Em "Top Gun - Maverick", lançado há três anos, o personagem título do filme vivido por Tom Cruise usa uma ferramenta pouco convencional para unir um grupo de pilotos: organiza uma partida de futebol americano adaptada na praia.
Ao ser questionado sobre a estratégia de forma incrédula pelo seu superior, Maverick (Cruise) explica: "você me pediu para criar um time, aí está o time".
Longe da ficção, a estratégia tem lastro no que dizem psicólogos, pediatras e médicos do esporte. A atividade física pode sim ter impacto na saúde emocional e na capacidade de criar laços, viver em grupo, além de oferecer um trunfo útil por toda a vida: saber lidar com regras.
Esses benefícios são especialmente valiosos na adolescência e começo da juventude, fases em que o sentimento de inadequação, acompanhados da necessidade de pertencimento e da criação de laços com pessoas além da família costumam causar bastante ansiedade.
"Não há momento na vida em que a pessoa fique mais suscetível ao desenvolvimento de transtornos mentais do que na adolescência. A estimativa (da Organização Pan-Americana de Saúde) é que 16% dos adolescentes sofram com isso", afirma Alaor Carlos de Oliveira Neto, coordenador do Serviço de Psiquiatria do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo.
"Nesse sentido, o esporte funciona como uma ferramenta muito positiva para treinar as habilidades do adolescente. Não só sociais, mas também de interação, comunicação, moral, limites, lidar com frustração, e de canalizar as emoções para um espaço onde elas possam ser extravasadas."
Um estudo publicado no "Journal of Adolescent Health", que levou em conta 2.278 meninos e meninas, mostrou que a atividade esportiva trouxe uma maior percepção dos praticantes das suas competências sociais.
Claro, não se trata de uma bala de prata que pode resolver todos os problemas de relacionamento, mas o efeito do esporte em aspectos como a capacidade de fazer amigos e de lidar com conflitos é percebido.
No consultório da psicóloga e terapeuta de família e de casal Marina Vasconcellos, todos ouvem a mesma pergunta: você faz atividade física? A prática esportiva, explica a especialista, seja qual for a modalidade, é fundamental para desenvolver a saúde emocional.
O exercício aeróbico pode ser um grande aliado para quem está ansioso. Assim correr, por exemplo, ajuda a desestressar.
As lutas também podem ser interessantes, pois nela canalizamos a agressividade de maneira saudável. Na adolescência também é muito importante lidar com limites, porque a parte do cérebro que faz avaliações sobre moral, ética, não está plenamente desenvolvida, e o esporte impõe regras.
O esporte também ajuda nos relacionamentos dentro de casa, com a família. E uma das ferramentas é afastar um complicador da vida nos tempos atuais: as telas, segundo Lucienne Victoria, coordenadora da Pediatria da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
"Hoje percebemos os adolescentes com dificuldade de falar, pessoalmente, entre si. O esporte, nesse sentido, funciona como uma saída das telas e sair desse processo de tanto uso de tecnologia", diz. "A prática recorrente do esporte também tem tudo a ver com o aumento da autoestima, sobretudo quando meninas e meninos conseguem observar sua evolução dentro da prática."
Moisés Cohen, Ortopedista presidente da Comissão Médica da Federação Paulista de Futebol (FPF) e diretor do Instituto Cohen Ortopedia, Saúde e Esporte, lembra ainda que os laços familiares podem de beneficiar da prática esportiva. E que o exemplo dos pais pode ajudar (e muito) no interesse da criança e do adolescente por manter-se ativo.
"Geralmente, a criança que desenvolve esse gosto pela atividade física tem pais que de alguma forma também fazem isso. Tem episódios que todos participam de corrida juntos, ou pedalam. E, depois disso, voltam para casa juntos. Isso se torna um grande estímulo", diz o médico. "Eu acho que é muito saudável e dá uma questão de união e de vínculo, e de pertencimento do esporte e da família. ínculo e pertencimento."
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem uma orientação específica da quantidade de atividade física para crianças e adolescentes de 5 a 17 anos.
De acordo com a diretriz, eles "devem fazer pelo menos uma média de 60 minutos por dia de atividade física de moderada a vigorosa intensidade, ao longo da semana, a maior parte dessa atividade física deve ser aeróbica".
A orientação é que essa cota diária se repita ao menos três vezes na semana, mas mesmo um pouco é melhor do que nada.