ARTE

Quem foi a artista Leonora Carrington, surrealista que escapou de manicômios

Em seus quadros, sempre muito coloridos, ela sempre se representa com a figura de cavalos, enquanto seres de fábulas, feiticeiras, druidas, alquimia e elfos povoam sua imaginação.

Por Ivan Finotti | 01/04/2023 | Tempo de leitura: 3 min
da Folhapress

Reprodução/Berna González Harbour/Facebook

Dividida em dez módulos, a mostra parte de seus desenhos ainda criança e adolescente, quando estudou em Florença.
Dividida em dez módulos, a mostra parte de seus desenhos ainda criança e adolescente, quando estudou em Florença.

Primeira retrospectiva da pintora, escritora e escultora Leonora Carrington (1917-2011) na Espanha, Revelación traz 188 obras da artista na Fundação Mapfre, que fica no bairro dos museus da cidade, próximo ao parque do Retiro.

Dividida em dez módulos, a mostra parte de seus desenhos ainda criança e adolescente, quando estudou em Florença, passa pela época em que foi casada com o artista alemão Max Ernst (1891-1976) na Europa e chega até a maturidade, quando morou em Nova York e, principalmente, na Cidade do México.

Com uma visão já voltada à ecologia e aos direitos das mulheres e uma vida cheia de aventuras, Carrington se negou a ser a musa de pintores como Max Ernst (com quem se casou aos 20; ele tinha 46 anos e rompeu um casamento por ela) e assumiu o surrealismo como principal meio de expressão.

Em seus quadros, sempre muito coloridos, ela sempre se representa com a figura de cavalos, enquanto seres de fábulas, feiticeiras, druidas, alquimia, elfos, gigantas e outros entes fantásticos povoam sua imaginação artística.

A maior parte da exibição é formada por quadros e desenhos, mas há livros (de sua biblioteca e também os que escreveu), esculturas e tapeçarias. Ao final dos dois andares da fundação, está lá o enorme painel "O Mundo Mágico dos Maias", ao lado de uma série de desenhos preparatórios, realizados entre 1963 e 1964 para o Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México.

"É uma oportunidade rara, pois quase a totalidade das obras foram emprestadas por 60 colecionadores privados. De museus, apenas umas 10", afirma a diretora de cultura da fundação, Nadia Arroyo Arce. A mostra foi realizada em colaboração com o Museu Arken de Arte Moderna da Dinamarca.

Nascida na Inglaterra, o cerne de sua criação partiu de sua mãe irlandesa, grande apoiadora de sua vocação, e da cultura celta. Com relação complicada com o pai, ela foi expulsa de duas escolas, sendo tachada como "ineducável", conforma conta Arce. Já aos 10 anos, a menina se identificou com o movimento surrealista, ao ver uma exposição em Paris, levada por sua mãe.

A guerra separou Carrington do alemão Ernst e, após uma sombria passagem por um sanatório na Espanha, seu pai decidiu interná-la em outra casa de saúde, desta vez na África do Sul. Prestes a embarcar, ela fugiu, refugiou-se na embaixada do México em Lisboa e convenceu o embaixador e poeta mexicano Renato Leduc a um casamento de conveniência para se ver livre do pai.

Foi dessa forma que chegou a Nova York em 1941 e, no ano seguinte, ao México, destino de diversos artistas europeus durante a grande guerra que assolou o continente entre 1939 e 1945. Ela tinha 25 anos e viveria ali, com a exceção de algumas pequenas temporadas, até os 94 anos.

"No México, ela se conecta ainda mais com a cultura de magia e alquimia, pois esses temas eram muito mais comuns por lá do que pelos Estados Unidos e pela Europa", diz Arce.

Seu círculo, no entanto, sempre foi mais entre os expatriados e menos entre os artistas locais. Não se conhece uma colaboração mais profunda, por exemplo, entre Carrington e Frida Kahlo (1907-1954), apesar de ambas transitarem no mesmo movimento surrealista.

**LEONORA CARRINGTON - REVELACIÓN**
Quando De ter. a sáb., das 11h às 20h; seg., a partir das 14h; dom. e fer, das 11h às 19h. Até 7/5
Onde Fundación Mapfre, paseo de Recoletos, 23, Madri, Espanha
Preço 5 euros (gratuito às segundas)

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