05 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Do Altar ao Alvo: a queda do respeito à Classe Médica

Por Dr. Assaf Hadba | O autor é médico e advogado
| Tempo de leitura: 2 min

Sempre acreditei que ser médico era mais do que exercer uma profissão — era um chamado. Durante muito tempo, o médico foi visto como uma figura de confiança, alguém que carregava em si a esperança de cura e o enfrentamento da morte. As pessoas nos olhavam com respeito, até reverência. Era comum que se enxergasse no médico uma espécie de guardião da vida, um símbolo de entrega e vocação. Quantas vezes deixamos de estar com nossas famílias, quantas noites viramos à beira de um leito — e ainda assim, sentíamos que valia a pena, pois havia reconhecimento e gratidão.

Mas o tempo mudou — e com ele, mudou também o olhar da sociedade. Hoje, percebo com tristeza o quanto o respeito pela classe médica se desgastou. O ensino médico, que deveria ser o alicerce da excelência, enfraqueceu. Multiplicam-se escolas sem critérios rigorosos, que formam profissionais sem o preparo necessário. A exigência cedeu lugar à pressa. A vocação deu espaço ao imediatismo. E o sistema de saúde, fragilizado e, muitas vezes, desonesto, contribui para aprofundar essa ferida.

A consequência é clara: a confiança se perdeu. O médico, antes visto como pilar de respeito, tornou-se alvo de desconfiança e, por vezes, de hostilidade. A sociedade passou a nivelar todos por baixo, ignorando que muitos ainda mantêm viva a chama do compromisso ético, do cuidado humano e da verdadeira dedicação ao paciente.

No entanto, seria injusto atribuir toda a culpa à sociedade. Parte dessa decadência nasce também de dentro da própria classe médica — da nossa omissão, do silêncio diante das injustiças, da falta de união em defesa dos valores que um dia sustentaram a medicina.

Acredito que o caminho de restauração começa na base: nas escolas de medicina. É preciso resgatar a formação sólida, o rigor técnico e, acima de tudo, o senso de humanidade. O respeito ao médico não deve ser imposto, mas reconquistado — por meio da competência, da ética e da empatia.

Só assim, quando a medicina voltar a ser vista como missão e não apenas como profissão, poderemos erguer novamente o altar onde um dia repousou o mais nobre dos ofícios humanos.