EVENTO

Sem projeto, Prefeitura de São Paulo gastará R$ 10 mi para metaverso na Virada

O poder público não detalhou, por exemplo, como as pessoas vão acessar o festival nessa realidade virtual, já que algumas plataformas exigem o uso de aparelhos específicos.

Por Matheus Rocha | 31/03/2023 | Tempo de leitura: 3 min
da Folhapress

Reprodução/Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo

A prefeitura diz que os detalhes serão anunciados depois que uma organização for contratada para elaborar o projeto.
A prefeitura diz que os detalhes serão anunciados depois que uma organização for contratada para elaborar o projeto.

A Prefeitura de São Paulo lançou um edital que prevê gastos de R$ 10 milhões para realizar parte das atividades da Virada Cultural no metaverso, realidade virtual em que as pessoas podem interagir por meio de avatares.

A reportagem pediu explicações sobre como o evento vai funcionar, mas a administração municipal não foi capaz de dar maiores detalhes. O poder público não detalhou, por exemplo, como as pessoas vão acessar o festival nessa realidade virtual, já que algumas plataformas exigem o uso de aparelhos específicos, nem se os shows presenciais serão transmitidos ao vivo no metaverso.

Em nota,  a prefeitura diz que os detalhes serão anunciados depois que uma organização for contratada para elaborar o projeto.

"As parametrizações e diretrizes são da própria entidade e não da administração pública. A liberdade na concepção do projeto, desde que respeitadas as premissas gerais do edital, permitirá ampliar o alcance e efetividade do projeto, em razão da variedade de ideias, de atividades a serem executadas no âmbito da Virada."

Segundo o edital, a organização da sociedade civil escolhida pelo poder público deverá desenvolver uma plataforma que tenha alta capacidade de receber o público, devendo ter conteúdo transmitido ao vivo em canais de streaming.

"As ações a serem realizadas pela organização parceira visam ampliar o debate sobre as novas possibilidades para os usuários/cidadãos interagirem com o mundo real e virtual", diz o documento.

De acordo com Diogo Cortiz, professor de design e inteligência artificial da PUC-SP, o edital é confuso e não especifica bem o que a prefeitura entende como metaverso.

"Não está claro se terá avatar nem se os usuários poderão interagir uns com os outros por meio deles." Outro ponto que ele considera problemático é o pouco tempo para desenvolver os projetos.

A prefeitura diz que o edital está com prazo de apresentação de propostas em aberto, mas o documento já define a data até 22 de abril, cerca de um mês antes do evento. O pesquisador diz que esse prazo não é viável para criar uma boa ferramenta. "É muito difícil em um mês fazer uma plataforma que tenha boa interação, experiência de uso adequada e que suporte o tráfego de pessoas."

As duas primeiras Viradas Culturais ocorreram em novembro de 2005 e maio de 2006 com o objetivo de democratizar o acesso à cultura e de ocupar a cidade, atraindo as pessoas para fora de suas casas, oferecendo atrações gratuitas ou a preços populares.

No ano passado, a virada voltou a ser realizada após dois anos em hiato em razão da pandemia, trazendo shows de nomes como Ludmilla, Luísa Sonza e Criolo. Com um público de 3 milhões de pessoas, a Virada foi marcada por manifestações políticas, roubos e arrastões.

Cortiz acredita ainda que fazer uma virada no metaverso pode comprometer o caráter democrático do festival. Esse foi um dos argumentos que o vereador Toninho Vespoli (PSOL) usou para acionar o Tribunal de Contas do Município. Ele pede que o órgão investigue por que o poder público está investindo dinheiro para realizar o festival usando uma tecnologia pouco difundida no país.

"Não é razoável investir tanto dinheiro em um evento que o público não tem o mínimo acesso, quando nas outras partes da cultura só se fala em corte de despesas e terceirização", diz ele, em nota. O tribunal de contas recebeu o pedido e diz que vai analisar o caso.

Cineasta e sócio da Arvore Experiências Imersivas, Ricardo Laganaro diz que o metaverso foi importante durante a pandemia para aproximar de forma virtual o público de exposições e espetáculos. "Porém, tem que fazer de maneira bem pensada porque pode virar um recurso que poucas pessoas vão saber como usar e ter acesso", diz ele, diretor do curta de realidade virtual "A Linha".

Para evitar isso, ele diz ser importante criar plataformas que não exijam o uso de óculos de realidade virtual, utensílio pouco acessível. O cineasta também considera o prazo de um mês inviável para elaborar uma plataforma de metaverso.

"É possível criar um mundo virtual nesse prazo usando plataformas que já existem, como o VR Chat. Mas, mesmo assim, não é um prazo muito adequado."

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