GEOLOGIA

Você sabia que havia um oceano em Campinas? Entenda a história

A conclusão foi possível após estudos com rochas encontradas no Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim

Por Thiago Rovêdo | 02/04/2023 | Tempo de leitura: 2 min
Especial para Sampi Campinas

Felipe Bezerra/Unicamp

Professor Wagner Amaral no parque ecológico
Professor Wagner Amaral no parque ecológico

Um dos mais tradicionais pontos turísticos de Campinas, Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim nem sempre foi a área verde e amena para visita. Uma pesquisa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) mostrou que há cerca de 626 milhões de anos, a cidade era coberta por um oceano e a conclusão foi possível após estudos com rochas encontradas no parque público a caminho do distrito de Sousas.

Wagner Amaral, do Departamento de Geologia e Recursos Naturais do IG Instituto de Geociências da Unicamp, estava andando de bicicleta pelo parque quando encontrou rochas máficas (escuras) com pontos em formato de “catapora” que apontavam para a presença do mineral granada. Isso despertou sua atenção. Como ele é docente de disciplina que pesquisa esse tipo de rocha, nada mais natural que as estudar.

A partir de análises feitas no microscópio eletrônico de varredura do IG, Wagner Amaral identificou a composição química do mineral e as texturas presentes nas amostras de rochas. “O microscópio revelou feições que são evidências de que essas rochas atingiram um grau metamórfico muito elevado, típico de zonas de subducção, quando duas placas tectônicas começam a deslizar uma para debaixo da outra”, disse.

Ele comprovou, por meio de análises petrográficas e geoquímicas, a existência de rochas de fundo oceânico em um afloramento presente no parque. A formação pode estar associada à evolução do supercontinente Gondwana.

“No caso de Campinas, as rochas do assoalho oceânico desceram para debaixo de uma outra crosta, a uma profundidade superior a 45 km, foram metamorfizadas em condições de alta pressão e, posteriormente, exumadas por processos geológicos que possibilitaram que fossem encontradas na superfície”, explicou o professor.

Esse metamorfismo foi também datado no Lagis (Laboratório de Geologia Isotópica), do IG, a partir de análise geocronológica de um mineral chamado rutilo, o que estabeleceu a idade de aproximadamente 626 milhões de anos.

“Ao retornar à superfície e passar por um processo de descompressão, as rochas adquiriram texturas como os simplectitos, uma espécie de intercrescimento de duas ou mais fases minerais em desequilíbrio. Assim, a rocha permaneceu, por milhões de anos, enfrentando outros movimentos tectônicos, deformações, glaciações e erosão. Esses fenômenos causaram a intemperização da rocha, deixando-a exposta em formato de afloramento”, explica Amaral.

A descoberta de Amaral é coerente com situações geológicas similares encontradas no sul de Minas Gerais, nas regiões de São Sebastião do Paraíso, Varginha e Pouso Alegre, que também têm rochas com idade, composição química e contexto geológico semelhantes às encontradas em Campinas.

Os sete continentes já estiveram reunidos em uma única massa, um supercontinente chamado Pangeia. E, antes disso, há evidências de outros que remontam a mais de três bilhões de anos: Panótia, Rodinia, Columbia/Nuna, Kenorland e Ur.

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