A Unesco, agência das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura, reconheceu, em Paris, na França, no último dia 13, cânion do Peruaçu, em Minas Gerais, como Patrimônio Natural da Humanidade. O governo brasileiro finalizou o processo para indicação junto à ONU em fevereiro. O pedido envolve uma área de 38 mil hectares e equivale a mais da metade do tamanho do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no norte de Minas, onde fica o cânion.
Segundo o governo, a delimitação da área a ser declarada pela Unesco busca atender às demandas dos xakriabás, povo indígena que vive na região, por autonomia na governança da terra. Os indígenas pedem o reconhecimento do seu território, que está em processo de demarcação e se sobrepõe aos limites do parque.
Em fevereiro, representantes da aldeia Caraíbas enviaram carta à Unesco exigindo a demarcação pelo Estado brasileiro, apesar de não serem contrários à declaração como patrimônio natural.
Patrimônio Natural da Humanidade (Foto: Divulgação)
Caso a nomeação seja aprovada, o cânion do Peruaçu se juntará a outros patrimônios naturais já declarados pela Unesco no Brasil, como o pantanal, os Lençóis Maranhenses e o Parque Nacional do Iguaçu.
Para o geólogo Francisco William da Cruz, que acompanhou a candidatura ao título, o valor da paisagem local aumentou as chances da aprovação. O cânion do Peruaçu foi formado a partir do desabamento de uma caverna de 25 quilômetros de extensão, algo raro de se observar. "É uma feição pouco comum, que permite entender a formação de um cânion a partir de uma grande caverna. Isso é considerado como um processo único no mundo", diz Cruz.
A presença de pinturas rupestres em paredões com mais de dez metros de altura acrescenta importância ao lugar, destaca o geólogo.
Por isso, a proposta brasileira busca atender aos critérios de fenômeno natural excepcional e exemplo representativo de diferentes estágios da história da Terra, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
Amostras coletadas no cânion já serviram como base para pesquisas de reconstrução do clima do passado. Os estudos mostram que a região está aquecendo mais rapidamente que o restante do planeta, com cerca de 2,5ºC de aumento na temperatura desde a década de 1950. Ao longo dos dias 11, 12 e 13, o comitê da Unesco analisará pedidos de nomeação de 32 países, incluindo o Brasil. Segundo a entidade, a aprovação de um local como Patrimônio Mundial se baseia em consultas ao Conselho Internacional de Monumentos e Sítios e à União Internacional para a Conservação da Natureza, além de visitas técnicas aos locais candidatos.
Em geral, a comissão acrescenta de 25 a 30 sítios por ano na lista, e há 1.007 locais já aprovados. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) diz celebrar a nomeação do cânion como patrimônio natural. "Tal reconhecimento contribui para a preservação e valorização dos sítios arqueológicos existentes na região, caracterizados por pinturas rupestres, instrumentos de pedra e sepultamentos, que guardam importantes registros de ocupação humana de milhares de anos atrás", afirma o órgão.
Lugar mágico
O cânion abriga um conjunto de cavernas, como a Gruta do Janelão, com galerias que ultrapassam os cem metros de altura, e a Perna da Bailarina, considerada a maior estalactite do mundo. Há também 114 sítios arqueológicos e registros de ocupação humana há 12 mil anos, além de pinturas rupestres. É possível conhecer uma parte do local em um tour virtual 3D.
Turismo sustentável
A visitação ao Parque Nacional Cavernas do Peruaçu cresceu (Foto: Divulgação)
O Ministério do Turismo diz que a nomeação pode aumentar a visibilidade nacional e internacional do cânion, além de estimular a captação de investimentos, a geração de empregos e o envolvimento das comunidades locais. "O reconhecimento como Patrimônio Mundial representa um marco para o turismo sustentável na região e consolidará o compromisso do Brasil com a conservação ambiental e a valorização de seu patrimônio natural", diz, em nota.
A visitação ao Parque Nacional Cavernas do Peruaçu cresceu na última década, segundo dados do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), mas é baixa em comparação a outras unidades de conservação. Em 2015, 2.938 pessoas estiveram no parque. O número saltou para 14,6 mil visitantes em 2024.
"É um parque pouco conhecido no Brasil. Então, a nomeação vai fazer com que ele seja mais divulgado", prevê Cruz.
O que conhecer