Poder e Controle
A história moderna tem sido marcada por ideologias que prometem libertação, justiça e igualdade. Entre elas, o comunismo se destaca como uma das mais influentes e destrutivas. No livro Política, Ideologia e Conspirações, Gary Allen, escritor e jornalista conservador norte-americano (1936-1986), demonstra que longe de ser um movimento de emancipação dos oprimidos, o comunismo representa uma estratégia de concentração de poder nas mãos de uma elite política e econômica — uma engenharia social travestida de justiça. Esse diagnóstico, quando examinado à luz do ensino bíblico, revela-se politicamente falacioso e perverso.
O comunismo, em sua essência ideológica, se apresenta como um projeto de "igualdade universal" e de abolição das classes sociais, contudo, conforme Allen expõe, essa proposta tem servido historicamente como instrumento para que pequenos grupos concentrem poder absoluto sobre as massas. A promessa de liberdade se converte em servidão, e o Estado suposto libertador, torna-se um deus tirano que controla, vigia e pune.
A Escritura Sagrada é clara quanto à raiz de projetos como esse - o profeta Jeremias afirma: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto" (Jr 17.9). A tentativa de estabelecer uma sociedade perfeita sem Deus é, inevitavelmente, a repetição da velha rebelião de Babel — um projeto humano de unificação e domínio que desafiou o senhorio divino (Gn 11.1-9). Assim, a ideologia comunista não nasce da justiça, mas da incredulidade: é o esforço humano de reconstruir o Éden sem o Criador. As Escrituras ensinam que toda redenção genuína vem de Deus, por meio de Cristo, e não das estruturas humanas: "O Senhor é o nosso juiz, o Senhor é o nosso legislador, o Senhor é o nosso rei; ele nos salvará" (Is 33.22). No entanto, o comunismo propõe uma redenção política, um messianismo secular onde o Estado se torna o salvador e o provedor, prometendo erradicar o mal social por meio do controle total da economia, da religião e da cultura. Trata-se portanto de uma idolatria institucional. A ideologia comunista ao negar Deus e exaltar o Estado constitui-se em um sistema religioso disfarçado — com dogmas, liturgias e sacerdotes ideológicos — que exige fé cega e obediência absoluta.
Allen em seu livro formulou uma crítica contundente ao comunismo, descrevendo-o como uma "isca ideológica" capaz de seduzir idealistas sinceros, mas que em última instância serve a propósitos autoritários. Segundo ele a ideologia comunista apresenta-se como uma promessa de emancipação das massas, mas na prática resulta em mecanismos de controle e empobrecimento coletivo, favorecendo os interesses de uma elite dirigente restrita. Para o seu tempo ele via no discurso comunista uma fachada messiânica, por meio da qual o sistema se proclamava "salvador dos trabalhadores" e anunciava o fim da pobreza e da desigualdade; contudo, o desfecho efetivo, em sua análise, era o oposto — a supressão das liberdades individuais, a institucionalização da censura, a estagnação econômica e a dependência total do Estado com o enriquecimento do mesmo.
À luz do cenário contemporâneo, é oportuno destacar que a Escritura não rejeita a autoridade civil; antes, delimita-lhe a legitimidade e a finalidade. O governo é instituído por Deus para promover o bem e reprimir o mal (Rm 13.1-7; 1Pd 2.13-17). Sempre que uma autoridade se absolutiza e usurpa a soberania divina, torna-se ilegítima (At 5.29; Dn 3; 6). Nesse sentido, o comunismo, ao negar explicitamente a soberania de Deus e erigir o Estado como instância suprema, converte a autoridade política em objeto de lealdade última, substituindo o "governar sob Deus" por "governar no lugar de Deus" (Sl 2; Jo 19.11). O desdobramento inevitável é a opressão, afinal apartado da graça e da lei de Deus, o ser humano não administra o poder com justiça, mas o transforma em instrumento de servidão (Ec 8.9). Em contraste, o evangelho proclama a liberdade do corpo e do espírito sob o senhorio de Cristo — "onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade" (2Co 3.17; Gl 5.1). Por isso, a fé cristã rejeita tanto o perverso materialismo capitalista quanto o coletivismo comunista sem liberdade: ambos falham por negarem os princípios da liberdade enraizada em Deus e a dignidade do ser humano criado à imagem do Eterno (Gn 1.26-28; Jo 8.36). Jesus disse: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8.32). A liberdade que o comunismo promete é ilusão; a liberdade que Cristo oferece é eterna. Somente a fé no Redentor pode libertar o ser humano do pecado, dos falsos deuses, sejam — o Estado, a ideologia ou o ego.