26 de dezembro de 2024
POLÍTICA

O ardente Fogo-amigo na Careca

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 5 min
Reprodução/Instagram Rodrigo_Farmadic

“Eu vou pedir voto só pra mim, eu não vou pedir voto pra prefeito”. Esse foi um trecho do duro discurso do vereador Rodrigo da Farmadic (União Brasil) na sessão ordinária da Câmara de Campinas, na noite desta quarta-feira. O sempre sereno e comedido parlamentar da base do governo subiu à tribuna do plenário e desferiu vários golpes no prefeito Dário Saadi (Republicanos) e para deixar claro com quem era o descontentamento citou por inúmeras vezes o nome do chefe do executivo.

A revolta de Rodrigo tem relação com o que o parlamentar apontou como falta de compromisso do prefeito em recuperar o asfaltamento na área de atuação do vereador, o Distrito do Ouro Verde. Farmadic afirmou que havia uma promessa de Dário, “apertado a mão e olhando no olho”, disse Rodrigo, em realizar o recape em vias da região, o que não aconteceu, mesmo com o propalado programa da prefeitura de recape de 70 km de vias de Campinas, que o vereador lembrou que é divulgado rotineiramente nas redes sociais de Dário. De acordo com Farmadic, o executivo alegou que o contrato para recapeamento terminou e não era possível atender outras localidades.

O asfalto foi, então, o estopim para o vereador elencar uma série de outros problemas. Mais uma vez destaco, ele é da base. Rodrigo da Farmadic citou a falta de estrutura e dignidade para quem procura atendimento médico no Hospital Ouro Verde. Pessoas doentes que passam horas para serem atendidas, enfrentam superlotação, instalações em abandono e sofrem com o calor pela falta de ar-condicionado em uma das principais unidades de saúde de Campinas.

O discurso do parlamentar também lembrou a caótica situação do transporte público da cidade, afetado pelas escolhas administrativas da gestão Dário Saadi com a obra sem fim do BRT e mudanças para pior nos veículos para atender os passageiros. Rodrigo da Farmadic ainda atacou a incapacidade do governo em realizar a reforma do Bosque do DIC 1, a qual havia recurso disponibilizado pelo governo do estado, mas, segundo o vereador, a prefeitura perdeu o prazo para formular o projeto.

Rodrigo da Farmadic não estava sozinho. O vereador concedeu a palavra ao líder do União Brasil na Câmara, o vereador Edison Ribeiro, que tem como base de atuação outro distrito, o do Campo Grande. Edison concordou com a revolta do colega: “Campo Grande e Ouro Verde são o alicerce do prefeito. Tratou, cumpriu. Se o senhor está indignado, eu, como líder do partido, endosso todas as suas palavras”.

Por fim, Rodrigo da Farmadic, por toda a sua frustração com Dário, indicou a revisão do apoio ao governo e, claro, à candidatura de Dário Saadi para a reeleição. Demonstrando incômodo e batendo o celular no púlpito, o vereador foi enfático: “Nós temos autonomia. Nosso compromisso vence em agosto, com as convenções. Dali em diante a gente vê e escolhe melhor a decisão que a gente vai tomar”.

Foram 15 minutos de um duríssimo discurso que tende a ter uma repercussão da mesma proporção no Quarto Andar para tentar apaziguar os ânimos. Lembrando, o União Brasil tem dois vereadores que são representantes dos distritos que juntos reúnem a área mais populosa de Campinas e, por óbvio, o maior eleitorado.

Mais pancada
E não parou por aí. Na sequência do Pequeno Expediente, outro vereador da base do prefeito Dário também fez ataques ao governo e teve como alvo o secretário de saúde, Lair Zambon.

Otto Alejandro (PL) centrou fogo na precariedade do Hospital Ouro Verde e citou que recebeu denúncias, vídeos e foi presencialmente fiscalizar a situação do atendimento aos pacientes. “O que vi lá é desumano, é vergonhoso, é inaceitável que temos as pessoas naquela situação”, declarou o parlamentar em seu discurso.

O vereador afirmou que fez um requerimento para questionar os problemas encontrados no hospital e Otto Alejandro foi além: “Eu gostaria muito que prefeito ordenasse que o secretário levantasse a bunda da cadeira e fosse ver aquela situação. Eu tenho vergonha só de pensar, falar o nome do secretário de saúde da cidade de Campinas”.

CPI dos transportes
Com essa situação, a oposição quase ficou ofuscada. Eu disse quase. Isso porque o vereador Paulo Bufalo (PSOL) apresentou um pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar os contratos e licitação do sistema de transporte público na cidade.

O parlamentar aproveitou a reportagem do jornal Estado de São Paulo que trouxe novos detalhes de uma investigação do Ministério Público de São Paulo que apura o envolvimento de membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor de transporte público em Campinas, mais precisamente uma operação clandestina de transporte urbano dentro da cooperativa Altercamp, que faz parte do sistema.

Para Paulo Bufalo, finalmente uma oportunidade para fazer uma varredura nos transportes, entender a precariedade, vasculhar contratos eapontar as razões pela qual a prefeitura não termina obras e não consegue realizar uma nova licitação para mudar o atual contrato que foi considerado irregular há cerca de uma década.

O vereador cobra dos colegas as 11 assinaturas necessárias para que a CPI possa ser aberta.

Dário fora
Sempre bom lembrar que Dário Saadi não está no Brasil. A rebelião acontece enquanto o prefeito está em viagem a Dinamarca para um evento sobre saúde. Wandão, o vice e secretário de relações institucionais, é quem comanda a cidade interinamente até domingo.

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Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta da RM Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.