Foi um dia de solidariedade hostil no evento convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, nesta quarta-feira, 29, no Ginásio do Guarani. Durante praticamente todo o dia, Bolsonaro esteve no espaço para receber os apoiadores que atenderam ao chamado e compareceram para levar doações às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.
O ex-presidente chegou às 10 horas, em ponto, e na entrada atendeu a imprensa em um cercadinho improvisado, do jeito que ele gostava. Refutou a pergunta de um entusiasmado repórter se o evento “era um dia de festa”. “Festa não. Hoje é um dia de solidariedade”, disse um cuidadoso ex-mandatário, acusado de ser oportunista por adversários por usar a tragédia gaúcha para realizar a caravana por cidades do interior de São Paulo.
Muitas pessoas passaram pelo ginásio para levar um donativo e outras tantas esperaram na longa fila para poder tirar uma foto com o ex-presidente. Faziam isso com o intuito de estar perto daquele que idolatram, mas com aquela vontade de mostrar aos “rivais de esquerda” a força persistente do movimento conservador. Como diria a expressão popular: “para esfregar na cara”.
Já disse e repito, Bolsonaro, mesmo com todas as presepadas, segue extremamente popular e tem um poder imenso de mobilização. A redemocratização só tinha visto isso com Lula em seus melhores anos. Subestimar ou tentar diminuir um fato são erros primários e que podem ter consequências em 2026.
Por enquanto, Bolsonaro só fala em 2024. “Eu discuto 26 depois de 24”, disse o político que está inelegível, mas tenta reverter o quadro. De qualquer forma, 2026 está em 2024, pois o ex-presidente tenta eleger o máximo de prefeitos aliados para pavimentar um rumo de apoio consolidado para daqui dois anos. Será candidato? Hoje é impossível, mas a justiça brasileira muda seu entendimento tal qual o vento muda de direção. Uma coisa é certa, não há qualquer espaço neste momento para outra vertente e estamos presos a essa polarização Bolsonaro x Lula.
Triste ver a hostilidade e intimidação que sofreu a equipe da EPTV, afiliada à Rede Globo em Campinas. Bianca Rosa e Edvaldo de Souza são dois jornalistas do mais alto gabarito para a profissão em Campinas.
E mais, são seres humanos espetaculares que cultivam amizade e carinho durante as pautas com os colegas de todos os outros meios.
O ódio do Bolsonarismo pela Globo não é novidade e quem sofre são as pessoas que, gratuitamente, são agredidas, coagidas e aterrorizadas por estarem, simplesmente, trabalhando. Vou repetir, eles estavam trabalhando.
Profissionais competentes e pessoas maravilhosas sendo ofendidos e cercados por apoiadores ensandecidos.
Diante disso, a atitude com o episódio de um vereador democraticamente com o episódio foi, para dizer o mínimo, lamentável. Marcelo Silva, do PP, postou em suas redes sociais a ocorrência.
Em vídeo gravado pelo próprio ao lado da equipe de EPTV, o parlamentar diz: “Olha o que o pessoal tá gritando”. Os apoiadores de Bolsonaro gritavam “Globo Lixo”. Marcelo Silva ainda faz um zoom com câmera para mostrar a canopla do microfone para mostrar o símbolo da emissora.
Desnecessário, ridículo e infantil. Um posicionamento para “engajar” nas redes, mas que alimenta um feroz ódio.
Aqui não estou discutindo linha editorial. Estou citando a preocupação com integridade de profissionais e a liberdade para exercer a profissão, sem hostilidade, opressão e ameaças.
Marcelo Silva, na qualidade de vereador e advogado, tem elementos e conhecimento para entender o quão prejudicial e perigoso é fomentar essa situação.
Um pequeno grupo de torcedores bugrinos realizaram uma manifestação contra a presença de Bolsonaro no Ginásio do Guarani.
As palavras de ordem atingiam o ex-presidente e a diretoria do bugre, o presidente André Marconatto e o CEO Ricardo Moisés, por terem cedido o espaço para evento.
De acordo com as autoridades policiais que fizeram a segurança do entorno, não foram registrados incidentes.
Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br