05 de dezembro de 2025
COLUNISTA

Só a riqueza partilhada com os necessitados traz felicidade

Por Dom Caetano Ferrari |
| Tempo de leitura: 4 min
Bispo Emérito de Bauru

No trecho evangélico da santa Missa deste domingo - Lc 12,13-21 - alguém do meio do povo fez um pedido excêntrico a Jesus: "Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo". Jesus reagiu, esquivando-se: "Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?" Como a pergunta foi feita em público, Jesus aproveitou a situação, como era hábito seu, para discorrer sobre os bens materiais e a riqueza, admoestando contra a ganância, a ambição por lucros e ganhos e as preocupações mundanas com a questão do bem-estar.

Ele disse-lhes: "Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens". E contou-lhes a parábola daquele homem rico que obteve uma grande colheita a ponto de ter de construir novos celeiros para guardar todo o trigo colhido.

E depois que ele entesourou seu trigo com os seus bens, disse para si mesmo essa pérola de "idiotice": "Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!". E a parábola continua: "Mas Deus disse a esse fazendeiro: Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?" Jesus concluiu a parábola, dizendo: "Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus". Como diz o provérbio: A riqueza não traz felicidade a ninguém. Sobretudo quando a esperteza tenta levar vantagem à custa dos pobres, e o dinheiro vira idolatria, torna-se um deus.

Na primeira leitura da santa Missa lê-se o trecho do Eclesiastes 1,2;2,21-23 que passa uma lição de desapego aos bens terrestres, chamando a nossa atenção para destacar que é pura vaidade a pseudo felicidade dos ricos: "Vaidade das vaidades! Que resta ao homem de todos os trabalhos e preocupações que o desgastam debaixo do sol? Toda a sua vida é sofrimento; sua ocupação, um tormento. Nem mesmo de noite repousa o seu coração. Também isso é vaidade". Jesus vai dizer como de fato o disse em outra passagem de São Lucas que de fato bem-aventurados são os pobres, porque deles é o Reino de Deus (cf. Lc 6,20). Já São Paulo, na segunda leitura - Colossenses 3,1-5.9-11 - recomenda procurar as coisas do alto onde a nossa vida está escondida com Cristo em Deus, pois a vida nova do cristão consiste em morrer e ressuscitar com Cristo. Então que morra para cada um de nós, desde aqui e agora, o que pertence à terra e não ao céu: imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria. Despojai-vos do homem velho e revesti-vos do homem novo, que se renova segundo a imagem do Criador, arremata o apóstolo. A "Imitação de Cristo" é um livro antigo que não perdeu o seu valor, embora ande esquecido. Costumava-se dizer, não faz muito tempo, que de todos os livros saídos das mãos dos homens, a "Imitação de Cristo" era o mais admirável e o mais popular livro dos cristãos.

Por exemplo, inspirando-se no Livro do Eclesiastes, a "Imitação" assim diz ao leitor devoto: "Ainda que tu soubesses de cor toda a Bíblia e os ditos de todos os filósofos, que te aproveitariam riquezas, prazeres, sem o amor e a graça de Deus? (cf. Ecl.1,2). Vaidade das vaidades, tudo vaidade. A suma sabedoria é, pelo desprezo do mundo, um caminhar para o reino dos céus. E assim sendo vaidade é buscar riquezas perecedouras e pôr nela a esperança. Vaidade é também desejar honras e desvanecer-se com elas. Vaidade é seguir os apetites da carne e desejar aquilo por onde depois tu hás de ser gravemente castigado. Vaidade é desejar vida larga e cuidar pouco de que seja boa. Vaidade é ainda olhar somente a esta vida presente e não prever o que virá depois. Vaidade é amar o que depressa passa e não buscar com fervor a felicidade que sempre dura".

Como se vê não se pense de encontrar nesse livro ensinamento novo nem agradável de se ler. Baseando-se na verdade e sabedoria das Sagradas Escrituras, o autor do livro, dá ao final um arrocho, como que encostando a faca no pescoço do caboclo: "Riquezas, prazeres, honras, que é tudo isso quando se lança o corpo na sepultura, e a alma vai para a eternidade? Pensa nisto seriamente desde hoje, porque amanhã talvez já seja tarde! Trabalha enquanto é dia, antes que a noite eterna chegue! Entesoura riquezas que não perecem nem os ladrões roubam".

O impactante e admirável nessa fala é o seu estilo de falar às claras, de ir direto à "veia", sem pretensões de adoçar ou amenizar os impactos. No espírito de hoje diz-se que tal estilo, se usado nas homilias, seria um falar politicamente incorreto. Embora para os pregadores da teologia da prosperidade o fosse incorreto não por dizerem a verdade nua e crua ainda que fundamentada na Sagrada Escritura, mas porque podem afastar fiéis de entre seu rebanho.