Milhares de americanos foram às ruas, na semana passada, numa segunda rodada de manifestação chamada "No Kings" (Sem Reis), que visa rejeitar a agenda autoritária do presidente Trump.
O próprio Donald publicou um vídeo feito por inteligência artificial em que ele despeja fezes em manifestantes na Times Square. Na animação, o republicano usa uma coroa e está num jato nomeado "King Trump". Líquidos de cor marrom saem do caça e caem diretamente em pessoas protestando nas ruas.
A forma de Trump responder aos protestos foi um dos episódios mais grotescos da política recente, ainda mais em se tratando da figura do atual presidente de um país que se orgulha da liberdade de expressão e do direito de protesto nas ruas.
Ao escolher uma arma escatológica para sua contrarresposta aos manifestantes, para alguns comentaristas Trump desqualificou e desmistificou o cargo de presidente. Um desrespeito à moral calvinista, tida por Max Weber como a grande impulsionadora do progresso americano.
Na teoria freudiana, a utilização de fezes que não seja como adubo na agricultura, representa um atraso da fase anal. Aquela quando a criança descobre que pode controlar o esfíncter - parte recém-descoberta do corpo - e encontra uma nova fonte de prazer. É o investimento libidinal que a criança faz numa zona erógena chamada ânus.
Freud explica bem o que é isso, numa famosa frase: "Onde amam, não desejam; e onde desejam não podem amar". Ou, pelo menos, não se podia no século do "pai da psicanálise".
O cientista austríaco observava essas questões consideradas "normais", como se fosse uma fase da vida pela qual todos passam. Alguns se atrasam e marcam passo na etapa. A evacuação como distúrbio ele colocava em outro patamar, o do emocional, ligado a fatores psicológicos como a ansiedade, o medo ou problemas comportamentais.
Na Bíblia, as fezes são usadas como um símbolo de impureza e castigo, como nos livros de Ezequiel e Isaias. Nos Salmos são utilizadas metaforicamente para representar julgamento e punição. Simbolizam impureza, desgraça e um estado de degradação.
Esse comportamento escatológico poderia significar desprezo pelo outro.
Na quinta-feira, uma escultura de bronze em formato de fezes, semelhante ao emoji, foi colocada no National Mall, nas proximidades do Capitólio de Washington. Na identificação da placa está o nome de Nancy Pelosi, então presidente da Câmara quando o Congresso foi invadido pelos partidários de Trump.
Lê-se, no cocô-monumento, que "Este memorial homenageia os bravos homens e mulheres que invadiram o Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021, para saquear, urinar e defecar por aqueles corredores sagrados, para anular uma eleição".
Seria uma maneira um tanto esdrúxula de protesto contra a vitória de Joe Biden, não reconhecida por Donald Trump. Sinceramente, acho que o deputado Eduardo Bolsonaro não teve nada a ver. Ele está ocupado com outro tipo de patriotismo dando dicas ao pessoal do Trump para que se pulverize algum barquinho na costa brasileira, a exemplo do que acontece em águas próximas à Venezuela.
Aquele "símbolo da democracia" em forma de cocô, tem autorização para ficar no local até o dia 30 deste mês, de acordo com o Washington Post. O Serviço de Parques do Distrito, responsável pela licença, esclareceu que não considera o conteúdo da mensagem. Ressaltou que "o principal espaço cívico da América, o National Mall, fornece um fórum no qual os cidadãos podem exercer seus direitos constitucionais de expressão e reunião". Em outras palavras, numa democracia, todos têm direito de fazer merda, onde quiser e em qualquer instância.
Se o Trump tivesse gosto mais refinado, em vez da massa fétida atirada na cabeça do povo, deveria despejar brownies e marshmallow, na mais pura tradição americana. Ainda mais com o Halloween tão próximo.