05 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Então é Natal

Por Zarcillo Barbosa | O autor é jornalista
| Tempo de leitura: 3 min

Quando vi a Simone cantando “Então é Natal, e o que você fez...”, fiquei convencido de que Papai Noel está mesmo para chegar. Até então, nem tinha percebido. Vi pilhas de panetones nos supermercados, a Eliane tirou a árvore de Natal do guarda-roupa e minha filha providenciou um belo cordão de luzes piscantes para a área do quintal. Nem assim tinha acordado para essa realidade de bimbalhar de sinos. Logo em seguida recebi a notícia de que o presidente Donald Trump havia revogado as taxações absurdas que pesavam contra os produtos agrícolas brasileiros. Vamos poder exportar, novamente, para o concorrido mercado americano que também se ressente do nosso café, da carne para o hamburguer e das frutas tropicais. Um verdadeiro presente que deixa o Lula saltitante. 

O Natal, que para os cristãos é profundamente a celebração do mistério da Encarnação – Jesus nasce de Maria -, no contexto atual torna-se uma festa social com trocas de presentes materiais.

A música original que a Simone popularizou no Brasil, na verdade nada tem a ver com o Natal. É de autoria de John Lennon e Yoko Ono (1969) e foi composta como uma canção de protesto sobre a Guerra do Vietnã. “War is over! (If you wont it)”. A guerra acabou! Se você quiser isso, diz o refrão da composição lírica. É um chamado à ação, sugerindo que a paz é uma escolha coletiva e que depende do desejo e do esforço de cada indivíduo para se tornar realidade. Assim como a proteção ao meio ambiente, uma outra guerra. Lennon pagou a reprodução do estribilho da sua música em centenas de outdoors nas principais capitais europeias. “Se quiser transmitir uma mensagem política, cubra ela com açúcar” – dizia o autor que dois anos depois (1971) nos daria o poético e também pacifista “Imagine”.

Que o original e verdadeiro sentido do Natal foi substituído pelo consumo, todos nós sabemos. Mas, quem vive de vendas sempre quer dar um jeito de ampliá-las. Assim surgiu a Black Friday que é o dia que inaugura a temporada de compras de Natal com significativas promoções. Os comerciantes a qualificam como superior em vendas ao próprio Natal. Estudos psicológicos afirmam que uma significativa parcela da sociedade norte-americana sofre da “shopping addiction”, isto é, dependência de compras. Na busca desenfreada da felicidade, as compras tornam-se uma dependência. Passadas as compras, volta a falta de significado na vida da pessoa dependente, com um vazio existencial.

Pois o real sentido da vida não é o consumo; o profundo sentido existencial está na convivência fraterna, nos relacionamentos saudáveis, na relação com o divino e o espírito de solidariedade.

Em todo caso, na próxima sexta-feira, dia 28, acontece a Black Friday, um dia depois da Ação de Graças, data reverenciada desde os tempos dos primeiros colonizadores dos Estados Unidos. Esta data, em que eles comem peru, ainda os brasileiros não copiaram, mas há os que procuram avacalhar o que seria o dia das pechinchas, chamando-a de Black Fraude. Lojistas aumentam os preços para concederem grandes descontos e o cliente paga o preço normal, ou talvez um pouco mais caro.  Outros acham que a Black Friday só serve para jogar na sua cara que mesmo com superdescontos você não pode comprar nada. Pelo menos, nos ritos religiosos, ainda não há 60% de descontos para os pecadores.

Cabe aos cristãos insistir na beleza e no significado original do Natal, que é Deus presente na vida das pessoas. A troca de presentes materiais não tem um fim em si mesmo, mas podem expressar o afeto fraterno ao próximo.

Que venham também o presépio, símbolo religioso tradicional. Revela a grandeza de Deus que se fez pequeno e frágil na manjedoura, por amor à humanidade. Felizes os antigos que depois do Natal ainda continuavam comemorando até o Dia de Reis. Os Reis Magos somente conseguiram chegar à estrebaria onde Jesus nasceu 12 dias após o Natal. Assim a festa prosseguia até 6 de janeiro. Depois é que começavam as brigas para pagar as contas com presentes e gastos extraordinários.