Era para ser um evento festivo, marcado por discursos otimistas sobre o futuro Hospital Metropolitano da Região de Campinas. Mas o prefeito de Hortolândia, Zezé Gomes (Republicanos), rompeu a bolha de exaltação e fez o que se espera de um gestor diante de uma crise: cobrou providências urgentes. E acertou no alvo.
Em sua fala, Zezé colocou o dedo na ferida. “Tem gente morrendo na fila. O que nós temos para agora?” Segundo ele, o problema é urgente demais para esperar. “O prefeito é o para-choque do governador. Nada chega lá no governador, chega primeiro no prefeito. E as pessoas que estão morrendo na fila não dá para esperar construir um hospital daqui dois anos. Quero coisa que seja agora. Agora. O que nós temos para agora?”, declarou em tom de cobrança.
O desconforto foi imediato entre os colegas de partido, aliados do governo estadual, e escancarou o abismo entre promessas futuras e o drama presente vivido por milhares de pacientes.
A crítica é legítima — e oportuna. Afinal, não faz muito tempo que o próprio governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) era contra a construção de uma nova unidade hospitalar na região, defendendo a abertura imediata de leitos como solução para o colapso da rede. Agora, em ano pré-eleitoral, muda de posição e anuncia um novo hospital a ser entregue em dois anos. A pergunta é: quem pode esperar?
Mesmo que o cronograma seja cumprido — algo raro em obras públicas — ainda são dois anos de angústia para quem sofre hoje. O gesto de Zezé, então, se torna ainda mais relevante. Ele rompeu a narrativa homogênea que dominava o evento e deu voz à população, que clama por atendimento, não por solenidades.
O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), tentou contornar a situação, citando adesão a um novo modelo de unidade de saúde. “Temos uma pré-adesão ao chamamento de uma unidade grande de saúde. Está no ajuste de documentação”, respondeu. A fala soou burocrática diante da contundência do colega de Hortolândia.
Já a secretária executiva de saúde do estado, Priscilla Perdicaris, apresentou um plano emergencial com chamamento público para mais de 4 mil procedimentos, o que, se bem executado, pode aliviar a pressão — mas não resolve o problema estrutural. “Está aberto um chamamento público para mais de 4 mil procedimentos, entre cirurgias, consultas, exames e terapias. A ideia é ampliar o atendimento já no segundo semestre”, disse.
A cena revela um racha político silencioso entre aliados e a tensão entre discurso institucional e realidade nas pontas. Mais que uma cobrança, a fala de Zezé expõe uma contradição central da gestão Tarcísio: a de criticar o modelo de grandes hospitais e, agora, adotá-lo como medida eleitoreira, sem entregar a estrutura mínima que já prometia.
Cobrança, nesse caso, não é oposição. É compromisso com quem está na fila, sem leito, sem tempo e sem voz.
Reprodução/Redes Sociais
O mundo gira, mas na política ele parece girar em looping. Nesta semana, uma postagem do vereador Vini Oliveira (Cidadania) ao lado do deputado federal Carlos Sampaio (PSD) causou surpresa nos bastidores. “Conversamos sobre passado e futuro. Política é isso. É aprender a ouvir. É conversar e conhecer pontos de vista”, escreveu Vini nas redes sociais.
A frase soa como gesto de maturidade política — ou, dependendo do ponto de vista, um recuo estratégico de quem há poucos meses disparava duras críticas contra o mesmo parlamentar.
É impossível esquecer o cenário pré-eleitoral de 2024. Naquela época, Vini era ligado a Rafa Zimbaldi e atacou ferozmente a aliança entre Carlão e o prefeito Dário Saadi. Nas redes e nos bastidores, Carlos Sampaio foi rotulado de “rato” e “vendido” pelo então candidato a vereador. O motivo da discórdia era o temor de que a federação PSDB-Cidadania inviabilizasse a candidatura de Zimbaldi. Em meio à tensão, Carlão saiu do PSDB e migrou para o PSD — de onde apoiou oficialmente a reeleição de Dário.
Agora, o reencontro entre Vini e Carlão ganha contornos simbólicos. Para muitos, a foto sela uma reaproximação que vai além do gesto de gentileza. Pode significar a busca de espaço político, a tentativa de reposicionamento ou simplesmente a constatação de que, em política, inimigos de ontem podem ser aliados de amanhã.