15 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Os pilares da civilização

Por Paulo Cesar Razuk | O autor é professor titular aposentado do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Unesp Bauru
| Tempo de leitura: 2 min

Existem quatro materiais indispensáveis para o funcionamento da sociedade. Seu consumo anual é crescente e medido em milhões e bilhões de toneladas, além do mais não podem ser substituídos por outros materiais, mesmo considerando um futuro de médio prazo.

Os chamados quatro pilares de sustentação da civilização moderna são: o concreto, o aço, o plástico e a amônia. Poderia acrescentar mais dois, também fundamentais a nossa sobrevivência nas condições atuais: a eletricidade e os combustíveis fósseis, sólidos, líquidos e gasosos.

A demanda global pelo carvão está acima de dez bilhões de toneladas por ano e a previsão é que continue crescendo. Esse volume é quase cinco vezes maior que a previsão da safra (2024/25) de grãos básicos que alimentam a humanidade e mais que o dobro da massa de água consumida anualmente pelos quase nove bilhões de habitantes do mundo. Deveria ser óbvio que alterar ou substituir tal dependência não vai dar certo com discursos, promessas políticas e metas governamentais estipuladas para anos que terminam em zero ou cinco.

A produção moderna de alimentos, seja no cultivo no campo ou na captura de espécies marinhas, depende de dois tipos diferentes de energia: a primeira e mais óbvia, é a do sol, a segunda, é a dos combustíveis fósseis. O uso direto desses combustíveis move todo maquinário de campo e toda a infraestrutura de transporte e processamento. O uso indireto é mais amplo, inclui a eletricidade e a produção de máquinas, agroquímicos, plásticos, vidros, aço, borracha, cimento etc. A verdade é que não conseguiríamos produzir tamanha quantidade de alimentos sem o uso dos combustíveis fósseis e da eletricidade como insumos básicos.

Cultivar o trigo, transformá-lo em farinha suficiente para um pão de um quilo e assá-lo requer energia equivalente a um copo americano de óleo Diesel. Pode-se imaginar a quantidade de energia requerida na produção da carne de frango, produzido e alimentado em granjas iluminadas e ventiladas dia e noite, transportados, abatidos, embalados e conservados sob refrigeração.

Da mesma forma, o salmão e o atum cultivados precisam ser alimentados com enormes quantidades de ração. Vale citar o tomate, hoje em sua maioria cultivado em estufas, está entre as culturas mais consumidas e mais fertilizadas do mundo. Na verdade, não há pizza, salada, sushi ou sashimi sem o uso de combustíveis fósseis.

As evidências são inegáveis: nosso suprimento de alimentos - sejam grãos, vegetais, frutas, aves, peixes - se tornou cada vez mais dependente de combustíveis fósseis. Esta realidade fundamental costuma ser ignorada por aqueles que não entendem como nosso mundo funciona. Infelizmente nossa situação atual não pode ser mudada de forma fácil e nem rápida.

Os combustíveis fósseis e a eletricidade constituem a base ou o alicerce que mantêm de pé os pilares fundamentais de sustentação da civilização moderna.