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19 de maio de 2024

POLÍTICA

Tempestade política para Dário

Por Flávio Paradella
Especial para a Sampi Campinas

24/10/2023 - Tempo de leitura: 4 min

Reprodução

Eucalipto que caiu no Taquaral em janeiro e vitimou uma criança de 9 anos

As palavras do Ministério Público foram duras, classificando a gestão de Dário Saadi (Republicanos) como tendo uma "completa incapacidade" para o manejo das árvores em espaços públicos de Campinas. A "negligência" alegada teria resultado em duas mortes evitáveis na cidade. O Ministério Público move uma ação civil contra a Prefeitura, requerendo uma indenização de R$ 1 milhão por danos morais coletivos, alegando que a administração teve uma “postura irresponsável".

A tormenta para o prefeito se desdobrou a partir da promotoria, que analisou os episódios trágicos ocorridos devido às fortes chuvas do último verão. Estes incluem a morte de um técnico de eletrônica de 36 anos no Bosque dos Jequitibás no final do ano passado, e de Isabela Fermino, de apenas 7 anos, na Lagoa do Taquaral, em janeiro.

O promotor de Justiça José Fernando Vidal de Souza, responsável pela ação, afirma que relatórios do próprio Ministério Público "comprovam que o acidente em razão da queda de uma árvore figueira no Bosque dos Jequitibás poderia ter sido evitado se o Município tivesse avaliado a árvore em momento oportuno e tomado as medidas adequadas".

A Prefeitura de Campinas respondeu que a defesa do município será apresentada no processo judicial e que a lisura da administração municipal será comprovada.


Contudo, o estrago político parece inevitável. O documento apresentado pelo Ministério Público é robusto, repleto de documentação e palavras incisivas. Analisa meticulosamente a sequência de eventos que culminou na morte de duas pessoas. A situação se configura como um revés administrativo e político para o prefeito Dário Saadi, que vê sua gestão envolvida em uma ação civil de tamanha contundência. O prefeito será alvo de ataques dos adversários políticos, que usarão as palavras impactantes proferidas pela promotoria para questionar sua administração.

Ainda não há data para uma sentença, mas este é um assunto extremamente espinhoso, que abriu uma ferida considerável nos corações dos habitantes de Campinas. O apontamento da promotoria, classificando a administração como irresponsável e negligente, coloca o gabinete de Dário Saadi em um estado crítico.

Palavras machucam
O vereador Paulo Gaspar (Novo) foi um dos primeiros a expressar críticas ao prefeito, após a divulgação da ação civil por parte da promotoria. Em um comunicado, o vereador afirmou que "o Ministério Público Estadual, em concordância com o relatório da Comissão de Arborização do Legislativo, alegou que houve negligência da Prefeitura no manejo das árvores que caíram e causaram as duas mortes em Campinas".

É importante ressaltar que, embora a crítica seja válida, o Ministério Público chegou a essa conclusão com base em suas próprias avaliações, e não devido ao relatório da comissão. Os vereadores desempenharam um excelente trabalho ao coletar depoimentos, investigar as condições das árvores no local e reunir uma documentação substancial. No entanto, é crucial separar os méritos de ambas as partes.

Adicionalmente, é relevante mencionar que, apesar do intenso e significativo esforço, o relatório da comissão não foi validado, devido à entrega fora do prazo pelos parlamentares.

Plano antienchente
Coincidência ou não, a gestão divulgou que o prefeito Dário Saadi esteve nesta segunda-feira no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no Rio de Janeiro, para uma reunião com o presidente da instituição, Aloísio Mercadante. O encontro teve como pauta a liberação de R$ 517 milhões em investimentos para as obras de drenagem na cidade. Outro problema crônico do município na temporada de chuvas intensas.

Em março de 2022, Dário apresentou o plano antienchente com sete reservatórios, sendo seis novos, além de uma galeria e três reforços em travessia de água. As obras realizadas em dois córregos da bacia do Ribeirão Anhumas: no córrego Serafim, que fica na Orosimbo Maia; e no Proença, na Princesa D'Oeste.

Belo projeto, mas que a prefeitura não tem a menor condição de tocar sozinha e desde então espera pela avaliação de financiamento. Agora, a gestão afirma que o projeto avançou e foi para a última etapa de análise.

Cantando na chuva
Quem está “cantando na chuva” de felicidade ou “todo pimpão”, como disseram na Câmara de Campinas, é o ex-presidente da casa, Zé Carlos (PSB), que teve a investigação de suposta rachadinha arquivada pelo Ministério Público por não existir indícios suficientes a embasar uma ação judicial contra o vereador neste caso.

Zé Carlos chegou a enviar pelo Whatsapp uma arte com a reprodução da notícia.

É, realmente, uma vitória do combalido ex-presidente, que se viu envolto a grave denúncias e precisou renunciar ao comando do legislativo.

Zé Carlos ainda responde pelas supostas irregularidades em contratos terceirizados da Câmara.

Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta de Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.