Faça chuva ou faça sol, a prefeita Suéllen Rosim (PSD) também tem, como todos aqueles que idealizam uma cidade melhor, a Bauru com a qual sonha diariamente. Diferentemente dos demais, contudo, ela tem também o poder da caneta: cabe à mandatária, afinal, dar aval a iniciativas que viabilizem esse projeto.
A Bauru ideal na avaliação da prefeita, que concedeu entrevista ao JC na última segunda-feira (28) é aquela que garanta qualidade de vida em todas as frentes, da saúde à educação, da infraestrutura ao atendimento ao cidadão. "Uma cidade acolhedora, como já é, mas preparada para crescer", afirma.
"Isso significa não ter criança na fila de espera por vaga de creches, tratar 100% do esgoto, resolver as filas por internação e oferecer serviços públicos com agilidade e dignidade", acrescenta.
Para tanto, contudo, "a gente tem que dar alguns passos", admite. Um deles envolve necessariamente a modernização institucional da própria prefeitura - algo que, segundo Suéllen, está intrinsicamente ligado ao Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) da administração municipal.
O projeto está atrasado, mas a expectativa é que desça à Câmara até dezembro deste ano, afirmou a prefeita. "O primeiro passo, no primeiro mandato, envolveu a elaboração de todos os levantamentos, deixá-lo [o PCCS] basicamente definido e agora, no segundo mandato, é trabalhar para sua aplicação", comenta.
"Lógico que isso vai passar por pela necessidade de melhorias na nossa arrecadação, até porque a gente está falando de despesas que serão permanentes - como o piso do arquiteto, do engenheiro, que outras regiões da cidade já oferecem. Além de assuntos relacionados à saúde", emenda.
Na recém-criada Secretaria de Habitação, por exemplo, Suéllen afirma já ter solicitado ao titular, o ex-prefeito de Lençóis Paulista Anderson Prado, quais profissionais são necessários à pasta. "O maior desafio é colocar isso para funcionar. A gente já tem um diagnóstico, a gente sabe o que tem que fazer", afirma.
De acordo com a prefeita, "o foco do nosso primeiro mandato foi melhorar os ambientes de trabalho" para o funcionalismo e a própria condição dos servidores municipais ao mencionar a majoração do vale-alimentação, hoje fixado em R$ 1.400,00. "O antigo prédio da Secretaria de Obras [Infraestrutura], por exemplo, interrompia as atividades quando chovia", relata.
O segundo agora envolve também mudanças físicas - como a transferência da prefeitura para o prédio da Estação Ferroviária, "um processo a longo prazo" de acordo com a titular do Executivo. "Posso chegar até 2028 tirando isso do papel", afirma.
Uma outra frente abrange investimentos em tecnologia - a exemplo do Sistema Eletrônico de Informações (SEI), plataforma do governo federal para produção e gestão de documentos e processos administrativos.
"Queremos eliminar o excesso de papel, padronizar trâmites e ganhar velocidade nas decisões. É uma mudança sem custo direto ao município, mas que exige preparação técnica e digitalização do acervo. Por isso já incluímos no novo organograma um setor de arquivo e buscamos qualificar o funcionalismo nessa direção."
Para Suéllen, a medida agilizará procedimentos internos e será crucial à implementação de uma coordenadoria prevista no novo organograma que, segundo a prefeita, é semelhante ao instrumento do Instituto de Planejamento, uma espécie de "banco de projetos".
"Essa coordenadoria vai funcionar basicamente como o Instituto de Planejamento, que é pensar fora da caixa, pensar a cidade. Então o próximo prefeito vai encontrar nessa coordenação todas as informações que a gente levantar enquanto governo", menciona.
O grande desafio está nos cofres. Um levantamento recente encomendado pela prefeita à Secretaria de Infraestrutura mostrou, por exemplo, que o custo de um pacote de obras "que são sonhos programados para esse segundo mandato" beira R$ 800 milhões.
