05 de dezembro de 2025
COLUNISTA

Por que estudar o Israel étnico no presente

Por Hugo Evandro Silveira |
| Tempo de leitura: 4 min
Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril

Falar de Israel desperta paixões contraditórias, e é justamente por isso que estudar o Israel étnico e o teológico pede perguntas claras: o que a história e a Bíblia revelam sobre esse povo, e como distinguir crítica legítima de hostilidade. Criticar políticas de qualquer governo pertence ao debate democrático, mas demonizar é outra coisa. Demonização é narrar que o Estado judeu deva ser aniquilado, atribuindo culpas coletivas aos judeus e legitimando discursos que alimentam preconceito e violência letal. Quando o ódio reaparece, não dá para fingir normalidade. Registros recentes de incidentes antissemitas batem recordes e soam como alarme. Nos Estados Unidos, levantamentos apontam mais de 9.300 ocorrências anuais, o maior nível desde 1979. Diante desse cenário impõem-se frieza analítica, verificação de evidências e checagem direta em fontes primárias. O tabuleiro internacional ajuda a entender por que certas narrativas ganham tração: no Conselho de Direitos Humanos da ONU existe um ponto fixo de pauta — o “Item 7” — dedicado unicamente a Israel, algo inexistente para qualquer outro país. Em 2023 foram quatorze resoluções dirigidas a Israel, enquanto o restante do mundo somado recebeu sete. A desproporção se repete, ano após ano, e precisa ser lida com discernimento atento.

Esse pano de fundo ilumina Jerusalém, onde a disputa se torna palpável: a maioria das nações mantém embaixadas em Tel Aviv e evita reconhecer Jerusalém como capital de Israel. No horizonte bíblico e histórico, Zacarias 12 chama Jerusalém de pedra pesada para os povos; a imagem atravessa séculos sem perder a força e explica por que decisões sobre a cidade ressoam muito além da diplomacia. Daí a necessidade de se aprofundar nos dados históricos. Estudar o Israel étnico no horizonte bíblico não é militância, é exegese responsável que honra a história e a promessa. Paulo afirma em Romanos 11 que “os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis”, e o Novo Testamento ecoa: “todo o Israel será salvo”. Essas sentenças erguem o eixo teológico da esperança de Israel e a conectam às alianças juradas aos patriarcas. Jesus dá o marco interpretativo: “Jerusalém será pisada pelos gentios até que se completem os tempos dos gentios” (Lc 21.24) — esse período profetizado por Jesus começa na queda da cidade no primeiro século e se estende até que o plano do retorno judaico alcance sua plenitude. Como sintetiza Gerald R. McDermott (PhD, University of Iowa): “Não há no Novo Testamento nenhum lugar onde Israel não seja Israel.”

Os profetas confirmam esse enredo. Ezequiel 37 anuncia que o Senhor reunirá os filhos de Israel dispersos e os fará uma só nação sob um único Rei; Jeremias 30 proclama restauração integral; Isaías 11 descreve o resgate do remanescente vindo dos quatro cantos; somam-se Ageu, Joel, Amós e Malaquias. Essas promessas não se encerram no retorno babilônico, até porque Ageu e Malaquias falam após o exílio e projetam adiante. O Vale dos Ossos de Ezequiel dialoga com o Holocausto, o renascimento do Estado em 1948 e a Lei do Retorno de 1950; em Ezequiel 36 o deserto floresce, a terra é lavrada, cidades se enchem, ruínas ganham vida. Profecias se cumprem: em poucas décadas a agricultura israelense tornou-se referência em irrigação e tecnologia; um país pequeno exporta alimentos, ciência e soluções hídricas; a cooperação transborda pesquisa, inovação, medicina, cibersegurança e água; uma sociedade diminuta já gerou mais de cento e oitenta prêmios Nobel. A própria permanência do Israel étnico no terceiro milênio soa como milagre histórico e teológico. O Apocalipse de João preserva Israel na moldura da consumação: em Apocalipse 7 surge a contagem das tribos; em Apocalipse 21 as portas da Nova Jerusalém trazem os nomes das doze tribos; Israel não se apaga no epílogo, permanece na promessa; o fim honra o começo.

Como comunicar isso sem comprar brigas ideológicas. Use dados verificáveis, cite fontes, preserve a dignidade de todos. A vida de palestinos importa e a crítica a violações é legítima, mas a tentativa de invalidar o Estado judeu é prática intolerável, delimitada por parâmetros internacionais. Evite generalizações sobre árabes, judeus, israelenses ou palestinos. Volte ao texto. Romanos 11.29 sustenta o tom: “A chamada de Deus jamais é revogada.” Estudar o Israel étnico no mundo e na Bíblia é honestidade intelectual e fidelidade teológica; é ler a história com a Escritura na mão e o coração firmado na esperança do Eterno que cumpre o que promete.