27 de dezembro de 2024
INVESTIGAÇÃO

Franceschetti operava sozinho uma conta ‘paralela’ da Apae

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Guilherme Matos
Franceschetti movimentou mais de R$ 500 mil em conta de teste do pezinho

Ex-presidente da Apae Bauru, Roberto Franceschetti Filho teria movimentado mais de R$ 500 mil apenas da conta bancária destinada ao recebimento de valores advindos de testes do pezinho. A entidade cobrava, em seu laboratório, até R$ 1 mil pelo exame ampliado, que detecta diversas enfermidades em recém-nascidos, como fenilcetonúria, fibrose cística, doença de chagas e hiperplasia adrenal.

"A máquina de cartão de crédito associada a esta conta, encontrada no gabinete do Roberto, era de acesso exclusivo dele. E, nos últimos cinco anos, período que estamos analisando, o valor movimentado foi de R$ 0,5 milhão", revelou Glaucio Stocco, delegado titular do Setor Especializado de Combate aos Crimes de Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (Seccold), durante entrevista concedida por ele e pelo delegado Ricardo Dias, chefe da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Bauru, ao videocast semanal "E aí, Colim?", do JCNET.

Stocco preside o inquérito sobre os crimes de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa, pelos quais nove pessoas presas, incluindo Franceschetti, são investigados. O ex-presidente da entidade também é apontado como autor do homicídio da ex-secretária executiva da associação, Claudia Regina da Rocha Lobo, desaparecida em 6 de agosto.

Na entrevista, os delegados revelaram que Gisele Aparecida de Camargo Tavares assumiu a presidência da entidade no fim de 2019 e assinou uma procuração, dando plenos poderes a Franceschetti. Seu primeiro ato, segundo Stocco, foi instituir salário a ele e à 'presidente de fechada", sem que houvesse previsão estatutária. O valor inicial, de R$ 18 mil, já havia chegado a mais de R$ 30 mil em agosto, quando foi preso. "É fora de propósito", indigna-se Ricardo Dias.

'Fio da Meada'

Os delegados detalharam que a investigação teve início com a perícia de um notebook de Claudia encontrado em sua casa, no qual arquivos da lixeira tinham sido visualizados e apagados após o desaparecimento da ex-secretária. 'Um deles era uma planilha do orçamento doméstico, com a descrição de receitas e despesas. Ela tinha um salário líquido de R$ 5 mil, R$ 6 mil e mais R$ 4 mil relacionado ao nome Pérsio, mas escrito PER SIO, separadamente. A partir disso, identificamos a participação do ex-marido e depois dos demais", detalha.

A equipe da Seccold, inclusive, analisou mais de 52 mil mensagens trocadas entre Claudia e sua filha, Letícia da Rocha Lobo Prado, no WhatsApp, que permitiram a descoberta de pagamento de salário à Letícia, que realizava apenas atividades esporádicas na Apae e possui dois apartamentos e um carro em seu nome.

Além dela, outros parentes recebiam valores, como Pérsio de Jesus Prado Júnior, ex-marido de Claudia e pai de Letícia, Diamantino Passos Campagnucci Júnior e Ellen Siuza Rocha Lobo, cunhado e irmã de Claudia. Todos foram presos, bem como Renato Tadeu de Campos, policial militar aposentado; Maria Lúcia Miranda, ex-contadora e coordenadora financeira da Apae; Renato Golino, ex-coordenador financeiro da Apae; e Felipe Figueiredo Simões, empresário.

Papael de cada um

Campagnucci Júnior, Ellen Lobo e Simões, por exemplo, teriam assinado notas frias pela venda de bens ou serviços fictícios a valores que, segundo a investigação, ficavam parcialmente com Roberto e Claudia. Campos, por sua vez, teria efetuado depósitos mensais de R$ 10 mil, embora seus vencimentos como PM fossem inferiores.

"Ele prestava serviço de segurança privada por meio de uma empresa registrada em nome de sua filha. O contrato era de R$ 12 mil, ele ficava com R$ 2 mil e devolvia R$ 10 mil em uma conta fantasma da Apae, que não entrava na contabilidade e era de acesso exclusivo do Roberto", frisa Stocco. Já Golino ganhou um carro sorteado pela própria entidade de forma não esclarecida, enquanto Prado Júnior era contratado para digitar notas fiscais doadas à Apae por meio do programa Nota Fiscal Paulista.

"A remuneração era de R$ 0,04 por nota, mas ele recebia salário de R$ 8 mil, possível só se digitasse 200 mil notas por mês", completa o delegado, acrescentando que Maria Lúcia Miranda recebia R$ 6 mil mensais de bonificação e era responsável por fazer pagamentos a funcionários registrados na contabilidade como "adiantamentos ao fornecedor", cujos comprovantes não foram apresentados. Em ligação interceptada pelo Seccold, ela foi orientada por Roberto sobre o que falar em seu depoimento quando ele já havia sido ouvido pela Polícia Civil, antes de ser preso.