13 de dezembro de 2025
AFIRMA ESPECIALISTA

Perfurar novos poços seria uma alternativa à captação no Tietê

da Redação
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Divulgação
Titular da USP, Ricardo Hirata diz que Sacre mapeou áreas para novo complexo de poços

A proposta da prefeita de Bauru Suéllen Rosim (PSD) junto ao governo do Estado de captar água do Rio Tietê por meio de uma parceria público-privada (PPP) orçada em R$ 1 bilhão, anunciada como solução estrutural para o abastecimento, foi considerada como uma alternativas de alto valor para garantir segurança hídrica ao município pelo hidrogeólogo Ricardo Hirata, professor titular da USP e considerado um dos maiores especialistas do mundo em águas subterrâneas, durante audiência pública convocada pelo vereador Junior Rodrigues (PSD).

No entanto, na mesma oportunidade, o especialista deixa claro que o custo não é o único condicionante para uma escolha. Para ele, todas as soluções devem ser avaliadas em termos de custo-benefício, sendo a eleita aquela que melhor atender aos interesses da sociedade local. Tal opinião, inclusive, foi compartilhada pelo Presidente do DAE, João Carlos Viegas da Silva, também presente à audiência.

Hirata, também coordenador do Projeto Sacre, afirmou que um novo complexo de poços seria uma saída mais rápida e de menor custo, destacando que o estudo realizado na cidade já mapeou áreas aptas a receber o novo campo de poços. Para ele, como tanto a pesquisa de pré-viabilidade da transposição das águas do rio Tietê quanto a da Sacre ainda não foram concluídas, ainda não é possível indicar a melhor alternativa para a solução definitiva aos problemas de falta d’água em Bauru.

RECARGA

Ao apresentar os dados do Sacre, ele detalhou que a Bacia do Rio Batalha reúne um combo de problemas: assoreamento provocado pela supressão de matas ciliares, crescente competição por água entre agricultura, condomínios e o abastecimento urbano, além da constatação de que não há água suficiente para todas as atividades no período seco. O quadro se agrava com a ineficiência no sistema de distribuição, que perde 45% da água antes de chegar nas residências, e com a contaminação do Aquífero Bauru.

Hirata também afirmou que Bauru precisa adotar práticas de "cidade esponja", ampliando a infiltração da água da chuva e reforçando a recarga subterrânea, fundamental para o futuro do Aquífero Guarani, que deve ser preservado como reserva estratégica.

O Projeto Sacre (Soluções Integradas de Água para Cidades Resilientes) estuda as porções altas das bacias dos rios Batalha e Bauru para indicar soluções contra crises hídricas, que tendem a se intensificar com as mudanças climáticas.

Bauru foi escolhida por enfrentar episódios recorrentes de falta de água e por usar, simultaneamente, águas superficiais e subterrâneas, o que aumenta a complexidade do sistema e o interesse científico.

Já em relação às águas subterrâneas, Hirata destacou que o Aquífero Bauru também está contaminado por nitrato e outras substâncias emergentes. Situação que inviabiliza a perfuração de poços de até 30 metros de profundidade.

Cenário diferente daquele detectado no caso do Aquífero Guarani. Por ser mais profundo, ele tem uma barreira natural à contaminação. Porém, a recarga (recomposição do volume de água) é mais lenta.

O investimento necessário para a perfuração de poços para alcançá-lo também tende a aumentar com o passar do tempo, pois, em longo prazo, o processo de recarga será afetado pelas mudanças climáticas, demandando bombas mais potentes e, consequentemente, mais gastos com energia elétrica. O coordenador do Sacre chegou a citar que, hoje, o funcionamento de um poço abastecido pelo Aquífero Guarani chega a R$ 120 mil mensais. Para Hirata, a cidade precisa se preocupar em preservar o Aquífero Guarani. Trata-se de uma estratégia fundamental para trazer segurança hídrica às gerações futuras.