05 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Velho

Por Luiz Gonzaga Chaves |
| Tempo de leitura: 2 min

"Velho", era assim que eu chamava o meu sogro Onofre Barbosa. Não era um etarismo, uma forma preconceituosa de me dirigir a ele, em razão da idade, ao contrário, era uma maneira respeitosa de expressar meus sentimentos, de que ele tinha algo a ensinar, com sua experiência de vida.

Ele trabalhava como um mouro, de segunda a sexta, com seus dois caminhões da marca Alfa Romeu, um dirigido por ele e o outro, por seu filho adotivo de nome Luís. Os finais de semana, desde cedo até a noite, ele dedicava, para fazer a manutenção dos caminhões, consertando o motor, o câmbio e, fazendo rodízio de pneus. Nunca o vi reclamar de nada, sempre estava com boa disposição de ânimo e contando piadas. Parecia satisfeito com a vida que Deus lhe dava.

Ele trabalhava como preposto de uma empresa de Rio Preto, no transporte de combustíveis. Suas receitas não cobriam as despesas e, para piorar, essa empresa sempre atrasava meses os repasses dos fretes. Ele chegou a ficar devendo doze meses, no posto de combustíveis que abastecia seus caminhões e o mesmo tempo, no atraso do pagamento das prestações dos financiamentos desses caminhões.

Por sorte, consegui contato com a Diretoria da Petrobrás, que iria montar uma base de distribuição de combustíveis em Bauru e, arrumei serviço de transportes para ele.

Foi aberta uma empresa, com os dois caminhões, mais um que comprei e, alguns terceiros agregados, que formou a Transportadora Onofre Barbosa.

Muitas vezes fui com ele em Piracicaba, comprar caminhões Scania, para substituir os velhos Alfa Romeu, que davam muitas despesas de manutenção. Ele foi um grande companheiro e parceiro de muitas labutas.

Certa feita, já tendo saído da empresa, estava sem conversar com ele. Soube, por terceira pessoa, que uma senhora, que o visitava costumeiramente, reiteradamente, tecia comentários maldosos a meu respeito. Ele ouviu quieto muitas vezes, até que um dia, disse para a citada senhora: "gostaria que não falasse mais do Luiz na minha presença, porque apesar de não estar conversando comigo, nós sempre nos demos bem e, não concordo com nada, dessas infâmias que você diz, pois ele fez muitas coisas boas para nós. Quando soube disso, voltei novamente a falar com ele e, percebi que ele pertencia a um patamar diferenciado de pessoas, que estão acima de pequenas discussões e sabem reconhecer o valor do outro.

Ele não era muito letrado, mas guardava larga experiência de vida, pelas dificuldades que passara anteriormente.

Sem dúvida, foi um grande homem, que deixou um legado de dedicação e de trabalho, que serve de exemplo para todos nós. Sinto saudades do tempo que estivemos juntos.

Já faz 17 anos que ele se foi.

Obrigado, velho!