05 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Ontem e Hoje

Por Olga Neme Daré | A autora é colaboradora de opinião
| Tempo de leitura: 3 min

"De tanto ver triunfar as nulidades,

De tanto ver prosperar a desonra,

De tanto ver crescer a injustiça,

De tanto ver agigantarem-se os

poderes nas mãos dos maus,

O homem chega a desanimar da

virtude, a rir-se da honra,

a ter vergonha de ser honesto!"

De Rui Barbosa (1849 - 1923), o "Águia de Haia", século XIX.

Estamos vivendo o século XXI: epidemias, mortes em massa, guerras, prisões injustas, e tudo isto, acrescido de um outro grande mal: o materialismo. Parece hilário tal afirmação, quando as Casas Religiosas estão lotadas de fiéis que ouvem e aplaudem as pregações. Deus tem sido apresentado sob aspectos tão estranhos pelos homens de seitas, que o espírito moderno se desviou Dele.

A Ciência, no momento, está impotente para evitar o mal, curar as feridas dos combatentes da vida, mas, esperemos que um dia, ela, a ciência, aliada à religião, fecundada por uma nova e racional filosofia, expelirá superstições e mitos. Então, não mais existirão ateus ou céticos. Uma fé simples, raciocinada, grandiosa e fraternal se estenderá sobre as Nações. Esta é minha esperança, alicerçada nos conceituados escritores que enxergam além da matéria.

Felizmente, entre nós, já existem pessoas que prestam atenção ao que está acontecendo, mas, a quem apelar? Algumas vozes se ouvem, como as de alguns jornalistas e homens públicos, conscientes, que clamam pela volta da verdadeira democracia, defendendo a liberdade de "ir e vir, pensar e falar", questionam atos de injustiça e insensibilidade moral e espiritual.

Mas, que tristeza! Pregam no deserto, pois diante de tanta violência e desrespeito à dignidade humana, a quem pedir justiça?

Chamou-me atenção uma publicação no Jornal da Cidade, a notícia de que o deputado francês, Raphael Gluksmann, sugeriu em um de seus discursos no plenário da Câmara francesa, que os Estados Unidos devolvessem à França, a Estátua da Liberdade, quase 140 anos depois que o monumento foi oferecido aos americanos (era a época em que Donald Trump estava expulsando os imigrantes tidos como ilegais que trabalhavam ali, ganhando o seu sustento).

O deputado afirmou que os Estados Unidos não mais representam os valores que levaram os franceses a tal gesto. "Devolvam-nos a Estátua da Liberdade", disse Raphael, "ela foi nosso presente aos americanos, mas, aparentemente, vocês a desprezam; então ela será mais feliz aqui, conosco".

No mesmo dia, no Jornal, eis que leio a notícia de que os acessos ao Morro do Corcovado, no Rio de Janeiro, onde está a estátua do Cristo Redentor, foram interditados no dia 17 de março, durante uma fiscalização, pela Secretaria de Estado e Defesa ao Consumidor e pelo PROCON do Estado em tela. A interdição ocorreu um dia após a morte do turista gaúcho Jorge Alex Duarte, 54 anos, que sofreu um infarto nas escadarias que levam ao Cristo Redentor, na manhã de um domingo.

O visitante passou mal às 7h:36min e o SAMU chegou às 8h:15min, mas a vítima não resistiu e morreu, por falta de atendimento imediato.

De acordo com a arquidiocese do Santuário do Cristo Redentor, o Posto Médico do complexo estava fechado (sem justificativa) quando o gaúcho passou mal.

Juntando-se este fato aos outros tantos que estão ocorrendo, seria o caso dos franceses, que ajudaram a construir o monumento do Cristo Redentor e ofereceram ao Brasil, pedirem de volta a oferta?

Humberto de Campos, conceituado escritor brasileiro, tem, entre suas obras, o livro "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho".

E agora? Estarão os brasileiros honrando os valores que levaram franceses e brasileiros a erguerem tão linda estátua? E como estará o escritor brasileiro se sentindo, na espiritualidade, diante de tantos acontecimentos de dor e desesperança, na sua "Pátria do Evangelho"?