João é meu neto. Ele adora estrogonofe. Então preparo o prato para ele quando vem a minha casa. A receita que uso é antiga e difere da do pai dele, que cozinha bem mas não atende a esse gosto específico do filho pelo estrogonofe da avó. Não há nada de especial no meu, nenhum segredo. Vejo outras receitas e me parecem todas mais ou menos iguais. Aliás, as nossas, brasileiras, só diferem do país de origem, a Rússia, onde o prato se chama stroganof e tem origem recente, no século XIX. Como lá acrescentam iogurte em lugar de creme de leite, e não usam temperos avermelhados, o molho em que a carne fica mergulhada não é nada atraente. A carne também difere, não tem o gosto da nossa. A carne brasileira é única. Enfim, já pesquisei e vi que de dez brasileiros que experimentaram stroganof russo, dez preferiram a versão brasileira. Vamos à receita, lembrando que coxão mole fica melhor que filé mignon neste preparo.
Descasque a cebola e pique em pedaços pequeninos. Descasque e pique o alho. Corte a carne em cubos de aproximadamente 1 cm. Tempere a carne com sal, pimenta-do-reino e páprica. Reserve. Corte em lâminas os cogumelos. Aqueça metade do azeite e metade da manteiga em panela média. Coloque a carne e doure bem, sem deixar formar líquido. Usando espátula, retire a carne e deixe de lado num prato fundo. Na mesma panela, ainda quente, acrescente o restante do azeite e da manteiga e coloque a cebola picada. Salgue de leve, deixando refogar por cinco minutos em chama média. Acrescente o extrato de tomate e os cogumelos e refogue por mais três minutos. Volte a carne à panela, mexa rapidamente e mantenha por cinco minutos no fogo médio. Acrescente o uísque ou a cachaça e deixe flambar para evaporar todo o álcool. Agregue o molho inglês, a mostarda e o creme de leite e cozinhe por mais três minutos. Teste o sal. Se for o caso, corrija o tempero. Sirva com arroz branco e batatas. Aqui no Brasil é usual a batata palha. Mas em se tratando do João faço batata no forno. Descasco, corto e cozinho em água fervente e salgada por sete minutos. Escorro, tempero com azeite e páprica, levo ao forno já aquecido até que fiquem douradas. Salsinha picada finamente vai bem para finalizar este prato; mas João não gosta, então não uso.
Sonia Machiavelli é professora, jornalista, escritora; membro da Academia Francana de Letras.