Em um país que vem consolidando sua posição como polo de inovação e tecnologia, a trajetória da Nacional Ossos é um exemplo de como a pesquisa e o empreendedorismo podem colocar o Brasil no mapa das soluções globais em saúde. Fundada em 1995 na cidade de Jaú, a empresa é pioneira na América Latina na produção de ossos sintéticos voltados ao ensino e hoje exporta para mais de 60 países.
O que começou como um experimento artesanal entre os fundadores Fabiana Franceschi e Paulo Costa Silva Filho tornou-se uma das mais respeitadas companhias do mundo no desenvolvimento de modelos anatômicos realistas. Seus modelos de ossos artificiais humanos e animais, usados por instituições de ensino na área de saúde, indústrias ortopédicas e consultórios médicos e odontológicos, possuem fidelidade surpreendente: reproduzem a anatomia interna e externa com densidades e texturas semelhantes às do osso real.
Mais do que simples réplicas, essas estruturas têm papel essencial na formação em ortopedia e veterinária. "Elas garantem segurança, padronização e repetibilidade nos treinamentos, essenciais para o avanço da medicina moderna. Além disso, reduzem a dependência do material biológico, cujo acesso é restrito", explica Fabiana.
Os produtos - que não podem ser implantados em pessoas ou animais - são usados em treinamentos, cursos e workshops, contribuindo para reduzir o risco de erros nos procedimentos. Hoje, o portfólio reúne mais de 2 mil modelos, entre ossos íntegros, fraturados e com deformidades, como joelhos desalinhados, pés com joanete e crânios com variações anatômicas, além de peças para artroscopia e aquelas com realidade aumentada.
Há ainda modelos com veias, artérias, músculos e tendões, que agregam realismo aos treinamentos em cirurgias minimamente invasivas. Todas as linhas possuem radiopacidade, permitindo o uso em exames de imagem.
Nos últimos anos, a Nacional Ossos expandiu sua atuação para o segmento veterinário, com linhas completas para cães, gatos e equinos, sempre buscando atender as necessidades dos profissionais e as tendências da medicina. "Temos a flexibilidade e a tecnologia para criar soluções sob medida", explica Paulo.
O processo é minucioso. Cada peça nasce do estudo detalhado da anatomia humana ou animal, com modelagem e injeção de poliuretano em moldes desenvolvidos na fábrica. O resultado são ossos que reagem mecanicamente como os reais, podendo ser perfurados, cortados e fixados com placas e parafusos, sem risco de contaminação e sem necessidade de ambiente cirúrgico.
Esse conjunto de inovações consolidou a empresa entre as três maiores do mundo do setor que atendem simultaneamente às áreas de ortopedia, odontologia e veterinária. Com a recente aquisição de uma operação em Portugal, a Nacional Ossos estruturou um centro de distribuição estratégico para a Europa, garantindo mais agilidade nas entregas e abrindo caminho para novos distribuidores em outros continentes.
"Nosso objetivo é tornar o acesso aos nossos produtos ainda mais rápido e eficiente e fortalecer a presença brasileira em mercados muito exigentes", afirma Paulo. Hoje, o mercado externo representa cerca de 20% da receita do negócio, com o continente europeu respondendo por parte importante das exportações, que também chegam a países como Estados Unidos, Índia e Israel.
Além do compromisso com a sustentabilidade e a bioética ao reduzir a dependência de ossos naturais em aulas e treinamentos, a empresa também adota boas práticas de fabricação, gestão de resíduos e mantém certificações que reforçam sua política ESG. "Nosso trabalho é transformar conhecimento em prática e contribuir com o futuro da saúde. Criamos produtos que ajudam a salvar vidas", resume Fabiana.
Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), houve um salto expressivo em investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) nos últimos três anos no Brasil. Com a retomada e o fortalecimento do papel estratégico do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), foram liberados mais de R$ 39 bilhões em recursos no período, ante a R$ 21,5 bilhões de 2020 a 2022, uma alta de 81%. Além disso, só em 2025, outros R$ 22 bilhões que estavam retidos passaram a ampliar a capacidade de financiamento em pesquisas de ponta.
Ainda de acordo com o MCTI, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), principal agência brasileira de apoio à inovação empresarial e científica, já investiu R$ 34 bilhões em 2.905 projetos de pesquisa e inovação vinculados à Nova Indústria Brasil (NIB), incluindo recursos para universidades e institutos de pesquisa e crédito a empresas.
Na área de saúde, entre os destaques recentes estão investimentos na construção do primeiro laboratório de segurança biológica máxima (NB4) do mundo, que permitirá estudos avançados de patógenos de alto risco; o fortalecimento do Complexo Econômico e Industrial da Saúde, focado em novos medicamentos, insumos farmacêuticos ativos e dispositivos médicos para o SUS; e o reator multipropósito (RMB) para pesquisa nuclear na medicina e indústria.