Pois é, caro leitor: o pobre INSS, aquele que vive tossindo sangue para pagar aposentado e pensionista em dia, agora foi promovido a babá de jogador compulsivo. É mole ou quer mais? Se já não bastassem as filas, os peritos sobrecarregados e os cofres furados, eis que surge o novo cliente da Previdência: o viciado em "bets".
Entre junho de 2023 e abril de 2025, o INSS concedeu 276 auxílios-doença por ludopatia. Antes, a média era de 11 por ano. Onze! Quer dizer, a coisa subiu mais de 2.300%. É o SUS que se cuide: de 65 atendimentos em 2019, pulamos para 1.292 em 2024. Parece até campeonato de apostas, mas é estatística oficial.
E quem são os novos pensionistas da roleta online? Homens, jovens, a maioria na flor da idade produtiva. Gente que deveria estar trabalhando, estudando, inventando aplicativo, mas está lá, clicando em odds e torcendo por gol aos 49 do segundo tempo. Resultado: incapazes para o batente, mas capazes de entupir o sistema com pedidos de benefício.
O mais engraçado (se é que dá pra rir) é que o governo abriu a porteira das apostas, botou imposto de 12%, depois subiu pra 18%, encheu os cofres e… não destinou um centavo pra tratar a turma que caiu no vício. Criaram até um grupo interministerial em dezembro de 2024. Reuniu em março de 2025, fez cara de importante, tirou foto e… não chamou o Ministério da Previdência. Afinal, pra quê? Quem paga a conta é sempre o mesmo: o bom e velho INSS.
Enquanto isso, o Ministério da Saúde reservou R$ 60 milhões para ações contra a ludopatia. Sabe o que foi feito até agora? Nada. Nem uma campanha no horário do intervalo da novela. Nem um panfleto em boteco. Zero.
No Judiciário, a ópera bufa continua. Tem gerente bancário demitido porque gastava o expediente jogando. Sabe o que ele fez? Apostou na anulação da justa causa e… adivinha? Recebe auxílio-doença. Outro cidadão desviou R$ 1,5 milhão do trabalho para jogar online e também virou paciente do INSS. A fronteira entre doença e crime anda tão borrada que daqui a pouco o sujeito que bate carteira vai alegar "furto compulsivo" e pedir auxílio.
Se o vício em jogo é doença, merece tratamento. Mas se o Estado lucra com o vício, também merece crítica. Não dá para brincar de cassino com a vida das pessoas e depois largar a fatura no colo da Previdência.
O governo arrecada com as "bets", os jogadores adoecem, o INSS paga a conta e o povo brasileiro fica de otário nessa ciranda. Se Stanislaw Ponte Preta fosse vivo, já teria lançado a "Febeapá das Apostas Online". E, convenhamos, seria um sucesso de público — afinal, o espetáculo já está em cartaz.