ECONOMIA

Dólar fecha a R$ 5, após tom duro do Copom, e Bolsa cai com perda de Vale e Petrobras

O dólar fechou nos R$ 5 nesta quinta (2), impulsionado pela decisão do Banco Central de manter a Selic em 13,75% ao ano e pela entrada de fluxo estrangeiro no mercado brasileiro.

Por Ana Paula Branca | 02/02/2023 | Tempo de leitura: 6 min
da Folhapress

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

É a primeira vez desde 29 de agosto de 2022 que a moeda americana desce a esse patamar
É a primeira vez desde 29 de agosto de 2022 que a moeda americana desce a esse patamar

O dólar fechou nos R$ 5 nesta quinta (2), impulsionado pela decisão do Banco Central de manter a Selic (taxa básica de juros) em 13,75% ao ano e pela entrada de fluxo estrangeiro no mercado brasileiro.

É a primeira vez desde 29 de agosto de 2022 que a moeda americana desce a esse patamar.

O dólar comercial à vista fechou em queda de 0,35%, vendido a R$ 5,0460 Durante o dia, a moeda chegou a ser negociada a R$ 4,94.

O Ibovespa fechou em queda de 1,72%, aos 110.140,73 pontos, pressionado pelo recuo das ações da Vale e da Petrobras, que caíram acima de 4,6%.

Os juros futuros subiram pouco antes do final do pregão com novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao teto de gastos e promessa de aprovar uma nova reforma trabalhista.

Os contratos para 2024 saíram de 13,60% do fechamento desta quarta (1º) para 13,69%. Para 2025, a taxa subiu de 12,88% para 13,06%. Nos contratos para 2027, os juros chegaram a 12,71, mas ficaram em 12,90%.

O discurso de Lula ajudou o Ibovespa a operar em contramão às Bolsas internacionais.

O destaque positivo desta quinta fica para os bancos privados, que registram alta, impulsionados pela decisão do Copom. As ações do Itaú (ITAU4) subiram 0,92%; e as do Bradesco (BBDC4), 1,5%.

O Santander Brasil, que divulgou nesta quinta um lucro abaixo do esperado, oscilava com viés de alta. Segundo o balanço, os resultados relativos ao quarto trimestre de 2022 mostram lucro líquido gerencial de R$ 1,689 bilhão, uma queda de 45,9% em relação ao trimestre anterior.

Para Vitorio Galindo, head de análise fundamentalista da Quantzed, o desempenho das ações decorre de uma leitura positiva dos dados de inadimplência nas operações de crédito a pessoas físicas.

"O CEO [do Santander] comentou na teleconferência que as novas safras estão melhorando o perfil de crédito e que a inadimplência está abaixo da média do mercado. Também mostraram isso na apresentação, acho que deu uma animada com a recuperação da carteira/resultados", diz Galindo.

Puxada pela queda do dólar, as ações das aéreas Gol e Azul dispararam nesta quinta no Ibovespa. A GOLL4 avançou 13,12% e a AZUL4 subiu acima de 7%.

"As companhias aéreas são extremamente sensíveis à variação cambial e à do petróleo. A valorização dessas ações reflete a expectativa de que a desvalorização do dólar ajudará a melhorar o resultado das companhias, seja por aumentar a demanda por viagens internacionais, seja por reduzir os custos das aéreas", afirma Charo Alves, da Valor Investimentos.

Do outro lado, com pedido de tutela de urgência para impedir que seus ativos sejam bloqueados a pedido de credores, abrindo caminho para uma nova recuperação judicial, a Oi viu suas ações derreterem nesta quinta. Os papéis OIBR4 fecharam a quinta com queda acima de 30%.

Taxa de juros pelo mundo
Os bancos centrais globais, que correram para aumentar as taxas de juros no ano passado em meio à alta da inflação, agora, preparam o terreno em uníssono para uma pausa que, embora ainda não prometida, começa a ser vislumbrada para este ano. O reflexo já é sentido nos pregões.

Os principais índices de Wall Street tiveram um impulso após o chefe do banco central americano, Jerome Powell, reconhecer que a inflação está começando a diminuir depois que o banco central dos EUA elevou as taxas em 25 pontos-base.

Os comentários de Powell acalmaram investidores com a percepção de que uma recessão nos EUA, que tem sido amplamente precificada, provavelmente será branda.

O S&P 500 e o Nasdaq fecharam em alta, beneficiados pela disparada de Meta após anunciar recompra de ações e prometer cortar custos em 2023, enquanto o Dow Jones encerrou com sinal negativo.

Na zona do euro, as ações atingiram seu nível mais elevado em quase um ano nesta quinta-feira, depois que mensagens agressivas contra a inflação por parte do BCE (Banco Central Europeu) falharam em diminuir as esperanças de investidores de que o ciclo de alta das taxas de juros globais esteja próximo do fim.

Um índice amplamente observado das ações da zona do euro fechou em alta de 1,8%, numa máxima desde 18 de fevereiro do ano passado, enquanto o índice pan-europeu STOXX 600 fechou em alta de 1,35%, a 459,20 pontos.

O BCE elevou as taxas de juros em 0,50 ponto percentual nesta quinta-feira e sinalizou explicitamente pelo menos mais um aumento da mesma magnitude no próximo mês, após o qual avaliaria o caminho subsequente da política monetária.

As ações imobiliárias, que são mais sensíveis aos juros, foram as que mais subiram no STOXX 600 nesta quinta, em alta de 6,8%, enquanto os papéis de tecnologia atingiram seu nível mais elevado desde março do ano passado.

Os bancos, cujas margens geralmente se beneficiam do aumento das taxas de juros, caíram das máximas em quase um ano tocadas no início da sessão e fecharam em queda de 0,7%.

Impacto do Copom na valorização do real
Nesta quarta (1º), antes do anuncio do Copom, o dólar à vista fechou em queda de 0,25%, a R$ 5,06 na venda, patamar de encerramento mais baixo desde 4 de novembro passado (R$ 5,05).

O tom duro do Banco Central ao justificar sua decisão, alertando para a incerteza fiscal e a pressão inflacionária, foi lido por analistas como um sinal de que os juros não devem cair neste ano -tornando, assim, a moeda brasileira atraente para investidores estrangeiros.

O recuo do dólar foi impulsionado também pela decisão do Federal Reserve, o banco central americano, de elevar sua taxa de juros em 0,25 ponto, uma desaceleração em relação a aumentos anteriores para o combate à inflação.

"A ideia de que os juros não vão cair tão cedo ganha cada vez mais força e evidência prática, e o fluxo para o mercado local tende cada vez mais a aumentar", disse à Reuters Bruno Mori, planejador financeiro pela Planejar, destacando o amplo espaço entre os patamares de juros no Brasil e nos Estados Unidos.

Quanto maior o diferencial entre os custos dos empréstimos domésticos e internacionais, mais atraente fica o real para uso em estratégias de "carry trade", que consistem na contratação de empréstimo em país de juro baixo e aplicação desses recursos em praça mais rentável. Desta forma, a manutenção da Selic no nível elevado atual e um arrefecimento do aperto monetário do Fed jogam a favor da divisa brasileira.

Para além do fator juro, alguns investidores apontaram o resultado das eleições para as lideranças do Congresso como um suporte adicional para o real, depois que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu o que queria ao ver reeleitos Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) como presidente do Senado.

"Câmara e Senado consolidaram condições de governabilidade melhores, isso é superpositivo para a questão da atividade (econômica)", disse Mori, que também citou uma reabertura econômica na China como outro impulso para a divisa doméstica e outras moedas de países emergentes.

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