A concorrência pelo esgotamento sanitário e drenagem de Bauru expõe um retrato raro nas concessões: grandes operadoras nacionais fora por falta de atestados, empreiteiras regionais sem histórico em concessão buscando um salto para operações de grande porte e parceiras atuando em lados opostos do mesmo certame.
O Consórcio Sanear Bauru, formado por Arvek Técnica e Construções Ltda (líder), Era Técnica Engenharia, Construções e Serviços Ltda e Norte-Sul Hidrotecnologia e Comércio Ltda, reúne empresas com lastro em obras viárias e manutenção, mas sem experiência na operação de concessões de esgotamento sanitário, segundo apurou o JCNET.
“O ponto sensível é a relação da líder, Arvek, com uma concorrente direta no edital: a DP Barros”, afirma um analista ouvido pelo JCNET. Desde 2015, Arvek e DP Barros mantêm o Consórcio DP Barros/Arvek, responsável por obras de infraestrutura urbana para a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras de São Paulo. O Tribunal de Contas do Município de São Paulo registrou irregularidades no processo TC/000617/2012, relativo ao Contrato 018/CPL/SP-AF/2011 executado na Subprefeitura de Aricanduva, apontando subcontratações não autorizadas, pagamentos indevidos e participação irregular da autora do projeto básico na execução. O caso foi arquivado por prescrição em 2023, mas as falhas ficaram documentadas.
O Consórcio Saneamento Bauru é composto pela Companhia Brasileira de Infraestrutura (CBI, líder), Trail Infraestrutura Ltda, DP Barros Pavimentação e Construção Ltda e Construtora Coveg Ltda. Entre as integrantes, apenas a CBI tem alguma experiência operacional em concessões, segundo demonstra uma pesquisa de mercado feita pela redação: em Pirangi, município paulista de 11 mil habitantes, em consórcio com a Viva Ambiental, concessionária de Cabrália Paulista (na região de Bauru).
A DP Barros voltou aos holofotes em julho de 2025, quando o Tribunal de Contas da União (TCU) proferiu acórdão condenando o Consórcio Enpavi/DP Barros a ressarcir quase R$ 9 milhões por irregularidades em um contrato (006101/2015) de Guarulhos. O relatório apontou sobrepreço e superfaturamento em obras de mobilidade (corredores BRT), divergências na execução e serviços não realizados.
A terceira concorrente é a espanhola Acciona Agua S.A.U., com atuação em sistemas de água e esgoto no Peru, Chile, Espanha e, mais recentemente, no Brasil. A empresa se habilitou com atestado internacional, amparada pela exigência inédita de experiência em operação de “piscinões” (drenagem urbana) conjugada ao saneamento.
O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) solicitou 13 esclarecimentos técnicos sobre o atual edital da concessão, em sua terceira versão, sinalizando eventuais necessidade de ajustes pela Prefeitura de Bauru antes da deliberação final. A depender das alterações implementadas pela administração municipal, o número de concorrentes pode aumentar. Por ora, Bauru vive a expectativa de uma disputa bilionária que expõe as contradições e estratégias do mercado nacional de concessões — onde parceiros podem se tornar rivais em momentos oportunos, e onde a linha entre competição e coordenação permanece nebulosa.