21 de dezembro de 2024
POLÍTICA

Flávio Paradella: Um debate muito ruim

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 2 min
Reprodução/Youtube
Evento promovido pela Veja e ESPM, em São Paulo

O debate entre os candidatos à prefeitura de Campinas deixou uma sensação negativa. Primeiro, pela ausência do atual prefeito, Dário Saadi, que já havia informado que não participaria, preferindo comparecer ao evento promovido pela Veja e ESPM em São Paulo. Essa ausência prejudicou a dinâmica planejada pela organização, que visava discutir ideias para a cidade. A decisão de Dário de evitar o confronto e não "dar munição" aos adversários foi uma tática, mas ruim para o embate democrático.

Além disso, os três participantes — Pedro Tourinho (PT), Rafa Zimbaldi (Cidadania) e Wilson Matos (Novo) — não aproveitaram bem a oportunidade. O debate foi marcado por trocas de acusações, insinuações e até ofensas. Wilson Matos, mais eufórico, adotou um tom mais agressivo, refletindo a fase de “marçalização” que mencionei anteriormente. Essa nova postura do candidato do Novo gera a impressão de que ele estaria servindo como uma "linha auxiliar" de Dário Saadi.

Matos levanta questões óbvias sobre problemas da cidade, mas evita criticar diretamente o prefeito. Em vez disso, seus ataques se concentram em Tourinho e Rafa, como ficou evidente tanto nas redes sociais quanto no debate, o que gerou incômodo. Os candidatos chegaram a chamar Matos de “boca de aluguel” do prefeito, e essa superficialidade no debate acabou prejudicando a profundidade das discussões.

Com a ausência de Dário, tanto Rafa quanto Pedro optaram por criticar repetidamente o prefeito por não estar presente. Embora fosse esperado, esse tipo de crítica constante acaba se tornando cansativo para quem acompanhava o debate.

Outro ponto problemático foi a "não resposta". Candidatos têm um tempo limitado para responder perguntas específicas, mas, muitas vezes, usam esse tempo para divulgar propostas genéricas em vez de abordar diretamente a questão. Essa estratégia de desviar do tema, chamada de tergiversação, parece mais voltada para criar conteúdo para as redes sociais do que para oferecer respostas claras aos eleitores. Após o debate, as campanhas inundaram as redes com trechos recortados das falas, reforçando essa impressão.

Difícil competir

Na última coluna, falei sobre a sensação de que as eleições em Campinas estavam sendo "sequestradas" pela atenção ao pleito na capital paulista. Mas tenho que admitir que está praticamente impossível competir com a sequência de fatos e absurdos em São Paulo. O exemplo mais recente foi protagonizado pelo experiente jornalista José Luiz Datena (PSDB), que acertou uma ‘cadeirada’ em Pablo Marçal (PRTB), em uma das cenas mais chocantes já registradas em uma corrida eleitoral democrática.

O pior de tudo é que, embora a cena espante, ela não surpreende. Há um sentimento crescente de normalização do absurdo. Aguardamos o próximo fato bizarro para nos espantar, mas seguimos em frente como se fosse aceitável. Só que não é.

Esse tipo de episódio serve como um reflexo de como o debate político está se deteriorando e estamos deixando acontecer.