27 de dezembro de 2025
ALÉM DOS GRAMADOS

Três anos de adeus: memórias inéditas revelam o Rei

Por Nélson Itaberá |
| Tempo de leitura: 5 min
Acervo pessoal

A próxima segunda-feira, 29 de dezembro, marca o terceiro ano da morte do Rei do Futebol. Em todo o mundo, publicações relembram gols, trajetórias e títulos de Pelé. Em Bauru e Santos, a reportagem buscou memórias que vão além dos gramados, com foco na vida cotidiana do ídolo. Foram encontrados registros raros do menino batizado de Edson Arantes do Nascimento, nascido em Três Corações (MG), além de imagens do convívio social e familiar em Bauru, quando Dico participava das peladas nas ruas centrais da cidade, como a rua Rubens Arruda, onde ganhou o apelido que se tornaria eterno: Pelé.

São dezenas de objetos e imagens, a maioria inédita ao público. O mosaico apresentado é uma amostra desse acervo e também reafirma o compromisso com a preservação da memória e o apreço de quem reconhece a relevância da trajetória do atleta do século - na versão digital (JCNET), mais fotos.

• O relojoeiro Celso Luiz Furtado mantém expostas, em sua loja na quadra 20 da rua Araújo Leite, imagens que resgatam momentos da trajetória de Pelé fora dos gramados. "O Nobuji Nagasawa (1), que dá nome de bairro em Bauru, está em uma foto na entrega de título de Cidadão ao mineiro Edson. Em outra, à esquerda o pai do rei, Dondinho, no extremo à direita Pelé já campeão mundial, em 1958, com um time de japoneses (2) da região perto da igreja Santa Terezinha, aqui em Bauru", conta.


• O acervo também inclui uma carta recebida por Celso Luiz Furtado por meio do irmão caçula, Célio Furtado, que atualmente reside em Maringá (PR). A correspondência foi escrita por Maria Lúcia Nascimento Magalhães, irmã de Pelé. Celso guarda e exibe tanto o envelope quanto a carta, enviados da rua Coronel Joaquim Montenegro, nº 25, canal 6, em Santos (SP).

Varlei Venturini cresceu em uma casa localizada no meio do quarteirão da Rua Bandeirantes, antes da esquina com a Rua Agenor Meira. Conhecido na infância pelo apelido de Tatinha, ele relembra que Pelé e o irmão Zoca (Jair) costumavam colher mangas no quintal da família para brincar com os pés. "Tive nove irmãos, e o Antonio (já falecido) estudou na mesma classe do Pelé. Ele era cerca de quatro anos mais velho. Naquela época, eu estava no primeiro ano, no Ernesto Monte", recorda.

O prédio resiste em pé na esquina da Bandeirantes com a Agenor, ao fundos de Varlei na foto (4). Está fechado desde 2015. "Os mais novos estudavam no térreo (hoje ocupado por salão de cabeleireiro, bar, escritório). A gente brincava no pátio onde é estacionamento de carro hoje. Ele (Pelé) brincava no gol (na rua)", recorda.

A Prefeitura já foi incitada a desapropriar e preservar o imóvel, ocupando com algum projeto em educação e ou esporte. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico informa que, neste momento, está com tratativas junto a um empresário para instalar uma estátua de bronze de Pelé. A sugestão é a região da praça do avião (Bandeirantes).

O fotógrafo Pedro Romualdo guarda em seu arquivo tietagem com o já famoso Pelé durante visita ao Bauru Atlético Clube (BAC), nos anos 70. "Eu soube que o Pelé vinha gravar um filme aqui, peguei a máquina e corri pra lá. E fiz também meu registro com o Rei (5)", conta o santista.

TREINO NO BAC

• Moradora da Vila Santa Inês, Fabiana Inohue Batista (7) guarda um conjunto de 11 imagens originais de Pelé durante treinamentos de férias no Bauru Atlético Clube (BAC) (8), onde o craque jogou na infância. O antigo campo, localizado na região do Altos, deu lugar a um supermercado. As fotografias foram herdadas do pai, que as recebeu do irmão, policial e admirador declarado de Pelé, responsável por preservar o material à época.

"Guardei as fotos. Meu tio era policial e muito fã do Pelé. Quando ele veio treinar, meu tio guardou os registros. Espero que alguém do Santos ou do Museu Pelé tenha interesse nesse arquivo", afirma Fabiana. Parte das imagens foi cedida para o especial produzido sobre a morte do Rei do Futebol.


• Atual secretário de Saúde de Bauru, Márcio Cidade (9) mantém em seu aparelho celular a reprodução de uma imagem publicada no jornal Tribuna de Santos, na década de 1960, que retrata o time do Ébano Atlético Clube (10) — um escrete formado por jogadores negros que atuavam na areia da praia do Gonzaga. "Assisti a muitos jogos do timaço do Santos. No 11 a 0 sobre o Botafogo (SP), eu ainda era menino. No Ébano, o Pelé jogava no gol. Não deixavam ele atuar na linha, senão não tinha graça", recorda.

Museu Pelé

Pelé e Pepe contam com um museu dedicado à preservação de suas trajetórias em Santos. A cidade litorânea onde o Rei do Futebol despontou para o mundo, a partir da década de 1950, abriga mais de uma estátua de Pelé espalhada por espaços públicos.

Localizado no bairro do Valongo, próximo ao cais, o Museu Pelé reúne um vasto acervo composto por fotografias, flâmulas, uniformes, bolas, medalhas e outras honrarias que marcam a carreira do atleta. O espaço também preserva registros importantes do período em que Pelé viveu em Bauru, incluindo imagens do primeiro contrato profissional assinado (11), sob os cuidados do técnico Waldemar de Brito.

Entre as relíquias expostas estão ainda objetos da infância, como o cofrinho de madeira (12) utilizado pelo menino Edson, a caixa de sapatos (13) com a qual arrecadava alguns trocados nas imediações da Estação Ferroviária e da praça Machado de Mello, além de chuteiras históricas (14) que ajudam a contar a trajetória do maior jogador de futebol de todos os tempos.