Papel da educação superior num cenário de incertezas

Por José Munhoz Fernandes | 31/01/2023 | Tempo de leitura: 4 min

O autor é professor e coordenador do NEaD do Centro Universitário de Bauru – Instituição Toledo de Ensino (ITE) e doutorando em Educação Escolar – LP: Política e Gestão Educacional – Unesp – Faculdade de Ciências e Letras - câmpus de Araraquara

O Instituto Internacional de la Unesco para la Educación Superior en América Latina y el Caribe - IESALC, publicou recentemente o relatório de uma pesquisa feita em 2021, que ouviu 1.200 pessoas em 100 países, as quais compartilharam esperanças, preocupações e ideias sobre como a educação superior poderia contribuir com um futuro melhor para todos.

No relatório "Caminos hacia 2050 y más allá: resultados de una consulta pública sobre los futuros de la educación superior" (disponível em: http://www.iesalc.unesco.org), os participantes da pesquisa manifestaram a esperança de que a educação superior seja inclusiva, centrada no estudante, receptiva e conectada, acreditando que ela desempenhará um papel crucial no empoderamento individual, no desenvolvimento das comunidades, no progresso da sociedade e na coesão global.

Convenhamos, é uma enorme responsabilidade da educação superior diante de um cenário global de tantas incertezas, principalmente após o mundo ter convivido com uma pandemia que afetou tudo e todos.

Das expectativas levantadas na pesquisa, vamos nos debruçar sobre uma delas: o empoderamento individual que a educação superior pode trazer ao ser humano.

Citando um dos pensamentos do patrono da educação brasileira, Paulo Freire, "Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre", acreditamos que a educação superior deve estar ao alcance de todos que a desejarem e, consequentemente, da ideia de que aprender é para a vida toda (lifelong learning).

Embora se tenham registros, de que a educação superior em nosso país tenha iniciado nos colégios jesuítas do período colonial brasileiro, que mantinham cursos de Filosofia e Teologia, a iniciativa do ponto de vista governamental se deu com Dom João VI à partir da criação do curso de Engenharia da Academia Real da Marinha em 1808, portanto, trezentos e oito anos após o descobrimento do Brasil. Mas, historicamente, a primeira instituição de ensino superior oficial em nosso país surge somente cento e um anos depois, em 1909, com a criação da Escola Universitária Livre de Manaus, hoje Universidade Federal do Amazonas - UFAM, considerada a universidade mais antiga do Brasil.

Mais de cem anos se passaram e o país tem atualmente uma oferta significativa na educação superior. Segundo o último censo divulgado pelo INEP - MEC, em 2020 o Brasil tinha 2.457 IES (304 públicas e 2.153 privadas), que oferecem inúmeras possibilidades de acesso, permanência e formação superior nas mais diversas áreas do conhecimento.

Entretanto, muitas dessas vagas oferecidas estão ociosas, contribuindo, infelizmente, para que o país não atinja a Meta 12 do Plano Nacional de Educação, que é a de ter 33% de sua população entre 18 e 24 anos na educação superior até o ano de 2024.

Ora, sabemos que há muito ainda a ser feito em nosso país e a formação superior é, sem dúvida, um caminho interessante para quem deseja o empoderamento individual, não no sentido de superioridade, mas sim de emancipação individual, de domínio sobre a própria vida e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento de nosso país, direta ou indiretamente, seja como empreendedor ou intra-empreendedor.

Do ponto de vista do empoderamento, mais especificamente quando pensamos em renda, estudos recentes do IBGE apontam que, quanto maior o nível de escolaridade maior a renda do indivíduo, lembrando que não estamos falando do diploma pura e simplesmente, mas sim das competências adquiridas por meio dele.

E por falar em competências, quando voltamos nosso olhar para o mundo do trabalho, verificamos que nas últimas décadas ele mudou muito e continua mudando, nos trazendo um cenário de incertezas do que ainda está por vir. Fruto das transformações sociais e dos avanços tecnológicos, alguns impulsionados no período pandêmico, o conhecimento é fundamental no mundo do trabalho, pois substitui o improviso, o amadorismo e o achismo, se tornando uma das poucas certezas que temos: a sua relevância. Muito desse conhecimento tem como fonte a educação superior, berço da ciência.

A opção por um curso superior também nos possibilita um ganho intelectual, pois a vida acadêmica nos estimula a ler e a escrever mais, resultando na formação de senso crítico, raciocínio lógico e formação humana.

Diferentemente da realidade de décadas atrás quando o acesso, a permanência e a formação superior eram bem mais difíceis, um sonho inalcançável para a maioria das famílias brasileiras, especialmente as de baixa renda, hoje é perfeitamente possível trilhar este caminho, basta querer, fazer a sua escolha e dedicar-se a esta causa nobre: aprender sempre.

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