Nos anos 1980, a banda Barão Vermelho “dedicou” uma música ao companheiro Cazuza que havia deixado repentinamente levando todas as composições que integrariam o próximo álbum do conjunto para iniciar a carreira solo. Não preciso dizer que a situação revoltou os antigos companheiros e assim foi composta “Declare Guerra”. Um recado nem um pouco gracioso para o ex-vocalista. “Declare guerra a quem finge te amar”, dizia o refrão de uma das canções mais contudentes e pesadas do primeiro álbum com Frejat nos vocais.
Começo essa coluna com esta referência pois o sentimento é o mesmo no grupo de Rafa Zimbaldi, nome do Cidadania para a disputa da prefeitura de Campinas em outubro deste ano. Principal opositor de Dário Saadi, Zimbaldi veio compondo a candidatura ao longo deste três anos e tinha no PSDB do deputado Carlos Sampaio o seu grande aliado. Em 2020, Carlão abandonou o governo Jonas para integrar a chapa com Rafa naquele momento em que o deputado estadual era o então primeiro colocado nas pesquisas.
Agora, é Rafa que sente o gostinho de abandono. Quem acompanha a coluna já leu sobre a aproximação do tucano com o prefeito Dário Saadi (Republicano). A famosa foto entre eles, felicíssimos, na festa de 100 anos da Sociedade Hípica de Campinas já foi um sinal de alerta. Essa aproximação se fortaleceu e Carlos Sampaio tem o seu próprio projeto para o PSDB este ano, com nova lideranças, e o plano não inclui enfrentar a situação.
O problema por si só já é um baque para Rafa que perde o principal e até aqui único partido aliado, mesmo que seja esse combalido PSDB. Mas há outro. Cidadania e PSDB estão unidos por uma Federação que foi criada em 2022 para as eleições gerais e precisam seguir juntos por quatro anos. Em suma, as legendas em Federação atuam como se fossem um único partido e são obrigadas as seguir as decisões que forem determinadas. Ou seja, se em convenção a Federação PSDB-Cidadania decidir que não terá um candidato a prefeito e que o grupo irá apoiar um nome de outro partido, não há o que fazer, e os partidos unidos e seus membros são obrigados a cumprir a determinação.
Aí o drama vivenciado por Rafa Zimbaldi que pode ter a candidatura negada caso a Federação decida por este caminho de integrar o arco de aliança para a reeleição de Dário Saadi. Zimbaldi tenta evitar o que seria um evento desastroso para suas pretensões, mas já analisa partidos para uma possível migração.
A vida anda ruim na aldeia
A guerra foi declarada, mas é velada. Não será o próprio Rafa Zimbaldi quem partirá para o ataque, mas novamente parafraseando o Barão Vermelho: “Chega de passar a mão na cabeça de quem te sacaneia”.
O neo-aliado de Rafa, o jovem candidato a vereador Vinícius de Oliveira escancarou a batalha. Antes, um pouco do perfil do garoto. Vinícius cresceu e muito nas plataformas digitais com um discurso em defesa agressiva de pautas bolsonoristas (escola cívico-militar, contra aborto, a favor da família, etc).
Hoje, o antigo Vini Ziegler apoia a candidatura de Rafa Zimbaldi, inclusive com interações entre os perfis dos dois no instagram. Vinicius de Oliveira passou a também visitar bairros e locais públicos de Campinas para expor os problemas de infraestrutura. Atualmente, ele tem quase 60 mil seguidores no instagram.
Com essa base, o garoto virou a bucha de canhão e soltou a bomba expondo o suposto acordo entre Dário Saadi e Carlos Sampaio (retratado como um rato), o qual ele chama de “vendido”, pois, segundo o pretenso vereador, o deputado federal “vendeu a dissolução da candidatura de Rafa Zimbaldi através da Federação”.
Aguardemos o desenrolar desse enfrentamento bélico, mas a situação é desfavorável a Rafa Zimbaldi.
Plantou a semente
O vereador Paulo Gaspar, do partido NOVO, dirigiu-se ao Ministério Público para protocolar um ofício solicitando que a promotoria emita uma recomendação à Prefeitura Municipal de Campinas, com o intuito de realizar com urgência um inventário arbóreo georreferenciado em toda a cidade. Este inventário visa identificar as espécies de árvores existentes, avaliar o estado de saúde e determinar a necessidade de manutenção ou remoção de cada indivíduo avaliado.
Além disso, o vereador requereu que, caso haja uma multa estabelecida pelo Juízo após o julgamento de uma ação civil pública, os fundos decorrentes dessa multa sejam direcionados para a elaboração do inventário arbóreo. Isso seria uma alternativa à destinação desses recursos para o Fundo Especial de Despesa de Reparação de Interesses Difusos Lesados, buscando evitar a alegação frequente do Poder Executivo sobre a escassez de recursos orçamentários.
Por fim, Paulo Gaspar solicitou a inclusão, no rol de pedidos da ação civil pública, da possibilidade de afastamento do Secretário Municipal de Serviços Públicos que estiver ocupando o cargo no momento, caso a recomendação da Procuradoria ou as determinações da sentença judicial não sejam atendidas.
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Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta da RM Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.