Eis que no final de um julho quente, como alerta para os primeiros dias de agosto, lançamos mão não só de agasalhos como também de caldos, sopas, cremes e do... chocolate quente, delícia tão enraizada na memória coletiva dos brasileiros, como o guaraná no verão.
Por Sonia Machiavelli
da Redação
01/08/2021 - Tempo de leitura: 3 min
Dirceu Garcia/GCN
Ingredientes
(Para seis pessoas)
A terceira onda de frio chegou chegando, para surpresa geral dos brasileiros. É que 2020 não teve inverno, sequer tiramos do armário casacos mais pesados ou edredons quentinhos. As estações estão mudando, resultado das abusivas relações do homem com o planeta. Então, eis que no final de um julho quente, como alerta para os primeiros dias de agosto, lançamos mão não só de agasalhos como também de caldos, sopas, cremes e do... chocolate quente, delícia tão enraizada na memória coletiva dos brasileiros, como o guaraná no verão. Se este se associa aos dias quentes, praias, piscinas, brincadeiras, crianças, sol, festas de final de ano e férias, aquele é a bebida imediatamente lembrada se o ventinho frio anuncia ao entardecer que o tempo virou e é preciso aquecer o corpo e o coração. Guaraná e chocolate são considerados bebidas com sabor nostálgico, que remetem à companhia de mãe, afetos de família, amigos de infância, horas boas de convívio, até mesmo algumas de solidão, olhando da janela a chuva que cai, seja no inverno ou no verão.
Por questão de contexto, fiquemos com o chocolate quente que agrada a todo mundo, de mamando a caducando. Pode ser tomado pela manhã, substituir o café da tarde, ser par para a pipoca que maratona séries, oferecido à visita que chega de repente. Sua textura espessa e sedosa, o perfume que dele emana, o jeito aveludado de chegar à boca e descer pelo esôfago, tudo isso vai aquecendo o corpo enquanto proporciona a quem o ingere uma sensação de bem-estar. Todo esse prazer proporcionado por uma caneca de chocolate quente e recebido como gratificação pelos sentidos tem a ver com o benefício para a saúde que representa.
Nessa área são muitos os benefícios já confirmados por estudos médicos. Pesquisadores atestam, por exemplo, que o chocolate quente aumenta a microcirculação, por conta dos mais de 500 compostos químicos nele contidos. Eles ajudam o cérebro a liberar endorfinas que despertam sentimentos de prazer e relaxamento. Um dos compostos se chama “theobrina”, e está relacionado a um dos primeiros nomes que o fruto ganhou dos botânicos europeus: theobrama, ou seja, bebida dos deuses. O nome original do fruto, “cacao”, se manteve em todas as línguas ocidentais. E “txocoatl”, nome com que os astecas denominavam a infusão de chá de cacau que lhes dava tanta energia, pouco mudou nas línguas latinas: é o nosso chocolate. No nosso inverno, o consumo de chocolate aumenta em um terço, segundo pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates.
Consumido exclusivamente como infusão de sementes do fruto durante a maior parte de sua história de 4.000 anos, que começa na América Central e nas terras baixas do México com os nativos, o chocolate foi por três séculos um luxo reservado às elites, porque era muito caro. Somente em meados do século XIX, com a expansão do cultivo e a invenção do equipamento da prensa hidráulica, que extraía a manteiga do cacau, o preço começou a cair. Hoje ele é um produto disponível a grande parte da população, que pode consumi-lo de muitas maneiras. Cada família parece ter sua receita. A de hoje vem da avó de meu neto, Maria Helena Toledo Franchini.
Sua receita é muito elogiada, e tomo a liberdade de divulgá-la por aqui com um acréscimo pessoal que pode valer para outras receitas: sempre coloco uma folha de erva-cidreira, que confere um perfume maravilhoso a nossas narinas ressentidas do frio. Também gosto de colocar uma rama de canela, uns cravinhos-da-índia, anis estrelado, gotas de baunilha. Mas um a cada preparação. Juntar tudo ao mesmo tempo confunde os sabores. Vá experimentando e escolhendo o seu preferido.
Faça assim. Leve o leite a ferver. Desligue e misture o leite condensado, o creme de leite, o chocolate em pó. Volte ao fogo. Quando ferver novamente, baixe a chama. Dissolva a maisena em uma xícara de leite frio, mexa bem e junte ao leite fervente, mexendo sem parar até ficar espesso, o que deve levar uns três minutos. Retire do fogo, agregue o licor e sirva.