Um dia, o ainda candidato a governador Tarcísio de Freitas, em entrevista a este colunista respondeu de maneira categórica a uma indagação de como tirar do papel antigas promessas de vários governadores, mas que nunca se efetivavam: “me elegendo”, simplesmente disse o ex-ministro de infraestrutura de Jair Bolsonaro. A entrevista fez parte da sabatina da CBN Campinas com os postulantes ao Palácio dos Bandeirantes, às vésperas do primeiro turno daquela eleição em 2022.
Após pouco mais de 1 ano de administração, o governador conseguiu cumprir a palavra. O Trem Intercidades vai sair do papel com a realização do leilão para construir e operar o transporte ferroviário que ligará Campinas a São Paulo.
Ao menos desde 2013, o Trem Intercidades fazia parte da lista de promessas de todo o candidato ao governo do estado. A proposta foi usada como compromisso de Geraldo Alckmin na campanha à reeleição em 2014, o que não aconteceu. Já o então governador Márcio França, em 2018, montou uma viagem teste factoide entre Campinas e Louveira para garantir que, caso reeleito, a ideia entraria nos trilhos. João Doria e Rodrigo Garcia organizaram os detalhes do projeto, mesmo assim o Trem Intercidades não encontrava um destino. A cada fala ou visita dos governadores, uma mudança de prazo com novidades “daqui a 15 dias”.
Muitos vão ponderar que o Tarcísio ‘deu sorte’ por assumir o governo com o projeto costurado, praticamente pronto. Porém, uma proposta desse porte sempre encontra empecilhos e a experiência e histórico de Tarcísio no governo federal mostram uma expertise do gestor em desenrolar “fios emaranhados”. Isso é inegável.
O Trem Intercidades tinha essa mesma característica, pois foi feito e refeito ao longo de uma década, a ponto de se tornar quase que uma descrença para sua real efetividade. Mas a realidade agora é outra e o projeto parte para outro passo, a implementação. A partir de agora, a cobrança será pelas obras e por um período racional para a entrega. A previsão é que Trem esteja em operação até 2031.
Tarcísio obteve uma grande vitória administrativa e política, pois mostrou com este caso que transforma “o que fala” em “ato consumado”. Parece óbvio que um político tem que cumprir o que promete, ainda mais com veemência nas palavras quando foi indagado lá em 2022, mas, infelizmente nos acostumamos tanto as bravatas eleitorais que até as consideramos normais.
Marteladas
No ato simbólico de bater o martelo para o consórcio vencedor, o governador do estado Tarcísio de Freitas (Republicanos) estava cercado por políticos da região de Campinas. Ao lado, e o primeiro ser cumprimentado, o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), que não escondeu o temor com a força e quantidade de pancadas que o governador desferiu com o martelo na tribuna da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, na última quinta-feira.
Também presentes estavam o prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis (MDB), o prefeito de Jundiaí, Luiz Fernando Machado (PL), o deputado estadual, Dirceu Dalben (Cidadania) e até Guilherme Campos, superintendente de agricultura e pecuária em São Paulo do Governo Lula.
Dário teve sua vitória
Enfim, a prefeitura conseguiu realizar a licitação de grande porte e começa a dar os primeiros passos para tirar do papel o projeto do controle de enchentes, que foi apresentado em março de 2022.
O Consórcio Reservatório JDPF apresentou a melhor proposta para a construção do primeiro piscinão do pacote, que será feito na Avenida Princesa d'Oeste, próximo ao Guarani.
Esta primeira parte do projeto terá um valor de cerca R$ 205 milhões, aplicado o desconto de 3,41% sobre o valor global estimado da Prefeitura.
Jonas em novo patamar
O deputado federal, Jonas Donizette (PSB), passou a ocupar um novo posto em 2024. Vice-líder do governo na Câmara, o ex-prefeito de Campinas avança para exercer a vice-liderança no Congresso Nacional, ou seja, passa a dialogar pela gestão Lula III com os deputados federais na Câmara e, agora, com os Senadores de República.
Bolsonaro em Americana
Jair Bolsonaro esteve em Americana nesta sexta-feira para acompanhar a filiação de novos integrantes ao PL.
Entre as novas caras do partido está Chico Sardelli, que por décadas militou no PV, legenda progressista, e migra para disputar da reeleição pela sigla do ex-presidente.
Vale lembrar que Sardelli participou do ato de Bolsonaro na Avenida Paulista, no último domingo.
Neste sábado, é a vez de Santa Bárbara D’oeste. O prefeito Rafael Piovezan deixa o MDB para migrar ao PL, com Bolsonaro presente no ato.
Cidadão Emérito
E por falar em Bolsonaro, o ex-presidente poderá ser agraciado com o título de Cidadão Emérito pela Câmara de Campinas, uma das maiores honrarias do legislativo. O título é concedido às pessoas nascidas em Campinas com relevantes serviços prestados para a cidade.
Os relevantes serviços são subjetivos, porém uma coisa é fato: Bolsonaro não nasceu em Campinas. Na verdade, foi em Glicério, município da região de Birigui. Só que outra coisa também é fato: na Certidão de Nascimento foi registrada Campinas como o local de nascimento.
De qualquer maneira, o título de Cidadão Emérito para Bolsonaro consta da pauta de quarta-feira, tendo sido proposto pelo vereador Major Jaime (PP).
A proposição já gera reações com a vereador Mariana Conti (PSOL) convocando militantes para ocupar o plenário e barrar a concessão da honraria.
Cito aqui comentário de um mestre em comunicação, professor e grande amigo: “confusão e obstrução à vista”.
Persona non grata
Vale lembrar que Jair Bolsonaro já foi considerado oficialmente ‘persona non grata’ em Campinas. Em 2016, quando ainda era deputado federal, em uma entrevista, Bolsonaro chamou os vereadores de Campinas de ‘otários’ e ‘desocupados’.
Uma reação de Bolsonaro aos parlamentares campineiros que tinham aprovado um documento de repúdio a homenagem que Bolsonaro fez ao militar e torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.