23 de novembro de 2024
POLÍTICA

Flávio Paradella: as sucessivas tragédias em Campinas

Por Flávio Paradella | Especial para a Campinas
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução
Foram impressionantes 120 mm de chuva que atingiram Campinas, na quinta-feira.

Foi a primeira grande chuva após um longo período de estiagem, e Campinas voltou a vivenciar momentos de caos, tensão, desespero e tristeza. Inegável a intensidade do volume da tempestade, cujo alerta havia sido emitido pela Defesa Civil. Foram impressionantes 120 mm de chuva que atingiram Campinas, e a maior parte se concentrou em apenas 1h30. O que vimos foi a repetição dos mesmos e cansativos problemas que assolam a cidade devido à inércia de seus governantes.

Acompanho profissionalmente a política campineira desde 2004, no primeiro mandato de Hélio de Oliveira Santos, e foi com o Dr. Hélio que uma intervenção saiu do papel: a obra sob o viaduto Laurão, com alargamento do córrego e outras medidas. Tudo isso ocorreu após um temporal que ceifou a vida de um bombeiro durante um resgate.

Com banners afixados com o slogan “Enchentes Nunca Mais” nos pilares do viaduto, o prefeito inaugurou a obra, afirmando que "o projeto levou em conta o maior volume de chuva já registrado neste local". Mas, cerca de uma ou duas semanas depois, uma chuva intensa inundou toda a área. A solução foi remover os banners, pois, apesar de amenizar os alagamentos, a intervenção não resolveu o problema. Vale lembrar que a obra ainda foi incluída nas acusações de corrupção contra o governo da época.

De lá para cá, pouco foi feito até que mais uma morte ocorresse na Princesa D’Oeste, no final de 2021, na véspera do Ano Novo. Foram pouquíssimas intervenções, basicamente manutenções ou ampliações de estruturas já existentes. Passamos pela curta administração de Pedro Serafim e pelos dois mandatos de Jonas Donizette, que iniciou sua gestão mencionando um projeto de macrodrenagem no córrego da Orosimbo Maia, mas a proposta nunca passou de uma ideia. É bom lembrar que, no início da gestão de Jonas, vivíamos um período de crise hídrica, e simplesmente não chovia.

No entanto, o regime de chuvas se normalizou e até se intensificou no final da década, mas de forma mais irregular. Ainda assim, o tema só ganha destaque quando chove. Entrou a estiagem? O assunto é esquecido. Assim foi até a gestão de Dário Saadi, que, após mais uma morte na Princesa D’Oeste, apresentou um amplo projeto de piscinões e outras intervenções no chamado "Plano Antienchente". Ótimo, mas com um problema: a prefeitura não tinha recursos e precisava de financiamento. Foram mais de dois anos até conseguir o recurso e iniciar a primeira etapa da obra, com ordem de serviço emitida em 1º de julho e previsão de 24 meses para conclusão. Ainda há um longo caminho pela frente.

Mérito da gestão de Dário, sem dúvida, mas o prefeito parece ter esquecido que uma solução definitiva ainda está distante. Em várias entrevistas e debates no período de eleição, Saadi chegou a afirmar que "tirou as enchentes de Campinas da discussão eleitoral" com as obras que foram iniciadas. Se o assunto foi esquecido, isso também revela uma ineficiência dos adversários, além de termos passado por um longo período de estiagem.

Bastou a primeira tempestade para que essa narrativa envelhecesse mal e rapidamente. As obras, naturalmente, não ficarão prontas da noite para o dia e, se tudo correr bem, só serão concluídas em meados de 2026. Mas a "pontualidade" nas entregas não tem sido uma marca da gestão.

Mas o que realmente irrita é a aparente falta de um plano de ação preventivo. As equipes estão de prontidão, mas para o pós-tempestade. Não foi uma chuva que pegou todos de surpresa; o volume, sim, mas não a precipitação. Falta coordenação entre os órgãos e, principalmente, planejamento para o trânsito. Plaquinhas de alerta em espaços publicitários são triviais. Temos inundações e alagamentos recorrentes nos mesmos pontos a cada chuva um pouco mais forte, e falta um trabalho integrado para controlar pontos de acesso, como a Sílvio Moro, na região do Curtume. Outro ponto que beira ao ridículo é a repetição de alagamento e queda de forro no Hospital Mário Gatti, recém-reformado, e no pediátrico Mário Gattinho.

Pode parecer que estou agindo como um "engenheiro de obra pronta", mas é pedir demais que uma cidade reconhecida pela tecnologia e inovação, e mais forte economicamente do que muitas capitais, tenha áreas de execução interligadas? Um absurdo esperar ações preventivas enquanto aguardamos a entrega de uma solução mais definitiva? Este é o desabafo de um jornalista, também desgastado de repetir os mesmos textos, com personagens diferentes, em tragédias rotineiras.