O filme "Steve" (2025) não é apenas a história de um professor, é um mergulho vertiginoso na mente de quem vive a escola, não apenas trabalha nela.
A câmera treme, gira, acelera: tontura que não é mero efeito visual, mas metáfora vívida da agitação incessante de salas de aula lotadas, do ruído, da pressão constante contra o corpo e a mente.
Steve, medicado, fragilizado — como incontáveis professores do Brasil —, afirma que seu trabalho é "baseado em um modelo da Finlândia", e essa fala não é só casualidade: a utopia finlandesa, onde os professores são amados e admirados, torna-se contraste cruel com a realidade do filme, com a realidade brasileira.
No Brasil, muitos docentes caminham cambaleantes como Steve, entre essa utopia e essa tragédia, condenados à esperança: uma esperança que sangra.
A cada ofensa de aluno, omissão de pai de aluno, a cada grito perdido no corredor, a cada burocracia que engole a vida, a saúde mental se esgarça.
O professor, atordoado, precisa ser contorcionista, equilibrista e, ainda assim, manter a serenidade sonhada que Steve tenta emular em variadas cenas.
É uma resistência silenciosa, às vezes depressiva, mas ao mesmo tempo, um aviso de que a alma está em uma tempestade. O filme nos força a perceber que a educação não é apenas técnica, quantidade e metas burocráticas; é principalmente ética, pedagógica, psicológica, é profundamente humana.
No fim, Steve é o retrato de um Brasil que mal reconhece seus educadores — educadores que ofertam o seu coração e a sua razão, diariamente, nas escolas. A sala de aula é um espelho do País: quanto mais o professor enlouquece, menos racional e consciente fica a nação.
Por isso não há chance alguma de o Brasil realmente se desenvolver sem antes desenvolver uma revolucionária valorização dos professores brasileiros.
Precisamos dos cérebros dos nossos mestres, sóbrios, com seu melhor brilho — não nauseados e obscurecidos pelas más condições trabalhistas do próprio ofício.