Um novo estudo mostra que a redução de 20% no consumo de álcool entre os brasileiros poderia evitar mais de 10 mil mortes por ano (o equivalente a uma por hora).
Em 2019, estima-se que 102,3 mil pessoas tenham morrido no país por causas atribuíveis à bebida, ou seja, cerca de 12 vidas perdidas a cada hora.
Além das vidas poupadas, a diminuição do consumo resultaria em ganhos econômicos. As perdas anuais com mortes associadas ao álcool somam cerca de R$ 20,6 bilhões.
Com a redução de 20%, seriam evitados R$ 2,1 bilhões em perdas de produtividade - valor equivalente a 58% do orçamento do Farmácia Popular em 2023, um dos principais programas de acesso a medicamentos do país.
O estudo, realizado pela Fiocruz a pedido da Vital Strategies e da ACT Promoção da Saúde, integra o Programa RESET Álcool.
Foram consideradas 24 doenças e mortes associadas ao consumo de bebidas alcoólicas, com base na relação entre quantidade de álcool ingerido e risco relativo, segundo o estudo de Carga Global da Doença (GBD) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Os custos indiretos por mortes prematuras de indivíduos com menos de 70 anos incluem perdas de produtividade, impacto na renda familiar e na economia", explica Eduardo Nilson, pesquisador da Fiocruz e do Nupens/USP.
Planos da OMS para diminuir consumo de acidentes a doenças
O foco na redução de 20% segue a recomendação da OMS de acelerar ações para atingir essa meta até 2030. Segundo Luciana Vasconcelos Sardinha, diretora adjunta da Vital Strategies, medir e trazer visibilidade a esses impactos é crucial, especialmente diante da discussão sobre a definição das alíquotas do imposto seletivo sobre o álcool no Brasil. "Se forem estabelecidos percentuais suficientemente altos, podemos reduzir adoecimentos, acidentes, violências e mortes e aliviar o impacto no sistema de saúde e na economia", afirma.
Custo de R$ 1 bilhão
O estudo também aponta que uma redução de apenas 10% no consumo já resultaria em quase 5 mil vidas poupadas e R$ 1 bilhão em perdas econômicas evitadas. "Na próxima etapa, vamos atualizar os cálculos para incluir os custos diretos do álcool para o SUS, que no primeiro estudo ultrapassaram R$ 1 bilhão por ano", explica Nilson.
Mais tributos
Para alcançar esses cenários, os pesquisadores destacam a importância das medidas do pacote SAFER, da OMS, que inclui restrições à disponibilidade, controle da publicidade, fortalecimento da resposta dos sistemas de saúde e aumento da tributação. "A taxação é reconhecida como a intervenção mais custo-efetiva, com grande impacto sobre consumo e prejuízos sociais e econômicos. O Brasil vive um momento decisivo para se alinhar às melhores práticas globais", conclui Luciana.
O que ajuda a consumir menos
Intercale com bebidas não alcoólicas: Beba um copo de água entre cada bebida alcoólica para manter-se hidratado e retardar a absorção do álcool.
Coma antes ou durante: O alimento no estômago retarda a absorção do álcool, diminuindo a velocidade da sua ingestão.
Escolha bebidas com menos álcool: Opte por cervejas leves, vinhos misturados com refrigerante (shandy) ou destilados diluídos com gelo, em vez de bebidas mais fortes.
Defina limites: Estabeleça um número máximo de bebidas que pretende consumir e monitore o seu consumo.
Crie rituais para consumo: Defina o tempo que vai esperar entre um copo e outro para reduzir a quantidade ingerida em um determinado período.
Evite misturas: Misturar diferentes tipos de bebidas alcoólicas pode levar a um consumo maior e desconhecido, dificultando o controle.
Controle o teor alcoólico: Tenha atenção à quantidade de álcool em cada bebida, pois o teor pode variar bastante e afetar o seu consumo.