses foram marcados por muitas turbulências e oscilações.
Os últimos meses foram marcados por muitas turbulências e oscilações.

A Bolsa registrou nesse início de 2023 o pior primeiro trimestre desde 2020, quando a pandemia chegou ao país. O começo deste ano também foi o quarto pior primeiro trimestre desde 1995, primeiro ano após o Plano Real.

Os últimos meses foram marcados por muitas turbulências e oscilações, com o Ibovespa perto de 115 mil pontos em janeiro, mas chegando ao final de março na casa dos 101 mil pontos.

O Ibovespa acumulou queda de 7,1% entre janeiro e março deste ano. Desde 1995, o pior primeiro trimestre para o índice foi o de 2020, ano que marca a chegada da pandemia de Covid-19 aos países do Ocidente. Naquele período, a queda foi de quase 37%, segundo levantamento da plataforma TradeMap.

Ainda segundo o levantamento, a segunda pior queda foi registrada em 1995, de quase 32%. No primeiro trimestre de 2013, o recuo foi de 7,55%.

O câmbio seguiu a tendência internacional, onde os mercados tiveram desempenhos mais positivos. O dólar caiu 2,9% em relação ao real no primeiro trimestre. Depois de atingir o patamar de R$ 5,45 logo no início de janeiro, com as incertezas em relação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a cotação fechou o trimestre a R$ 5,06.

No mercado de juros, também houve muita oscilação. Mas em relação ao final de 2022, houve queda tanto nos vencimentos mais curtos quanto nos mais longos.

Nos contratos para janeiro de 2025, a taxa passou de 12,66% ao ano no dia 29 de dezembro de 2022 para 12,01% nesta sexta-feira (31). Para janeiro de 2029, o recuo foi mais modesto, de 12,66% para 12,51%. Mas nos dois vencimentos, as taxas chegaram a se aproximar de 13,50%.

Na visão de analistas, a Bolsa sentiu mais os ruídos provocados pelas críticas do presidente Lula ao BC (Banco Central), e as incertezas sobre as novas regras fiscais. Dois temas que pautaram boa parte das decisões dos investidores no período.

Para Rodrigo Moliterno, diretor de Renda Variável da Veedha Investimentos, o ano começou com uma conjunção de boas notícias vindas do exterior, como a reabertura da economia chinesa e a desaceleração da inflação nos Estados Unidos, com uma espécie de "lua de mel" inicial com o novo governo que tomava posse no Brasil.

"Esse cenário ajudou muito especialmente as empresas de commodities, que têm um peso grande no Ibovespa", afirma Moliterno. Em janeiro, o Ibovespa chegou próximo de atingir os 115 mil pontos.

Segundo o analista, fevereiro foi marcado como o mês da "tempestade perfeita". Ele lembra que os dados mostraram uma aceleração da inflação nos EUA em janeiro, e o mercado começou a questionar a política fiscal do novo governo, enquanto Lula iniciava um ciclo de críticas direcionadas ao Banco Central, por conta da taxa de juros elevada.

Para Leonardo Piovesan, analista da Quantzed, a forma de comunicação do governo sobre a política fiscal fez com que os juros subissem em vários momentos do trimestre. "Isso acaba prejudicando muito a Bolsa", afirma.

Piovesan lembra que o índice Small Caps, que reúne ações com menor liquidez que as listadas no Ibovespa, teve desempenho ainda pior no trimestre, com queda de 9,5%.

Werner Roger, sócio fundador e diretor de investimentos da Trígono Capital, afirma que os juros elevados têm levado algumas empresas a pedir recuperação judicial.

Para ele, isso tende a piorar, já que não há uma perspectiva de que a inflação volte para um patamar próximo da meta de 3% ao ano. "Eu já vejo essa convergência como um desafio até para 2024", afirma Roger.

O desempenho do Ibovespa ficou na contramão do que foi visto em Nova York. Fernando Bento, presidente e sócio da FMB Investimentos, ressalta que o índice S&P 500, que serve como parâmetro para o mercado brasileiro, subiu mais de 6% no trimestre, mesmo com bastante volatilidade.

"O Nasdaq foi ainda melhor, subiu mais de 16%. Isso é um efeito colateral positivo da crise bancária nos Estados Unidos, que deve restringir o crédito, e facilitar o controle da inflação, sem a necessidade de aumento muito intenso de juros", afirma Bento.

Março foi o mês em que as oscilações foram mais fortes para o Ibovespa. O índice começou o mês na faixa dos 104 mil pontos, e depois do comunicado divulgado pelo BC logo após a reunião sobre juros, chegou ao patamar mínimo do ano, abaixo dos 98 mil pontos.

A recuperação logo depois, com uma sequência de cinco altas que durou até a última quinta-feira (30), quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou as novas regras fiscais. A Bolsa subiu quase 2%. Mas nesta sexta-feira (31), os ganhos da vésperas foram praticamente zerados, com o Ibovespa fechando aos 101.882 pontos.

Entre as ações, o grande destaque positivo ficou com a ordinária da Embraer. "A empresa realizou mudanças profundas em 2022, e entregou projeções muito otimistas para 2023", afirma Piovesan, da Quantzed.

Todos os analistas destacam o caso Americanas. A ação ordinária da varejista perdeu quase 90% do seu valor desde o anúncio das inconsistências contábeis, em janeiro, que tiveram como consequência um pedido de recuperação judicial de R$ 40 bilhões.

A ação da Americanas foi retirada do Ibovespa ainda em janeiro. Entre as ações que continuam no índice, o pior desempenho do trimestre ficou com a ordinária da Hapvida, que caiu mais de 48%.

Boa parte desta queda ficou concentrada logo após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2022, quando a empresa apresentou prejuízo superior a R$ 300 milhões. "A empresa tem problemas em sua estrutura de capital e está muito endividada", afirma Piovesan.

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