Vereadores de Bauru reagiram na sessão desta segunda-feira (28) à declaração da prefeita Suéllen Rosim (PSD) proferida na sexta (24) na qual a mandatária admite pela primeira vez a possibilidade de incluir a água no pacote de concessões à iniciativa privada - salientando que "em hipótese alguma" discutirá a privatização da autarquia.
"Nós nunca descartamos, acho que desde o primeiro momento, discutir eventualmente a concessão do DAE. É o próprio DAE que define até que ponto está apresentando os resultados", afirmou a mandatária durante entrevista ao programa Café com Política, uma parceria entre o JC e a 96FM que vai ao ar toda sexta-feira às 7h30.
A sinalização do governo pela possibilidade de concessão da água ganhou repercussão imediata. No sábado (26), o Sindicato dos Servidores Municipais (Sinserm) convocou protesto contra a medida e realizou efetivamente o ato nesta segunda.
A entidade sindical divulgou nota à imprensa afirmando "que foi contrário à concessão do tratamento de esgoto e permanece radicalmente contrário a qualquer tentativa de terceirização ou privatização da água, bem como da autarquia como um todo".
"Para o sindicato, entregar o DAE significa permitir que o acesso à água, um direito humano essencial, seja mediado por interesses de lucro. Hoje, o DAE emprega aproximadamente 800 servidores públicos, cuja estabilidade e funções estão ameaçadas caso o plano de concessão avance", disse o Sinserm após o protesto, realizado na manhã desta segunda-feira.
NATALINO DA POUSADA
A mobilização se estendeu à sessão da Câmara. Quem puxou a discussão entre os vereadores foi Natalino da Pousada (PDT), que lamentou a ausência de representantes do Executivo e do próprio presidente do DAE em audiência pública que realizou na sexta para discutir o impacto do saneamento básico - ou da falta dele - na qualidade de vida dos moradores.
Em discurso na tribuna, o pedetista afirmou que há bairros de Bauru em situação precária em matéria de saneamento e que este cenário impõe outras prioridades que não o debate de concessão.
PASTOR BIRA
Pastor Bira (Podemos) abordou o assunto logo em seguida. Em duro discurso, o vereador que o DAE hoje emprega cerca de 800 pessoas e "se você multiplicar por três, [o equivalente] uma família enxuta, você vai encontrar em um contingente 2.500 cidadãos de Bauru que vivem por conta desta empresa [DAE]".
"Nietzsche diz que as pessoas não estão preocupadas com a verdade, mas com a conveniência. É muito interessante que, quando a gente toca nesse assunto [do uso do Fundo de Tratamento de Esgoto para obras do DAE], faz-se um silêncio sepulcral, um sonoro som de nada", criticou.
Bira ainda contestou o argumento de que a concessão vem para suprir uma tarefa que o DAE não consegue cumprir e, nesse sentido, disse que a mesma alegação valeria, então, a outros setores. "Que se universalize a Educação, a Saúde, porque todos os dias nós recebemos centenas de pedidos para vagas em escola e para operações, cirurgias, procedimentos".
JÚNIOR LOKADORA
Também rechaçou a hipótese de concessão o vereador Júnior Lokadora (Podemos), que convocou uma reunião na semana passada para discutir o empréstimo de R$ 40 milhões ao DAE e descobriu no dia da audiência que nenhum representante do governo compareceu ao debate. "Quem que vai pagar esse empréstimo se vão vender [conceder] o DAE? E para que querem os R$ 40 milhões? Precisamos mais do que nunca discutir esse assunto", criticou.
ESTELA ALMAGRO
Linha semelhante adotou a vereadora Estela Almagro (PT), que leu um manifesto do Sinserm contra a concessão ao início do discurso para depois dizer, ao rememorar a polêmica votação da concessão do esgoto, ser "óbvio que não havia um projeto de concessão do esgoto. Era desde sempre um projeto de concessão da água e do esgoto".
"Só há duas saídas, senhores vereadores. Ou a prefeita os usou e enganou a todos, ou vossas excelências foram cúmplices desse projeto maléfico, traiçoeiro, oportunista, que visa a eleição e o lucro da família. E nada além disso", mencionou.
"Agora o Tarcísio [governador] está tranquilo porque a discussão é o seguinte: você não vai levar esse acordo do esgoto se eu não conseguir incluir o meu acordo para levar a água. É um acordo financeiro, que passa pelas eleições de 2026, pelas eleições de 2028. Não sejamos ingênuos: estão assaltando a nossa cidade", afirmou a petista.
JOSÉ ROBERTO SEGALLA
José Roberto Segalla (União Brasil), por sua vez, disse que o projeto sobre eventual concessão da água - se de fato o governo levar a medida adiante - passará pela Câmara e sugeriu aos servidores do DAE que "perguntem a cada um dos vereadores desta casa como eles vão votar na hora em que aparecer isso aqui [a concessão]".
"Não deixe ficar ninguém na sombra da omissão. Cobrem. 'Vereador X, como é que você vai votar no momento em que o DAE, que é nosso, deixar de ser nosso?' Pergunte para que não tenhamos surpresa no dia da votação", observou.
EDUARDO BORGO
Eduardo Borgo (Novo), enquanto isso, disse que o governo mentiu. "A prefeita mentiu. O DAE será vendido, sobrará para Bauru uma conta de R$ 7 bilhões para a gente pagar com a [soma da] concessão do esgoto, sendo que tinha dinheiro mais que suficiente para terminar a ETE. Nossos filhos e netos irão pagar esses R$ 7 bilhões. A cidade está quebrada", afirmou.
MANÉ LOSILA
Líder do MDB na Câmara, o vereador Mané Losila defendeu que o DAE precisa focar em resolver problemas crônicos em bairros que historicamente sofrem com a escassez hídrica, a exemplo da Vila Falcão, cujos moradores sofreram sem abastecimento de água no último final de semana pelo rompimento de uma adutora.
Sobre a concessão em si, por sua vez, disse que não há nada de concreto neste momento. "Nós não temos nenhuma coisa de fato relacionada à concessão da água. Se abrir uma discussão nesse sentido, vai demorar muitos anos até se tomar uma decisão. Mas o que nós podemos resolver é alimentar aquele povo da região da Falcão, do Ouro Verde, do Solange, de toda aquela região com água. E isso está nas nossas mãos", citou.
MÁRCIO TEIXEIRA
Para o vereador Márcio Teixeira (PL), o problema é político. "O DAE teve nove presidentes nos últimos nove anos. Como que uma empresa consegue funcionar bem, sem ter falhas? O problema é político. Quem causa isso? A mãe Joana? Quem é responsável?", indagou o parlamentar.
EMPOSSADO
Primeiro suplente do MDB, Professor Sinuhe tomou posse nesta segunda-feira (28) como vereador de Bauru. Ele assume a cadeira do vereador Sandro Bussola (MDB), que se licenciou do mandato na Câmara Municipal após ter solicitado afastamento temporário e não remunerado das atividades parlamentares em razão de uma viagem a Moçambique, na África. Sinuhe tem 62 anos e recebeu 817 votos nas eleições do ano passado. É a primeira vez que ele assume um mandato como vereador.