05 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Lula e Trump negociam com elogios e pé no freio

Por Dirceu Cardoso Gonçalves | O autor é tenente e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
| Tempo de leitura: 3 min

O clima amistoso em que transcorreu o encontro entre os presidentes Lula da Silva e Donald Trump, domingo na Malásia, é o indicativo de boa vontade de ambos os governantes com vistas ao encontro do ponto de equilíbrio está possível solução dos problemas que afetam as duas nações. Desapareceram, pelo menos preliminarmente, os riscos de confronto sugerido pelo palavreado forte que os protagonistas vinham utilizando ao se referirem ao relacionamento Brasil-EUA. A idéia é que voltem a ter relação amigável e positiva como a que seus países cultivaram durante dois século, desde que ganharam autonomia e autodeterminação.

Trump falou da importância e belezas do Brasil no continente e do interesse dos EUA por manter boas relações. Lula pronunciou-se no mesmo sentido. Apesar de não terem, logo de início, fechado acordos - especialmente sobre o tarifaço, que elevou a 50% os impostos sobre os produtos exportados pelo Brasil, as duas delegações deixaram marcados encontros para as próximas semanas onde tratarão das diferenças e deverão fechar entendimentos que atendam aos interesses bilaterais. Pelo menos em princípio, restaram abertas as portas de negociação.

O americano manifestou o desejo de visitar o Brasil oportunamente e  indagou de Lula detalhes da prisão a que esteve  submetido; afirmou considerá-lo um perseguido político. Perguntado por  jornalistas, afirmou diante de Lula, o seu apreço ao ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem defende e considera vítima de impropriedades políticas.

Percebe-se, pelas informações pós-encontro, que a base das negociações estará no tarifaço e poderá resultar na redução da alíquota hoje praticada. Já a questão Bolsonaro possivelmente permaneça como ponto divergente entre Lula e Trump, da mesma forma que o sancionamento de ministros do Supremo Tribunal Federal e outras autoridades brasileiras através da suspensão dos vistos que os autorizavam a entrar nos EUA e da Lei Magnitsky, que os sanciona economicamente.  Lula propôs a não penalização ou sancionamento de autoridades brasileiras, mas parece não ter sido ouvido ou levado em consideração por Trump. Da mesma forma, ofereceu-se para atuar como mediador nas divergências dos EUA com a Venezuela, mas também não encontrou do outro lado a disposição de celebrar acordo nessa direção.

É importante considerar que as relações inter-países, para serem positivas, precisam contemplar os interesses dos dois lados, com os parceiros oferecendo facilidades e fechando negociações vantajosas com o oponente. Sem isso, não há razão para o relacionamento.

O fato de ter aberto o canal de negociação e até obtido declarações de ambos os lados de que pretendem fazer acordos vantajosos, é fator positivo que não só a população mas também os produtores e negociantes dos dois países deverão comemorar  e facilitar a execução. Brasil e Estados Unidos, seus governantes e povo só terão a lucrar se conseguirem conviver naquilo que os une e deixar no limbo os temas que os separam ou antagonizam. Espera-se que Lula e Trump, dois políticos octogenários, que viram e participaram das principais mudanças do mundo no último século, tenham sensibilidade suficiente para aproveitar as potencialidades de seus países e com isso fazê-los avançar e proporcionar melhor vida às suas populações. Que consigam o melhor entendimento possível e o façam pensando no presente; jamais nas próximas eleições. Como políticos de longa data, com mandatos já cumpridos, ambos sabem que a prioridade de todo governante deve ser cuidar bem da população que, por via eleitoral, os colocou no poder. Lula e Trump, nós os brasileiros e norte-americanos queremos ter motivos para admirá-los e agradecer o trabalho realizado. Executem tudo pela paz..

Na questão específica da perseguição política – que aqui no Brasil é cada ano que passa mais violenta – Trump, que vive e governa a milhares de quilômetros daqui, embora tenha sua posição ideológica, não chega a ser fanático por ninguém. Tanto que, considera perseguidos políticos, os aquiinimigos Lula e Bolsonaro. Teoria dos copos cheio ou vazio, bem ao gosto do freguês. Bom será o dia em que cada um cumprir sua missão com competência e zelo, sem prejudicar nem ser prejudicado. A vida se tornará melhor a todos...