05 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Educação que só forma doutores

Por Prof. Joaquim Eliseo Mendes - ABLetras |
| Tempo de leitura: 3 min

Há algum tempo, enviei para publicação neste jornal a matéria *“Boas-Vindas à Primeira Escola Cívico-Militar de Bauru”*, e, logo a seguir, o leitor, meu amigo e irmão Sergio Coppi, enviou-me mensagem no WhatsApp parabenizando-me, mas dizendo-se inconformado com a realidade, pois somente em Bauru e região, anualmente, 4.500 adolescentes ex-alunos não continuam os estudos, ficando em um vazio, o da indefinição.

E ele tem razão. Concordo plenamente, porque podemos constatar, através de índices estatísticos, o vácuo na pirâmide da educação do Brasil, que apresenta uma base até o final do ensino médio de 54,5% da população em idade escolar, e de 20,5% (IBGE) em seu ápice, que são os graduados e doutores. Constata-se, em âmbito nacional, milhões de jovens e adultos que, após terminarem ou não o ensino médio, encontram-se desorientados, perdidos — como se diria, “no ar” — sem saberem o que fazer.

O ensino à distância, com muitas opções, tem facilitado o crescimento do índice de doutores e graduados. A propósito, o JC, em edição globalizada de 23/08, publicou a belíssima reportagem da jornalista Tisa Moraes: “Apagão de mão de obra: mercados querem contratar...”

Procedente matéria em que Fabiano Benedetti, diretor de marketing da APAS, informa a existência de 1.400 vagas ociosas nos supermercados de 58 municípios da região de Bauru. Corroborando, vai minha observação — que certamente será reforçada por muitos leitores e donas de casa — sobre como nós, famílias, temos dificuldades em encontrar profissionais para consertos de pequenos e grandes problemas domiciliares que surgem inesperadamente.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 5.692/71 reformulou a estrutura educacional com a fusão do maternal, grupo escolar, ginásio e colegial em básico e fundamental com duração de nove anos. Essa mudança acabou com os ginásios e colégios profissionais de várias especialidades existentes até então, como mecânica, carpintaria, marcenaria, construção e outras habilitações obtidas em uma idade cronológica ideal.

A rede de ginásios e colégios industriais ou profissionais era expressiva, podendo-se destacar, em nossa região escolar, os colégios de Pirajuí, Botucatu e, aqui em Bauru, o renomado Colégio Técnico da ITE — a “menina dos olhos” do Reitor Eufrásio de Toledo — do qual eu tive a honra de ser Inspetor Escolar.

Deste colégio saíram expressivos profissionais esparramados por este país afora. Sem sombra de dúvida, poderei ser contestado por algum leitor, ressaltando que mesmo aqui em nossa cidade temos, com motivo de orgulho, um CTI da Unesp, Senai, Sesc e Etec, que estão habilitando e que, de pronto, são absorvidos pelo mercado de trabalho por serem excelentes profissionais.

Concordo com essa observação, mas entendo que constituem uma rede mínima. Deveria haver dezenas de outras unidades, porquanto as que existem não conseguem atender à demanda em todos os setores do mercado.

Haja vista os cursos profissionalizantes de dez ou doze dias, instituídos pelo governo do Estado e efetuados em várias cidades. Aqui em Bauru, recentemente, foram encerrados pelo Governador e Primeira-Dama, que aqui estiveram.

É necessário convir que nem todos os jovens e adolescentes almejam ser doutores, atingindo o ápice. Muitos optam — ou preferem — parar em determinada etapa da vida.

O importante é que tenham o que fazer, não ficando perdidos e desorientados — fato que poderá levá-los ao mau caminho e mesmo a uma precária e desalentada vida social.