05 de dezembro de 2025
COLUNISTA

Pela dignidade da família e da infância


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Vivemos um tempo de aceleração cultural em que discursos liberais sobre sexualidade, identidade e família se espalham com força e não apenas informam como também procuram moldar a sensibilidade pública e redefinir padrões morais. Universidades, órgãos do Estado e grandes meios de comunicação repetem slogans, selecionam dados e o debate marginaliza a ciência e escorrega para o ativismo. Quando uma sociedade rompe com os marcos que a sustentaram por séculos abre-se portas para feridas sociais, perde-se referências, fragiliza o futuro, intensifica a polarização e enfraquece os laços comunitários.

A educação pertence à família e ao Estado. A Constituição diz isso com clareza. Os pais têm prioridade na formação moral dos filhos. A escola serve ao bem comum devendo ensinar com qualidade e respeitando a neutralidade pedagógica. Quando currículos antecipam temas de sexualidade sem maturidade cognitiva ou trocam ciência por militância há desvio de finalidade. Materiais que reclassificam família e gênero precisam de seriedade interdisciplinar. Precisam de consentimento dos pais. Defender isso não é censura. É proteger a criança. É guardar a liberdade de consciência. É cumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente.

A ciência quando exposta com responsabilidade, distingue com clareza dados, teorias e juízos morais. A biologia e o desenvolvimento humano oferecem fatos verificáveis; por outro lado as interpretações sociológicas são hipóteses a testar. Quando essas esferas se confundem, uma tese particular vira dogma e preferência vira regra. Por isso, a escola deve informar com base científica e formar preservando a liberdade de consciência, sem constrangê-la.

Como esta coluna trata de fé, vale afirmar com clareza que a fé cristã sustenta um humanismo pleno: em Gênesis, homem e mulher aparecem como dádiva e portadores da imagem de Deus, o que confere ao corpo uma dignidade que o impede de ser objeto e o reconhece como obra prima divina; a família surge como aliança e primeiro espaço de cuidado, transmissão de virtudes e formação do caráter; a infância, por isso, requer proteção prioritária, como mostra Jesus quando acolhe as crianças e as coloca no centro. A liberdade que o Evangelho oferece não é licença para qualquer desejo, mas liberdade para a verdade, que nos liberta para amar com responsabilidade; assim, a sexualidade encontra seu sentido na aliança do núcleo familiar em respeito mútuo. Sempre que a reduzimos a consumo ou entretenimento, empobrecemos a pessoa, fragilizamos vínculos e ferimos o tecido social; mas quando a enraizamos no amor que se compromete, promovemos florescimento humano, justiça e paz.

Se faz urgente estabelecer padrões de convivência que garantam currículos transparentes e neutralidade pedagógica efetiva. A participação dos pais em conselhos escolares deve ser incentivada como mecanismo de controle social e de corresponsabilidade educativa. As escolas precisam assegurar conteúdos adequados à faixa etária, vedando qualquer sexualização precoce e qualquer romantização de práticas ilícitas. A liberdade de cátedra deve vir acompanhada de responsabilidade acadêmica, com docentes comprometidos em ensinar a pensar, e não em prescrever o que pensar. Por fim, o dissenso é parte da vida pública, mas nenhuma divergência teórica autoriza a desumanização do outro.

A Escritura nos convoca a sermos sal e luz no mundo (Mt 5.13-16) e a falar a verdade em amor (Ef 4.15), especialmente quando estão em jogo a dignidade e a proteção dos pequeninos (Mt 18.6; Sl 82.3-4). Nessa tarefa, o senhorio de Cristo constitui o princípio normativo da ética cristã: obedecemos não por medo, mas por amor à verdade e ao próximo (Cl 3.17; Jo 14.15; 1Jo 4.18-19). O evangelho não confisca a alegria; antes, a purifica e a plenifica (Jo 15.11; Fp 4.4), orientando a liberdade para o bem que edifica (Gl 5.13). Por isso, "tudo me é lícito, mas nem tudo convém" (1Co 6.12; 10.23): em Cristo, liberdade não é ausência de limites, mas capacidade de amar com responsabilidade e coragem, fruto do Espírito que nos forma em domínio próprio e serviço (Gl 5.22-23; 1Pd 2.16).

Convidamos famílias, educadores e autoridades a firmar um pacto de responsabilidade e esperança para que a escola ensine com excelência e verdade, que as famílias eduquem com amor e presença, que o Estado garanta direitos e limites justos. Como discípulos de Jesus, resistiremos a toda ideologização da infância não por hostilidade, mas por fidelidade ao Deus que criou homem e mulher, instituiu a família e nos confiou o cuidado dos mais frágeis. Que o Senhor nos conceda sabedoria para discernir, coragem para proteger e mansidão para dialogar, a fim de atravessarmos este tempo difícil com a firmeza da verdade e a beleza da graça de Cristo.