22 de dezembro de 2024
ENTREVISTA JC

Entrevista com Mauricio Cardoso, presidente do PI Branemark

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 6 min
Celso Mellani/Divulgação
Apaixonado pela ortodontia, Mauricio Cardoso, presidente do Brånemark, protagonizou vitória histórica ao reverter decisão judicial

Da causa perdida à vitória

Presidente do Instituto Brånemark, ele protagonizou a reversão da decisão judicial que havia imposto multa milionária à entidade

Do pai, ele herdou o amor pela Ortodontia; do avô paterno, o DNA para o agronegócio; e, do avô materno, assimilou o espírito embativo e a indignação com injustiças. E foi em busca da reparação de um erro que Mauricio Cardoso, 47 anos, presidente em exercício do PI Brånemark Institute Bauru, protagonizou uma vitória histórica com a reversão da decisão judicial que havia imposto uma multa milionária à Entidade, referência mundial em tratamentos com osseointegração, entre eles os implantes dentários. Na ação movida pelo Ministério Público e Prefeitura Municipal de Bauru, a Instituição havia sido condenada em primeira instância, mas conseguiu uma reconvenção em segunda instância e, com o processo encerrado no mês passado, espera receber um montante financeiro suficiente para construir uma nova sede em outra cidade, para retomar suas atividades.

Nascido em Iacanga-SP, Mauricio trabalha com o pai, o também ortodontista João Cardoso Neto, desde quando se graduou, em 1998. Casado com Gleisieli, também ortodontista, e pai de Leonardo, 13 anos, e Isabela, 9 anos, tornou-se vice-presidente do Instituto em 2017 e foi alçado à presidência em 2019, pouco antes do ajuizamento da Ação Civil Pública.

Nesta entrevista, ele conta que não mediu esforços para administrar o momento turbulento do Instituto como forma de defender e honrar o legado do professor Per-Ingvar Brånemark, médico sueco que desvendou a osseointegração e mudou a vida de milhões de pessoas no mundo. Fala ainda de sua ligação com a família, do trabalho como cirurgião-dentista, docente, mentor e palestrante e da sua segunda atividade, o agronegócio, além da paixão pelo tiro esportivo e pesca esportiva. Leia os principais trechos.

JC - Como recebeu a notícia da vitória na ação?

Mauricio - Protagonizei a reparação de uma injustiça. O prédio do Instituto foi construído com recursos de uma associação sem fins lucrativos, presidida pelo professor Brånemark em um terreno cedido pela prefeitura. O termo de cessão exigia o atendimento de 100 a 120 pacientes carentes por mês, mas o MP entendeu que seriam pacientes novos, o que exigiria o atendimento de 14.400 pacientes novos entre 2006, quando o prédio foi inaugurado, até 2016. Como um protocolo de reabilitação demanda dezenas de atendimentos, é impossível aceitar a interpretação do MP. Um total absurdo! Além dos atendimentos a pessoas carentes, o Instituto era um local de Ensino e Pesquisa, que sempre funcionou sem verbas públicas. Foram mais de 40 mil atendimentos e quase 2 mil pacientes completamente reabilitados, tanto mutilados orais (desdentados totais) e mutilados de face, com a instalação de próteses extra-orais.

JC - Como foi o período após deixarem o prédio?

Maurício - Foi uma luta grande para manter os atendimentos dos pacientes que já haviam iniciado os tratamentos. Desde a instauração do inquérito civil público, em 2016, não conseguimos mais aportes financeiros. O Instituto ficou descreditado. Então, precisamos demitir funcionários e reduzir as atividades. Ficamos apenas com os pacientes já em processo de reabilitação, que foram distribuídos em consultórios de parceiros. Neste período, conseguimos parcerias com a Beneficência Portuguesa e a Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD). Foi um período de extrema turbulência, mas conseguimos atender todos os pacientes. Faria tudo de novo e espero que meus filhos se orgulhem disso.

JC - O que o motivou a dedicar-se a esta causa?

Maurício - Como presidente, confiaram a mim o legado do Brånemark e eu não poderia ser omisso. Jogaram o nome do Instituto no lixo. Felizmente, tive ao meu lado alguns amigos, verdadeiros "anjos da guarda", para enfrentar todo o processo e garantir ainda a continuidade dos tratamentos. Entre eles estão pessoas que confiaram em mim e aceitaram ser diretores após o ajuizamento da ação civil. Na fase atual, estamos avaliando para qual cidade o Instituto será transferido, será uma decisão de toda a diretoria.

JC - Agora sobre a trajetória pessoal, conte um pouco sobre sua origem.

Maurício - Sempre morei em Bauru, mas passava grande parte do tempo com meus avós em Iacanga. Meu avô materno foi militar e, quando se aposentou, atuou por 2 décadas como provedor da Santa Casa de Misericórdia de Iacanga, de forma voluntária. Meu avô paterno sempre atuou na agricultura e pecuária, o que hoje denominamos agronegócio. Ambos influenciaram muito minha trajetória, assim como o meu pai na Ortodontia. O primeiro local de trabalho do meu pai foi um consultório em uma sala anexa à nossa casa. Então, eu o vejo trabalhar desde criança. Nunca pensei em seguir outra carreira, e trabalhar com ele é um privilégio, uma benção...

JC - Hoje, concilia as atividades no consultório com a sala de aula?

Maurício - Sim. Sou formado em Odontologia pela Unisagrado e Mestre e Doutor em Ortodontia pela Unesp de Araçatuba. Me tornei docente da Graduação, Especialização e Mestrado da Unisagrado de 2007 a 2017 e, desde 2017, atuo como docente nos Programas de Mestrado e Doutorado da Faculdade de Medicina e Odontologia São Leopoldo Mandic, em Campinas-SP. Desde 1998, atuo em consultório particular na matriz do Instituto Cardoso de Ortodontia em Bauru, junto com meu pai - que continua na ativa aos 75 anos - e trabalho também nas nossas filiais em Jaú e São Paulo. Além disso, ministro aulas em congressos nacionais e internacionais, além de mentorias para ortodontistas no Brasil e países da América Latina. É uma vida bastante corrida.

JC - Sobra tempo para outras atividades?

Maurício - Desde 1994 atuo também na pecuária ao lado do meu pai, em uma propriedade localizada em Fernão-SP. Na pandemia, um sócio e eu adquirimos uma segunda propriedade, que estava sendo encaminhada para um leilão judicial. Desde então, além de atuarmos na agricultura e pecuária, iniciamos um terceiro projeto, no qual adquirimos - ou fazemos parcerias - com proprietários de áreas rurais improdutivas e/ou com algum tipo de passivo, seja fiscal ou financeiro, tornando as áreas novamente produtivas, visando a comercialização das mesmas. Como hobby, sou Caçador, Atirador e Colecionador (CAC) desde 1994 e sócio fundador do Clube de Tiro e Caça de Bauru (CTCB). Outra paixão antiga é a pesca esportiva. Comecei a pescar com meu pai no Mato Grosso do Sul quando tinha apenas 9 anos. Foram dezenas de viagens. Hoje, com toda correria, consigo levar meu filho para pescar poucas vezes no ano, e a paixão pela pesca já está no DNA dele!

O que diz o ortodontista:

'Como presidente, confiaram a mim o legado do Brånemark e eu não poderia ser omisso'

'Tive ao meu lado anjos da guarda para enfrentar todo o processo e garantir a continuidade dos tratamentos'

'Nunca pensei em seguir outra carreira que não na ortodontia e trabalhar com meu pai é uma benção'