05 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Desafios da Fruticultura brasileira

Por Aloisio Costa Sampaio | O autor é Engenheiro Agrônomo, Prof. Associado da UNESP – Campus de Bauru (FC) e Botucatu (FCA), ex-presidente da ASSENAG e ex-presidente do XXIX Congresso Brasileiro de Fruticultura
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De 04 a 08 de agosto de 2025, ocorreu o XXIX Congresso Brasileiro de Fruticultura, 1ª Feira de Tecnologia ‘Brazil Fruits’ e X Prunus sem Fronteiras, em Campinas (SP), cujo tema principal foi o impacto das mudanças climáticas na Fruticultura. A promoção foi da Sociedade Brasileira de Fruticultura (SBF), entidade sem fins lucrativos, criada exatamente em Campinas em 1970, e que organizou em 1971 sua 1ª edição. O Brasil é o 3º maior produtor mundial de Frutas e apenas o 23º exportador de frutas frescas, decorrente do expressivo consumo interno, com potencial de crescimento enorme em função da diversidade, sabor e apelo nutricional das frutas, porém na dependência da ampliação do poder aquisitivo dos brasileiros.

O Estado de São Paulo destaca-se na produção e processamento, principalmente em cítricos como laranja e lima ácida Tahiti, mas também com relevância na produção de Banana, uva de mesa e vinho, goiaba, figo, manga, abacate, acerola e macadâmia. Recentemente outras frutíferas começam a surgir como opções de renda para agricultura familiar como pitaya, mirtilo, lichia e cacau.

A Fruticultura possui um valor agregado de produção por área bem superior as cadeias de produção de grãos, cana de açúcar e pecuária de corte, o que pode viabilizar a agricultura familiar com geração expressiva de renda e empregos. Como primeiro desafio abordado no XXIX CBF, há necessidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) planejar a modernização da maior Central Atacadista da América Latina, que é o Ceagesp de São Paulo, que pela sua importância no abastecimento nacional não pode parar. Os gargalos operacionais mencionados pelo presidente da Ceagesp no evento em Campinas são enormes, passando pela movimentação dos caminhões de carga, carregamento, descarregamento, armazenamento, cadeia de frio, possíveis inundações, congestionamentos nas áreas periféricas e marginais, custos elevados por uso de mão de obra intensiva, limpeza e segurança.

Trata-se de uma cidade com presença diária de 50 mil pessoas, que precisa de água, energia, manutenção e gestão de conflitos e interesses de permissionários ou atacadistas, não apenas de frutas, mas também de flores, hortaliças e pescados. Na exportação de frutas frescas o pólo de fruticultura irrigada de Petrolina/Juazeiro, bem como os Estados do Rio Grande do Norte e Ceará são destaques nas exportações de melão, manga e uva sem sementes, ficando o Estado de São Paulo com a primazia da Lima ácida Tahiti, Avocado, Figo, Atemóia e Macadâmia. No suco de laranja concentrado destaque absoluto com grandes empresas produtoras e processadoras, cujo desafio está na convivência com a principal doença da citricultura mundial que é a doença bacteriana denominada ‘Greening’, cuja disseminação está associada ao inseto vetor conhecido por ‘Psilídeo’.

Atualmente há uma legislação fitossanitária federal específica para manejo desta doença, que foi apresentada no Fórum de Defesa Vegetal. A citricultura brasileira pela sua pujança como maior produtor mundial ficou isenta das taxações irracionais do Sr. Trump, obviamente por não haver possibilidade de outros fornecedores aos Estados Unidos. Este desafio recente foi trazido no Simpósio da Manga pelo presidente da ABRAFRUTAS, Eng. Agrônomo Guilherme Coelho, pois a taxação de 50% das frutas está trazendo sérias dificuldades para a comercialização da manga e outras frutas brasileiras exportadas aos americanos. Na infraestrutura de exportação, o principal modal é o marítimo através do porto de Santos em função da importação de produtos por contêineres.

Neste modal os desafios passam por ampliação de terminais e logística de acesso ao porto, bem como a contratação emergencial de auditores aduaneiros, que possam dar celeridade principalmente aos produtos perecíveis. Felizmente Bauru conta com um Porto seco ou Entreposto Aduaneiro (EADI), cujo profissional do MAPA e parceiros realizam um trabalho diferenciado, o que resulta em importante local de inspeção sanitária de avocado, limão tahiti e mirtilo. Frutas mais perecíveis obrigatoriamente utilizam o modal aéreo, em aeronaves de passageiros, o que torna o Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), o grande terminal de exportação, inclusive do Nordeste e interior de São Paulo, pois há um grande fluxo de vôos internacionais. Ainda no Congresso, especialista em Tráfego aéreo, apontou a falta de um terminal específico para os perecíveis, que ficam juntos a todos os demais produtos, dificultando a movimentação dos palets.

No caso de algum imprevisto no carregamento, não há câmara fria que possa manter a qualidade do figo, goiaba, atemóia, pitaya, mirtilo, caqui, que não possuem uma conservação pós-colheita para o embarque marítimo, com custos ao redor de 1/3 do frete aéreo. Para finalizar fica claro que a sustentabilidade da fruticultura nacional passa por reformas estruturais complexas, que possam trazer ao setor competividade global, pois os mercados são amplamente disputados por outros grandes exportadores de frutas como: Chile, Peru, Colômbia, México, África do Sul, Austrália, Kênia, Marrocos, etc.