28 de dezembro de 2025
COLUNISTA

90 segundos para meia-noite

Por Hugo Evandro Silveira |
| Tempo de leitura: 4 min
Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril

O Alerta Profético do Matemático John Lennox sobre a Inteligência Artificial

Vivemos um tempo em que a tecnologia avança mais rápido do que a nossa capacidade de refletir sobre ela. Novas ferramentas surgem todos os dias, enquanto a maturidade ética e espiritual caminha com dificuldade. Nesse ritmo acelerado, somos empurrados para frente sem tempo para perguntar se estamos indo na direção certa. É nesse cenário que o matemático e filósofo de Oxford, John Lennox, levanta um alerta que ultrapassa a esfera técnica. Em seu livro "2084: Artificial Intelligence and the Future of Humanity", ele afirma que o verdadeiro problema da Inteligência Artificial não está nos algoritmos, mas no lugar que ela começa a ocupar. Quando a IA invade espaços ligados à consciência, à moral e à espiritualidade, o risco deixa de ser apenas tecnológico e se torna profundamente humano.

Esse alerta ganha ainda mais peso quando Lennox dialoga com o mundo contemporâneo, como em sua entrevista ao canal de Sean McDowell (The End of the World? John Lennox on AI and the Book of Revelation). Ali ele confronta a ideia comum de que a humanidade caminha inevitavelmente para um progresso contínuo e seguro. À luz da Bíblia, essa promessa não se sustenta. Ao refletir sobre Mateus 24, Lennox observa que Jesus não descreve o futuro como uma era de clareza crescente, mas como um tempo marcado pelo engano. O perigo maior não seria apenas o caos ou a violência, mas a confusão entre verdade e mentira. A pergunta central deixa de ser "o quanto a tecnologia pode avançar" e passa a ser "quem estará preparado para discernir em meio a esse avanço".

O que torna essa análise tão relevante é sua ligação direta com a crise da verdade. A Inteligência Artificial não é apenas uma ferramenta de produtividade; ela amplia de forma inédita a capacidade de simular a realidade. Hoje, imagens, vozes e textos podem ser criados de modo quase indistinguível do real. O engano, antes limitado, agora se espalha com velocidade global. Não se trata de uma distopia futura ou de ficção científica, trata-se do nosso cotidiano. Nesse cenário, a busca por discernimento espiritual e integridade moral deixa de ser opcional. Torna-se uma necessidade vital para a preservação da verdade, da fé e da própria humanidade.

Para expressar a gravidade do momento, Lennox recorre a um símbolo histórico inquietante: o Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock) concebido por mentes do calibre de Albert Einstein e Robert Oppenheimer. Criado em 1947 ele marcava sete minutos para a meia-noite. Hoje, marca apenas noventa segundos. Essa aproximação não é alarmismo, mas resultado da avaliação de especialistas que compreenderam o poder destrutivo acumulado pela civilização moderna. Contudo, o risco atual vai além das armas nucleares. A Inteligência Artificial surge como uma ameaça mais silenciosa e profunda. Não se trata apenas de novas armas, mas da automação da própria capacidade humana de causar destruição.

Lennox deixa claro que o problema central não é a tecnologia, mas o coração humano que a controla. Sistemas extremamente poderosos, quando colocados nas mãos de pessoas podem se tornar instrumentos de opressão e morte. A Escritura já advertia que o coração humano é enganoso e doente. Quando essa realidade se une a tecnologias quase ilimitadas, surgem mecanismos frios e desumanos: vigilância total, armas autônomas e decisões tomadas sem misericórdia, empatia ou temor. Nesse contexto, nasce uma nova forma de idolatria. Muitos passam a confiar na técnica como solução para dilemas morais e existenciais. O Salmo 20 permanece atual: assim como alguns confiavam em carros e cavalos, hoje muitos confiam em sistemas e algoritmos.

A entrevista também revela um vazio espiritual crescente. Pessoas buscam companhia, sentido e direção em máquinas. Conversam com sistemas artificiais como se fossem pessoas reais. Isso não revela avanço, mas fome espiritual. O ser humano foi criado para se relacionar com Deus. Eclesiastes afirma que Deus colocou a eternidade no coração humano. Nenhuma tecnologia pode preencher esse espaço. No fim, a reflexão conduz a uma pergunta simples e decisiva: Em quem confiamos? No poder humano, que aproxima o relógio da meia-noite, ou no Deus eterno, que governa a história? A Inteligência Artificial pode impressionar, mas não é Deus. O trono não está vazio. Jesus reina. Essa é a nossa esperança. Com isso o cristão não ignora os perigos do mundo moderno, mas também não vive dominado pelo medo. Vive com discernimento, vigilância e fé. Usa a tecnologia, mas não a idolatra.