A precariedade habitacional não se configura apenas pela falta de moradia, mas também pela escassez de estruturas que garantam serviços básicos próximos dos moradores. A conclusão é do professor franco-colombiano Carlos Moreno, da Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne, que esteve no Brasil, em evento promovido pelo Instituto Motiva. "Esse é o elemento mais sério de viver na América Latina", destacou.
O professor trabalha com o conceito urbano, que visa à organização de bairros para que os moradores possam ter suas necessidades diárias - como saúde, comércio, lazer e educação - garantidas a uma distância próxima da sua residência.
A proposta tem o objetivo de reduzir a dependência dos carros e a poluição, além de melhorar a qualidade de vida e o bem-estar e promover a resiliência das comunidades.
"Mesmo que tenhamos boas intenções e construamos prédios de habitação social, se esses prédios forem caixas de fósforos, longe do centro, se a cidade se comportar como uma centrífuga que manda as pessoas com menos recursos cada vez mais para longe, estamos distanciando-as da vida por estarem nesses lugares sem serviços", disse o urbanista, no painel A Cidade de 15 Minutos.
Moreno defende que morar longe das regiões centrais e sem acesso a serviços é sinônimo de exclusão. "É o cerne do que estamos desenvolvendo e corresponde ao que estamos propondo: transformar nosso modo de vida na cidade para que nosso tempo seja útil e digno, para que tenhamos inclusão social e econômica, com serviços de saúde, educação, comércio, espaços públicos e cultura", destacou o urbanista. Para ele, o rápido aumento da urbanização deu origem a muita informalidade, uma grande carência de serviços e até mesmo dificuldade de convivência, especialmente na expansão de metrópoles do Sul Global.
EXEMPLO
O Brasil é um exemplo dessa dinâmica, com um aumento vertiginoso da população urbana a partir da década de 1970, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Estamos falando de um continente e de um país com cidades que representam um desafio considerável. Humanidade como prática são cidades humanizadas, onde nos reconhecemos em nossa diversidade. Cidades sustentáveis são aquelas ??onde levamos em conta não apenas a natureza e a biodiversidade, mas onde vivemos em harmonia para atravessar os tempos de um mundo altamente urbano", disse Moreno.
Transporte fácil é item importante em cidades sustentáveis
Os elementos que contribuem com uma cidade sustentável incluem soluções baseadas na natureza, ampliação de áreas verdes e o fomento de uma mobilidade que emita menos carbono. A presidente do Instituto Motiva, Renata Ruggiero, reforça que um território sustentável depende ainda de outros fatores. "Não dá para a gente falar numa cidade sustentável convivendo com desigualdades sociais tão crônicas como a gente tem no Brasil. Cidade sustentável precisa ser inclusiva e oferecer mais oportunidades aos seus habitantes".
Ela destacou ainda a qualidade de vida como elemento necessário para a construção de um território mais sustentável, a fim de que as pessoas tenham possibilidade de ter hábitos mais saudáveis e viver de forma integrada, por meio de iniciativas na saúde e esporte.
O bairro de Presidente Altino, na divisa entre a capital paulista e Osasco, foi selecionado para aplicação de uma estratégia social, conduzida pelo instituto, com foco em cidades e comunidades sustentáveis, a partir de ampla coalizão territorial. O projeto prevê a mobilização de empresas e organizações da sociedade civil, além do poder público e moradores.