"É um valor impagável num primeiro momento. Mas teremos projetos com essa coordenadoria e, com eles, poderemos ir a São Paulo, a Brasília em busca de recursos", comenta.
Entre os projetos estão a ligação da avenida Daniel Pacífico à Nuno de Assis, a revitalização completa da região da Quinta da Bela Olinda, a continuação da rua Chaim Mauad e outras obras consideradas estruturantes ao município.
Mobilidade: foco em otimizar espaços e instrumentos já existentes (Foto: Guilherme Matos/Drone JC)
A prefeita Suéllen Rosim (PSD) vê na mobilidade urbana um desafio ainda a ser superado pelo governo. Ao JC, ela afirmou ver limitações no município para abrir novas vias e defendeu soluções como modernização semafórica, reforço na fiscalização de trânsito e investimentos em obras pontuais que ajudem a destravar o fluxo nas principais regiões da cidade. "É muito difícil pensar hoje em abrir novas vias. Por isso pedi à Emdurb um levantamento de onde podemos otimizar os semáforos, estudar a implantação de onda verde nas avenidas e atualizar a sinalização com tecnologia de contagem", afirmou.
O governo também pretende dobrar o número de agentes de trânsito, que hoje gira em torno de 36 servidores. "É pouco para o tamanho da cidade. Aumentar esse efetivo é uma das prioridades do segundo mandato", afirmou Suéllen.
Outra frente em andamento é a contratação de serviços de manutenção de calçadas públicas, especialmente em terrenos da própria prefeitura. Entre os projetos estruturantes mencionados, a prefeita destaca a duplicação da avenida José Vicente Aiello, que terá parte bancada por contrapartida da iniciativa privada e outra por recursos municipais. A previsão do governo é dar início às obras no primeiro semestre de 2026.
Também está em fase de planejamento uma nova saída no Jardim Europa, que deve aliviar o trânsito da região, e tratativas com a Rumo, concessionária de ferrovia, para abrir um novo acesso entre a Daniel Pacífico e a Nuno de Assis.
A prefeitura ainda estuda, em prazo mais longo, a viabilidade da implantação de viadutos em áreas críticas — algo que, segundo Suéllen, outras grandes cidades conseguiram fazer para melhorar o fluxo urbano. Uma das prioridades imediatas, diz, é a construção de uma alça de acesso à avenida Nações Unidas a partir da Duque de Caxias, no sentido Centro-Parque Vitória Régia. "É uma obra que ajudaria muito a desafogar a Duque. Já temos levantamento prévio com custo entre R$ 2 milhões e R$ 2,5 milhões. Cogitamos até usar equipe própria da prefeitura, se for viável tecnicamente", disse.
A prefeita também afirmou que a Rodrigues Alves, reformada nos últimos anos, está hoje estabilizada em relação ao fluxo, mas reconhece que outras regiões da cidade, como a rua de Guisados, ainda enfrentam congestionamentos severos em horários de pico.
Na saúde, a prefeita afirmou que um dos principais desafios da saúde em Bauru continua sendo a baixa procura por atendimento nas unidades básicas, enquanto as UPAs seguem sobrecarregadas. A gestão tem investido na expansão da atenção primária e agora mira em uma campanha de conscientização da população. Segundo Suéllen, há UBSs ociosas mesmo com horário estendido até as 22h e ampliação de atendimentos. "O que falta é comunicar bem os serviços que existem. A população precisa saber que pode tomar vacina, fazer consulta e resolver boa parte dos problemas de saúde sem passar pela UPA", afirmou. Sobre a promessa do Hospital Municipal, a prefeita informou que os ajustes orçamentários estão sendo finalizados para a retomada das obras.
A proposta prevê três frentes de financiamento: recursos do próprio município, R$ 5 milhões indicados pelo senador Marcos Pontes (PL) e um possível acordo com a Uninove, que pode converter parte da dívida com o município em investimento na unidade.